Lula convocou uma reunião de ministros e setores do seu partido, o PT, para dezembro. O presidente não teria gostado das críticas ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci, na reunião do diretório nacional do partido no último fim de semana. Há indicativos claros que Lula teria se irritado com os discurso de Marta Suplicy (responsabilizou […]
Lula convocou uma reunião de ministros e setores do seu partido, o PT, para dezembro. O presidente não teria gostado das críticas ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci, na reunião do diretório nacional do partido no último fim de semana.
Há indicativos claros que Lula teria se irritado com os discurso de Marta Suplicy (responsabilizou a política econômica por sua derrota) e o de Raul Pont, candidato também derrotado, este em Porto Alegre. E mais ainda, irritado, com a convocação feita ao ministro da Fazenda para prestar esclarecimentos sobre condução da economia.
Já existem reações dentro do PT à cessão de mais um Ministério ao PMDB. O deputado federal Tarcísio Zimermman, do Rio Grande do Sul, questiona o pacote a ser fechado com o partido de Sarney e no que ele implica: apoio a governos estaduais, no caso o do Paraná e o de Santa Catarina, com prejuízo das posições dos diretórios petistas nesses respectivos estados.
A eterna mania de conduzir a política por cima, em função de interesses estritos do grupo do Planalto e de olho na reeleição em 2006, a essa altura do campeonato, no estilo FHC: a qualquer preço.
Outro que desagradou a Lula foi Olívio Dutra, ministro das Cidades e ex-governador gaúcho. Olívio criticou a condução da economia.
A reação do presidente indica que Lula continua a se acreditar acima do bem e do mal, condutor do PT e dos brasileiros à terra prometida. E com o viés paulista que caracteriza a maioria do diretório nacional do seu partido (a reunião foi em São Paulo inclusive).
Não aprendeu nada com a derrota nas eleições municipais e esgrime com números de uma matemática própria, peculiar, aquela em que perdedores viram vencedores em fórmulas mágicas. O PT cresceu de fato em número de prefeituras, diminuiu em número de eleitores governados.
O governo e o presidente insistem nos chamados avanços obtidos ao longo desses quase dois anos. Quais?
Os programas sociais fazem água tamanha a desorganização. O Fome Zero virou motivo de chacota nacional. O aumento da oferta de emprego neste mês é comemorada como se fosse conseqüência da política econômica e não das características do final de ano, quando comércio e indústria empregam mais, empregos sazonais, por conta do natal.
Há, claro, alguns avanços. Mas nos adereços. O principal continua em mãos de banqueiros e o governo já anuncia a retomada do processo de privatizações. Trechos de ferrovias estatais vão a leilão e rodovias serão entregues a empresas privadas para administração e exploração do serviço de pedágio.
Carlos Lessa caiu, entre outras razões, por optar por um modelo nacional, em detrimento dos interesses do sistema financeiro e das multinacionais. Caiu por pressão. Pelos acertos.
A reforma agrária é um fracasso total e absoluto. O governo nem consegue cumprir metas mínimas, como se vê presa do latifúndio. O ministro da Agricultura é de extrema-direita.
A reação de Lula a críticas mostra que o presidente já fez sua opção. Permanece a política econômica, logo, Palocci e Meireles. Permanecem os ministros Furlan (tucano) e Roberto Rodrigues (latifúndio/Monsanto).
Tarcísio Zimermman afirma que a posição do Planalto não pode e nem é a posição do PT. A frase serve para tentar salvar o partido da marcha batida para o neoliberalismo sem disfarces.
Mas só para tentar. Nem adia o final do filme: Lula se atirando aos braços dos partidos de centro e de direita e emergindo das águas da Lagoa Paranoá cercado de banqueiros e executivos de grandes conglomerados nacionais.
E um grande letreiro luminoso: 2006.
Com toda certeza não vai demorar muito e vira enredo de escola de samba.
A idéia que o presidente pudesse ter feito melhor avaliação do quadro político e fosse tentar um reencontro com as bases partidárias naufraga a olhos vistos. Dentro do PT o que se faz é buscar acordos, alianças, etc, no melhor estilo de qualquer partido conservador, fisiológico, para assegurar cargos, posições, o de sempre, com vistas às eleições internas do próximo ano.
A reforma ministerial vai manter o principal nas mãos da direita e os adereços para a esquerda que ainda se dispuser a arcar com a responsabilidade de um projeto confuso, cada vez mais próximo do fracasso (do ponto de vista da própria esquerda).
Foi César Benjamin quem definiu essa forma de enxergar o governo Lula, antes mesmo da posse. Em dezembro de 2002. «o principal para a direita, os adereços para a esquerda».
É hora das forças populares procurarem caminhos outros pois o governo de Lula não tem volta e o presidente é só um deslumbrado, às voltas com a fantasia do poder.
Se acredita acima de críticas. Se imagina e exige que seja visto assim (quando reclama de cobranças), algo como um messias.
O que vai mudar a história da humanidade.
Enquanto isso o latifúndio mata, espalha a praga dos transgênicos pelo País inteiro e permanece impune.
Os bancos apresentam lucros imorais (ou amorais), o Brasil, cada vez mais, toma a cara e as características de entreposto do capital estrangeiro. Como aqueles postos de diligências da Wells Fargo, no velho Oeste, bem ao gosto de Bush (aliás o preferido do Planalto). Onde Búfalo Bill, William Bil Cody, trocava os cavalos cansados por outros descansados, matava a fome e saciava a sede.
Como disse o coordenador do MST. João Pedro Stédille falta um projeto «para o Brasil».
A impressão que fica é que Celso Furtado, sábio e brilhante, resolveu sair de cena quando percebeu que o rubor das faces era inevitável diante do governo Lula. Um dos grandes equívocos das forças populares.