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A democracia representativa, o poder real e antídoto

Fuentes: Rebelión

Um país que começa a sair do engano, deve mobilizar-se e reclamar junto à imprensa e aos jornalistas livres a possibilidade de conhecer toda a verdade e ter acesso às tribunas da comunicação social para reclamar seus anseios irrenunciáveis: a justiça, a igualdade oportunidades e a democracia PARTICIPATIVA Juan Pablo Cárdenas Jornalista e diretor da […]

Um país que começa a sair do engano, deve mobilizar-se e reclamar junto à imprensa e aos jornalistas livres a possibilidade de conhecer toda a verdade e ter acesso às tribunas da comunicação social para reclamar seus anseios irrenunciáveis: a justiça, a igualdade oportunidades e a democracia PARTICIPATIVA
Juan Pablo Cárdenas Jornalista e diretor da Rádio Universidad de Chile

A democracia é classificada como um sistema político onde o governo é do povo, pelo povo e para o povo. Assim o afirmam os teóricos, as enciclopédias e pior: os ingênuos.

Um eleitor pode eleger seus governantes ou trocá-los a cada quatro anos. Assim, acredita estar participando do processo democrático. Entretanto, ao aprofundar a análise, surge a pergunta: qual é mesmo o efeito real de um voto? Em que seu voto influi na única e real força que domina o planeta: o poder econômico?

Falamos de democracia – da representativa – como se eleitores e cidadãos fôssemos um organismo vivo e atuante, embora «representados». Um paradoxo. Na verdade – e não passa disso – ela, a democracia representativa, não é nada mais que um conjunto de normas ritualísticas, de passos consolidados a ferro e fogo e gestos pautados por regras definidas por uma oligarquia, sempre em detrimento das justas aspirações populares. Com o gentil patrocínio dos meios de comunicação.

Fingimos – ou não queremos ver – que governos estão se tornando meros comissários políticos do poder econômico, com a missão primeira e objetiva de se perpetuar, produzindo leis, normas e caminhos que convenham a eles mesmo (ao poder) e dedicados a despejar falácias publicitárias que visam impedir protestos e reivindicações.

Essa democracia – que se diz pelo povo – , nos reduz, inexoravelmente, à condição de consumidores e contribuintes jamais cidadãos, ao contrário da cantilena da «cidadania» e de outras fábulas. Essa democracia faz crer que votar a cada quatro anos torna o contribuinte ou consumidor responsável pelos rumos do país, quando na verdade os rumos são definidos pelos interesses do capital em palácios ou em sedes de grandes grupos econômicos.

O governo é «do povo, pelo povo e para o povo»? Se não o é, então paremos de acreditar que vivemos sob uma democracia. Ao menos numa democracia clássica. Discutamos, portanto, um novo conceito de democracia: a bancária, dos mercados e de seus agentes.

Como mudar?

Mudanças estruturais só são possíveis de se realizar quando vêm de baixo, desde as organizações populares não vinculadas a partidos, organizações institucionais ou aos velhos sistemas que queremos enterrar. A necessidade é, portanto, criar as condições objetivas e subjetivas que permitam mudar a correlação das forças reais.

A população brasileira, em sua maior parte, vive na pobreza e na marginalidade. A distribuição de renda – item jamais contemplado por governo algum – só será atingida ferindo-se seriamente os interesses da acumulação capitalista.

Não há nenhuma possibilidade de intervenção na vida política e social, nas relações entre Estados e no poder econômico e financeiro mundial através da participação com a qual nos contemplam e permitem. As instituições estabeleceram uma sociedade hierárquica e autoritária, organizada de cima para baixo, que nos faz aprender, desde muito cedo, a acreditar que essa é a única e natural forma de convivência e que não há outra alternativa possível.

As forças de «convencimento» – sejam armadas, judiciais ou simplesmente aquelas utilizadas pelos meios de comunicação através de estupidificação da população – estarão sempre preparadas para se evitar que nada saia dos limites estabelecidos pela lógica do lucro capitalista e que a ordem necessária para guardar a disciplina social seja mantida.

A velha esquerda institucional, dogmatizada e antiquada, adere à velha teoria de convocação das massas e trazê-las à ordem social, à força se necessário, seja através do conto das eleições ou da tropa de choque. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o fato de a esquerda estar se dividindo como vem fazendo no Brasil e nos países vizinhos, é um ponto positivo e representa um avanço.

No Brasil, a energia revolucionária das massas se vê, de repente, seriamente decepcionada com as atitudes social-democratas do governo PT e as reformas neoliberais ordenadas pelo FMI e pela banca internacional. Agora, ela se aglutina em grupos populares com novas idéias, com novas estratégias de luta social, que entendem que há muitos outros caminhos a serem experimentados. Já a esquerda tradicional segue unida sob a aliança partidária, unida a reformistas e organismos institucionalizados. Esses personagens classificam os primeiros – as forças realmente populares – como «esquerdistas raivosos» (Frei Betto).

A percepção que cresce nas camadas populares, cada vez mais marginalizadas, nos dá conta de que a eleição de A ou B não mais representa nenhuma mudança, mas sim a manutenção do sistema de acumulação e marginalização. Essa percepção é algo positivo no processo de tomada de consciência e se refletirá nas próximas eleições, quando o descrédito nas instituições partidárias deverá ser representado pelo grande número de votos nulos e de protesto.

Nossos povos percebem, finalmente, que a falta de atuação autônoma, independente e autogestionária os fazem, inexoravelmente, agentes do sistema que nos domina. Isso é bom. Muito bom.