O deputado Raul Pont, candidato a prefeito de Porto Alegre, foi gentil ao analisar a performance eleitoral do partido no segundo turno das eleições municipais na capital gaúcha, onde aparece, nas primeiras pesquisas, atrás de José Fogaça. Pont afirmou que as expectativas com o governo Lula se frustraram. Raul Pont foi um dos primeiros deputados […]
O deputado Raul Pont, candidato a prefeito de Porto Alegre, foi gentil ao analisar a performance eleitoral do partido no segundo turno das eleições municipais na capital gaúcha, onde aparece, nas primeiras pesquisas, atrás de José Fogaça.
Pont afirmou que as expectativas com o governo Lula se frustraram.
Raul Pont foi um dos primeiros deputados a questionar e a buscar formas de investigações sobre os serviços de telefonia privatizados no governo de FHC. Isso não interessa aos principais acionistas do Estado brasileiro, um conglomerado de banqueiros, empresários de grandes corporações, dentre elas as empresas do setor de comunicação em geral.
O volume de recursos postos à disposição da campanha de José Fogaça nem é tanto pelo candidato, mas pela imperiosa necessidade dessa gente de derrotar o PT no Rio Grande do Sul.
Banqueiros, empresários de telefonia, de energia, da indústria automobilística, latifundiários, nenhum desses diferem de criminosos como Beira-mar, exceto no fato de terem suas atividades cobertas por lei.
Porto Alegre tem um valor estratégico para os donos do País muito maior que São Paulo. Isso do ponto de vista político e neste contexto de tempo e espaço.
O candidato com suas declarações responde a um dos grandes engodos do PT, o ministro da Educação, Tarso Genro. Tarso foi prefeito de Porto Alegre duas vezes e com a cara de pau típica dos oportunistas disse que a posição difícil de Pont decorre do desgaste natural de quatro administrações do partido. As duas dele inclusive, levando em conta esse ponto de vista.
Os candidatos do PT no segundo turno nas capitais onde ocorre essa disputa têm buscado, a exceção de Marta, discutir temas municipais, temas que dizem respeito às suas cidades, levando em conta o que Pont chamou de «frustração de expectativas». O nome é outro, por isso Pont foi gentil: fracasso e estelionato eleitoral. Lula é fria em boa parte das cidades brasileiras.
É tal o bate cabeças de figuras do governo que sequer o diretor do filme, Duda Mendonça, consegue colocar ordem no roteiro, cumprir a programação e há temores justificados que a produção tenha tomado rumos de chanchada da pior qualidade.
Luiziane Lins, num feito notável, liderando contra tudo e todos, só com a base histórica do seu partido, o PT, tem sido enfática: «ajudam se não atrapalharem».
Marta deixou de lado o seu próprio governo e tenta imputar a Serra as mazelas que o País enfrenta, colando seu nome ao de FHC. O grande problema disso é que Lula não é nem um pouco diferente. Ou o governo Lula.
Existe um fator que tem sido pouco comentado ou analisado no que Pont chama de «frustração de expectativas».
O brasileiro, a maioria, votou contra o modelo neoliberal de FHC. Votou por mudanças. Percebeu que Lula não muda coisa alguma, mas não se volta, necessariamente, para o período anterior. Não é uma aceitação do estupro inevitável. Se Lula não deu certo vamos retornar a FHC. Nada disso.
É possível perceber que, cada vez mais, um número maior de cidadãos percebe o fim de um ciclo, ou de um monstrengo que começou torto, o chamado processo de redemocratização que se seguiu à ditadura militar.
Ao contrário de outros países não tivemos uma Assembléia Nacional Constituinte. Rolou um Congresso Constituinte. O presidente eleito para a transição morreu antes de tomar posse o seu mandato foi exercido pelo vice, em clara usurpação (seria de Ulisses Guimarães até que se realizassem novas eleições).
Ato contínuo, na farsa da democracia, a eleição de um fantoche dos donos, Fernando Collor de Mello, seu impeachment, a figura tragicômica de Itamar Franco e seus achaques e chiliques e o tiro certeiro da nova ordem: Fernando Henrique.
O modelo democrático vigente combina a imoralidade de políticos como Paulo Maluf, o troca troca do Congresso, com a amoralidade tucana. É permeado por espaços em que figuras menores, Lula, se imaginam portadoras da verdade.
Bush disse outro dia que sua fé é a verdadeira. Meio mundo, em termos de políticos, fala isso hoje. Millôr Fernandes afirma que o Rio de Janeiro deveria ser interditado a turistas por questão de vergonha nacional. Rosinha Garotinho, a governadora, declarou que «sou como Jesus Cristo, vim ao mundo para ajudar os necessitados e os doentes».
Não é, nem no caso de Bush, nem no da governadora, loucura. É pura sem vergonhice mesmo.
O governo de Lula vai emergir do trinta e um de outubro com o grito perdemos aqui, mas ganhamos ali. O mapa das eleições municipais mostra que o partido cresce nas cidades menores, onde os coronéis mandam, perde espaços nas cidades maiores, onde o eleitor tende a ser mais independente. Tende é preciso observar a expressão.
O bate cabeças no Planalto e adjacências, os ministérios, é o trailer da reforma que vem pela frente. Marina da Silva voltou a ter uma crise de choro quando da MP que liberou os transgênicos. Continua agarrada ao cargo em nome de sua história e do seu partido. Não percebe que a sua está sendo jogada no lixo e a do partido ficou igualzinha a qualquer PMDB da vida.
Seguros mesmos só os caras que representam os donos. Palocci e sua turma. Roberto Rodrigues e a Monsanto.
Raul Pont tem razão quando diz que as expectativas se frustraram. E talvez não tenha querido se pronunciar sobre as conseqüências, que independem de Lula, como de FHC, ou qualquer outro.
A luta institucional é uma balela. O Brasil precisa ser refeito e isso só pela via do movimento popular.
A democracia aqui é pior que farsa, é um aleijão que não mudou e nem vai mudar coisa alguma. Foi montada para ser assim.