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A tragédia na Ásia e os meios de comunicação

Fuentes: Rebelión

A disputa maior é pelas imagens, via de regra de cinegrafistas amadores, mais dramáticas. E com um único sentido: provocar comoção sem maiores conseqüências. Estão valendo ouro imagens feitas eventualmente por pessoas que logo em seguida tenham sido tragadas pelas tsunânmis. Alguns apresentadores de telejornais babam quando dizem que o cinegrafista morreu minutos depois. Filmaram […]

A disputa maior é pelas imagens, via de regra de cinegrafistas amadores, mais dramáticas. E com um único sentido: provocar comoção sem maiores conseqüências.

Estão valendo ouro imagens feitas eventualmente por pessoas que logo em seguida tenham sido tragadas pelas tsunânmis. Alguns apresentadores de telejornais babam quando dizem que o cinegrafista morreu minutos depois. Filmaram a própria morte.

A tragédia que se abateu sobre vários países asiáticos está virando o show do imperialismo norte-americano. O vamos reconstruir tudo, acertar tudo, mostrar ao mundo que Bush é de fato o homem de Deus. Onde houver desolação as empresas dos EUA chegam com hambúrgueres e coca cola.

Por detrás desse cinismo, coroado com a proposta do chanceler alemão, a de que cada país deve adotar órfãos, o extraordinário movimento, esse espontâneo, de pessoas e algumas organizações internacionais no sentido da ajuda, à revelia de governos.

E ainda assim sujeitas a terem que explicar na televisão que estão doando horas de seus dias para as vítimas. Isso implica, logo em seguida, na exaltação do espírito de solidariedade e dos valores cristãos e ocidentais.

Já existem denúncias de desvio de dinheiro enviado aos países afetados. Políticos, óbvio, no clássico vinte por cento. O percentual está incorporado aos costumes e tradições em qualquer lugar do mundo capitalista.

Os meios de comunicação falam em estupros, roubos em hotéis de luxo destruídos, saques, anunciam a chegada de policiais de todas as partes do mundo para manter a ordem.

As tsunâmis salvaram o noticiário de fim de ano, quase sempre restrito a festas natalinas, árvores de natal, reveillons, estradas lotadas de turistas e um minuto de silêncio em cada acontecimento em memória das vítimas.

Vamos cair na farra, vamos mas, antes, um minuto de silêncio.

A sede de caridade de Bush, quase uma semana depois, me lembra os grandes safáris numa época em que existiam animais selvagens na África e os caçadores eram chamados de bwana. Traziam cigarros, chicletes e umas comidas diferentes em latas coloridas.

Hoje no politicamente correto, no intervalo do show dos telejornais, os caçadores substituíram os rifles por máquinas de retratos. Captam flagrantes dos tigres, espécie em extinção para mostrar o estilo de vida de determinada marca de uísque.

O anúncio que as tsunâmis podem se repetir e causar milhares de novas mortes é feito em tom grave, assustado e ao mesmo tempo ameaçador. Precede o especialista que vem no bloco seguinte explicar porque o fenômeno pode acontecer de novo.

O pior fica por conta das explicações que aqui não temos essas ameaças, estamos livres de fatos dantescos como as ondas gigantes, mas um vendaval no Estado de Santa Catarina é noticiado como se de repente as tsunâmis estivessem vindo ao nosso encontro.

Em todo caso Deus é brasileiro e segura as pontas, no meio do caminho desvia o terror em forma de água.

É o que sugerem, somos um povo abençoado.

Só 27% dos brasileiros aprovam a conduta dos deputados e senadores. O resto não acredita na turma do é dando que se recebe.

Serra toma posse e da cadeira de prefeito avisa que vai ter que mudar algumas expectativas, promessas, pois a realidade é outra.

Lula, através de ministros e acólitos, manda recado para deputados da base que não votarem em Greenhalgh para a presidência da Câmara: vão ficar a pão e água.

Há sérias desconfianças que o ministro José Dirceu seja masoquista. Só toma chicotada no governo e permanece impávido, como se não fosse com ele, como se fosse ele o primeiro-ministro que sempre sugeriu ser.

O ano de 2005 é o ano da campanha nacional contra a ALCA. Os episódios da reunião dos países do MERCOSUL em Ouro Preto, no final do ano passado, servem como demonstração do apetite de alguns governos para caírem de quatro nos tapetes que estão estendendo ao capital internacional.

Não houve registro das manifestações contrárias nos meios de comunicação. Não morreu ninguém, as manifestações foram pacíficas. Só não foram pacíficos os policiais encarregados de zelar pela democracia, a ordem e os bons costumes. O velho estilo onde ficar difícil identificar quem são os cães raivosos.

Em tempos de 150 mil mortos na Ásia, bala perdida no Rio virou adereço do noticiário televisivo, até porque, além do Big Brother está chegando o carnaval e é preciso fazer com que as pessoas decorem as letras e saibam cantar as músicas das escolas de samba.

O mundo capitalista é uma festa. Um espetáculo depois do outro. E o coreógrafo maior é um boçal, Bush. Os diretores estão refestelados na caridade e na decisão de reconstruir o que quer que seja destruído. Gasta-se uma nota em cenários irreais e a conta vem para a turma de baixo.

Um acidente natural, como gostam de dizer, por ano, garantindo pelo menos uns 50 mil mortos, salva a turma toda.