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O caos fundamentalista

Fuentes: Rebelión

No célebre «julgamento do macaco», como ficou conhecido o processo movido contra o professor Thomas Scope, acusado de violar uma lei municipal que proibia que nas escolas públicas fosse ensinada a teoria de Charles Darwin, o advogado de defesa, Clarence Darrow, contratado pelo Sun Baltimore, que patrocinou a causa do professor, entre outras, perguntou o […]

No célebre «julgamento do macaco», como ficou conhecido o processo movido contra o professor Thomas Scope, acusado de violar uma lei municipal que proibia que nas escolas públicas fosse ensinada a teoria de Charles Darwin, o advogado de defesa, Clarence Darrow, contratado pelo Sun Baltimore, que patrocinou a causa do professor, entre outras, perguntou o seguinte a William Jennings Bryan, um bibliólatra, três vezes candidato a presidente dos Estados Unidos pelo Partido Republicano e três vezes derrotado:

«Deus criou Adão e Eva, que geraram Caim e Abel. Isso é certo?» E Bryan: «tudo o que está na bíblia é certo». «Caim matou Abel e foi para o leste onde encontrou Noá. Isso também é certo?» E Bryan: «está na bíblia, portanto, é palavra do Criador».

Darrow, que desmoralizou Bryan com suas perguntas, arrematou: «mas a bíblia não diz quem criou Noá. Terá sido um deus do leste?»

O caso ocorreu na cidade de Dayton, em 1925, no Estado do Tenessee e Darrow era considerado uma dos maiores advogados criminalistas dos Estados Unidos à época. Henry Louis Mencken, um dos grandes polemistas do jornalismo norte-americano, convenceu o jornal a apoiar a causa do professor e transformou o julgamento num embate contra o fundamentalismo cristão. O fato, à primeira vista restrito a uma cidade, ganhou repercussão nacional e virou filme de Stanley Kramer, um dos principais diretores daquele país.

O curioso é que a lei que proibia o ensino das teorias de Darwin na rede pública só foi revogada em 1967. O professor, para o qual muitos queriam a fogueira, acabou condenado a uma ridícula multa de 100 dólares, contestada na Corte Suprema por Darrow. Parcial e inclinado a condenar Scope, o tribunal acabou se rendendo a evidência que as eleições estavam próximas e os votos fugindo. Bryan morreu uma semana depois, desmoralizado e alvo de chacotas de costa a costa.

Bush é só um Bryan que percebeu que a fraude era o caminho possível e mais fácil para chegar à presidência dos Estados Unidos. O grupo do líder fundamentalista dos EUA percebeu que nada melhor para os negócios que essa conversa de fundamentalismo.

A vida perde sentido, fica fácil vender para as pessoas a idéia do paraíso, logo a morte é algo que passa a ser desejado no fanatismo inconseqüente dos milhões de puritanos made in USA.

Não vão questionar lucros e nem negociatas, desde que adotados os programas moralistas do fundamentalismo. Não ao aborto, condenação aos gays, nada de pesquisas com células tronco e vai por aí afora. A própria psicologia norte-americana é uma reinvenção. Tem o caráter de ajustamento. Se você aperta parafusos para a direita e tem um trauma quando tem que apertá-los para a esquerda, é só questão de treinamento, você é um cidadão norte-americano e não pergunta o que sua pátria faz por você, mas o que você faz por sua pátria.

João Paulo II e sua obsessão anti-comunista foi o principal responsável pelo retrocesso de setores da Igreja Católica, abrindo espaços para que as seitas evangélicas e puritanas invadissem todo o continente americano. O totalitarismo do Vaticano imposto à Teologia da Libertação foi um dos maiores desastres religiosos num momento que religião começava a ter alguma lucidez.

O atual papa foi eleito com forte apoio da igreja dos EUA, o Vaticano vivia uma crise econômico financeira grave e, nos primeiros momentos do papado, a influência do mafioso (nas horas vagas cardeal) Marcinkus, levou-o à condição de foragido da lei. Não podia sair do Vaticano, pois até na Itália existiam mandados de prisão contra ele. O dito era banqueiro.

A história do fundamentalismo coloca contra a parede com muito mais intensidade o fundamentalismo cristão ou o fundamentalismo judaico, um precisa do outro embora se odeiem, que o fundamentalismo islâmico.

Maomé foi o responsável por unir tribos árabes e dar-lhes alguma consistência. O próprio Corão não é necessariamente um livro religioso, mas um livro de poesias que, na crença muçulmana, foi ditado ao profeta por Alá. Um código de conduta.

Os cristãos foram os cruzados nas carnificinas para libertar Jerusalém. Ou os verdugos da Inquisição. Numa crônica memorável, o escritor Luís Fernando Veríssimo fala da destruição que os cristãos impuseram a regiões européias onde os mouros estiveram por séculos, ao contrário da tolerância moura. Veríssimo fala em predadores (os cristãos). Em lúcidos (os mouros).

O fundamentalismo judaico ganhou força após a segunda grande guerra. É em nome do que está escrito no Velho Testamento que matam palestinos e se apropriam de terras alheias. Tudo, lógico, a mando de Deus. Sharon é só um espertalhão que se vale dessa lógica louca e insensata para expandir e aprimorar os negócios, evidente, em parceria com George Bush.

É óbvio que bin Laden é um terrorista. Tem a mesma convicção. O terrorista que jogou um dos aviões contra o World Trade Center tinha a certeza que sairia dali para o paraíso.

Há uma história de fundamentalistas cristãos em que um piloto sai de seu avião direto para o céu. Há um acidente e o céu é a conseqüência. É muito difundida nos Estados Unidos.

Bush é só um dos lados desse triângulo. Mas o lado mais perigoso. Cruel, perverso e assassino. Terrorista na essência. O mais poderoso dentre todos os loucos que se acham enviados divinos.

O que aconteceu em Faluja ultrapassa os limites da sanidade. Uma barbárie sem tamanho. Genocídio. Corpos espalhados pelas ruas. Homens, mulheres, crianças. Pessoas presas sem culpa formada e deixadas sem alimento. Mesquitas destruídas. A imagem de um soldado do deus cristão executando um soldado do deus muçulmano (mas que lutava por sua terra invadida e ocupada e seu povo brutalizado) mostra o desprezo que o fundamentalismo tem pela vida.

É outra característica dessa doença. Quem não pensa como pensam é sub-gente. Preconceito é uma realidade.

A faixa que cidadãos do Chile carregavam num protesto contra a presença do terrorista norte-americano em seu país, «Resista Faluja» pode ser tomada como exemplo da resistência a essa estupidez. Um sentido e uma direção de vida.

E a direita cristã e democrática já começou a matar na Venezuela. Como perdeu sucessivas eleições e referendos, deixou de lado a máscara e explodiu o carro onde viajava o fiscal (promotor) que investigava o golpe fracassado contra o governo Chávez.

São os negócios, principal instrumento do fundamentalismo cristão, o mercado, regulando e disciplinando seus interesses. A vida nesse contexto é só um detalhe. O que conta são os balanços. A vida dos outros, a deles não.

Uma forma de tentar deslocar o eixo da luta de classes, real, para o dilema ou o inferno, ou o paraíso.

Noutra medida, como dizia Fernando Pessoa: «navegar é preciso, viver não é preciso». Por paradoxal que pareça, um verso hino e hino à vida.

Foi por isso que o Superman teve que mudar a história duas vezes. Uma para devolver a vida a Lois Lane. Outra para devolver a pureza simbolizada na virgindade, do contrário se tornaria um humano comum e perderia seus poderes.

A tarefa dessa mistura cristã pagã é a de defender os negócios, assegurar como imaculada a propriedade privada. Dane-se o resto.

O mundo de Bush é o mundo dos insanos. Só que nele não rasgam dinheiro, pelo contrário. Guardam, saqueiam, tomam, matam, tudo em nome da moral, e do grande império norte-americano.

«Choque e pavor» é o nome disso e aplicado a toda a humanidade.