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«A revolução não será televisionada» ou Chávez, Bush e Lula

Fuentes: Rebelión

O impressionante documentário produzido pelos irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Briain sobre o golpe contra o presidente Hugo Chávez, em abril de 2002, põe a nu toda e qualquer defesa que se possa pretender fazer dos meios de comunicação de massa em qualquer lugar do hemisfério ocidental. O padrão global, aqui no Brasil, na Venezuela, […]

O impressionante documentário produzido pelos irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Briain sobre o golpe contra o presidente Hugo Chávez, em abril de 2002, põe a nu toda e qualquer defesa que se possa pretender fazer dos meios de comunicação de massa em qualquer lugar do hemisfério ocidental.

O padrão global, aqui no Brasil, na Venezuela, nos Estados Unidos, na Argentina, na Itália, onde quer que seja, é pura farsa e se insere no contexto do embate entre os que defendem o mundo «globalitarizado» sob o tacão militar dos EUA e da OTAN (sem falar nas tropas do Lula no Haiti), aliados do deus mercado e os que, do outro lado, lutam por um mundo alternativo, outro mundo possível.

O documentário foi exibido no Brasil pela tevê Câmara, lógico quando a Globo iria mostrar um trabalho assim? Nunca. Cada vez mais fica evidente que a série de reportangens que Miriam Leitão fez na Venezuela, na semana que antecedeu ao golpe, foram preparação da opinião pública, tentando mostrar um governo desacreditado, quando desacreditadas estão as elites.

Kim Bartley e Donnacha O’Briain estavam na Venezuela trabalhando numa outra idéia, um documentário sobre o governo bolivariano, quando foram pegos de surpresa pelo golpe, no interior do Palácio Miraflores e puderam, sem qualquer espécie de edição, apenas ordenar as cenas, mostrar o instante em que a mentira televisiva, foi um golpe da televisão privada associada a generais corruptos e empresários (empresário são sempre corruptos, o adjetivo é desnecessário), enfrentado e abortado por uma espetacular reação do povo.

A cena da posse do mafioso Pedro Carmona na presidência e os instantes que antecederam a prisão de Chávez são magistrais. No instante Carmona a elite, os 256 homens e mulheres mais importantes da Venezuela, como os nossos daqui, os de Comandatuba, refestelados no poder que imaginavam seria duradouro.

No instante Chávez as pessoas do povo transitando pelo palácio no desespero da reação que, afinal, veio de militares leais e, sobretudo, do povo trabalhador.

As declarações de Carmona sobre ordem, tranqüilidade, democracia, justiça social, como fazem aqui os tucanos da vida e o povo do lado de fora, indignado, exigindo Chávez.

O silêncio das redes privadas de televisão. Como a Globo à época das diretas, falando de novelas como se a campanha não existisse. Ou Veja, satanizando lideranças populares no massacre exaustivo da velha técnica que a mentira repetida muitas vezes vira verdade.

A arrogância do procurador designado por Carmona, dissolvendo o Congresso, a Corte Suprema, revogando a Constituição e depois, encolhido e preso, assustado, num canto de uma sala do palácio. Quando Chávez volta e restabelece o princípio da vontade popular.

A imagem definitiva do assalto: o cofre do palácio aberto e esvaziado pelos defensores da tal democracia.

Ladrões, aqui, ou em qualquer lugar do mundo.

Todo o processo bolivariano tem sido feito através de consultas populares. Toda a ação oposicionista se estriba em ações golpistas, mentiras veiculadas pelos meios de comunicação privados, a ordem do terror emanado da Casa Branca.

É um documento fundamental para que as pessoas possam compreender o verdadeiro papel da imprensa podre, controlada por Washington, bancos e grandes corporações.

Creio que, em tempo algum, um documentário mostrou de forma definitiva a associação entre militares corruptos, a soldo dos EUA, empresários, banqueiros e imprensa na consecução da fraude.

Valeria exibi-lo em cada escola, em cada universidade, em cada canto de luta para se perceba que é possível enfrentar quadrilhas como as que fazem de países como o nosso um entreposto do mercado, do capital internacional.

A cumplicidade vergonhosa dos meios de comunicação com essa gente.

A verdadeira dimensão de Carmona, que tanto existe lá e se chama Pedro, como aqui e dirige bancos, vai para Comandatuba viver fim de semana de festa verde, festa vermelha, festa amarela e agora concebe um safári à África.

Pode se chamar Meireles também, ou Palocci.

Ou FHC.

Ou preferir cair de quatro e declarar, como declarou o presidente Luís Inácio Lula da Silva que «o Brasil não está em época de experimentos econômicos». Soa que vai ficar como está e está como os bancos querem. Como Washington quer.

Como a Monsanto quer.

Questão de estatura a diferença entre Lula e Chávez.

A presença dos Estados Unidos no golpe é mostrada nas declarações do porta-voz da Casa Branca. Fala em assassinato de civis por forças chavistas e o documentário mostra que os assassinos foram os golpistas. Imagens vivas, indesmentíveis. Fala em reconciliação do povo com a democracia e o povo vai às ruas e recoloca Chávez no governo.

Ironias à parte, penso que as próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos estão necessitando da presença de observadores internacionais, tal o risco de fraude, como da anterior. O processo está corrompido e viciado e Bush é apenas um projeto de fuhrer, a chefiar um IV Reich, a ameaçar o mundo com sua política terrorista.

Quem sabe Jimmy Carter e César Gaviria não vão para os EUA e checam as intimidações policiais contra negros que pretendem votar em John Kerry. Ou as urnas eletrônicas do Estado da Flórida, governado pelo irmão de Bush, Jeb, sem o voto impresso. Na Venezuela houve voto impresso, permite a recontagem e foi por ele que não se pode desmentir a legitimidade dos resultados do referendo.

O que o documentário mostra mais é que a luta é constante. É permanente.

A total falta de escrúpulos de banqueiros, empresários, grupos de comunicação, aqui ou lá, em qualquer lugar, deixa claro que essa gente não tem objetivos outros que não massacrar a classe trabalhadora e construir um império mundial de terror e barbárie sob a farsa democrática.

Mas o mais importante, o que salta aos olhos é a dimensão política do presidente venezuelano. A falta de dimensão do presidente brasileiro. O caráter terrorista do governo norte-americano.

«A Revolução não Será Televisionada» é um fantástico trabalho de dois irlandeses e a prova cabal e definitiva dos propósitos escravocratas dos donos.