O estrago está feito. O governo Lula mostrou toda o seu poder no fisiologismo que marcou a aprovação da MP que fixou o salário mínimo em 260 reais. Nada diferente do que fez FHC durante oito anos. Há indícios que o ministro chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, queira voltar à Câmara dos Deputados. Teria […]
O estrago está feito. O governo Lula mostrou toda o seu poder no fisiologismo que marcou a aprovação da MP que fixou o salário mínimo em 260 reais. Nada diferente do que fez FHC durante oito anos.
Há indícios que o ministro chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, queira voltar à Câmara dos Deputados. Teria chegado à conclusão que o grupo de Antônio Palocci venceu a batalha e os rumos da política econômica vão continuar os mesmos. Agora, no próximo ano e no ano de 2006, quando Lula vai tentar a reeleição.
É pouco provável que o presidente não consiga um segundo mandato. Só um grave acidente de percurso evita a reeleição. Ganhar eleições hoje não significa estar ou não fazendo um bom governo, cumprindo promessas, mudando alguma coisa, nada disso.
É como vender sabão em pó. Uns, supostamente, lavam mais branco, outros menos. FHC, em 1998 foi reeleito com menos de um terço dos votos do eleitorado. Sem legitimidade alguma. Mas foi e governou mais quatro anos.
A farsa eleitoral se presta à continuidade do modelo político, econômico e mal disfarça a perversidade do quadro social. Uma bolsa escola ali, outra aqui e pronto.
O fracasso de Lula, sem volta, determina também o fim das instituições políticas como estão estruturadas. Foi enojante o espetáculo da votação do salário mínimo. Deputados de direita defendendo trabalhadores, deputados da esquerda lulista arrochando salários.
Brincadeira de oposição e situação, jogo combinado, mas caro ao trabalhador brasileiro.
A constituição de 88 é uma colcha de retalhos, tamanhas as barbaridades perpetradas pelo estado neoliberal. Ministros de tribunais superiores se queixam que nunca houve tanta pressão por decisões que ferem direitos conquistados às duras penas, no tempo que Lula estava do outro lado.
A impressão que o presidente causa é que alguém perguntou que pé ele leva à frente quando começa a caminhar e olhando para os dois pés, além de não ter sabido responder, tropeçou, caiu e não está sabendo como levantar. Ou não quer.
Rendeu-se ao que ele mesmo chamou de herança maldita.
O ano de 2004 é decisivo no contexto latino-americano.
O controle do governo dos Estados Unidos por uma organização terrorista, a de Bush/Chaney, pode levar a situações de conflitos na região, capazes de sepultar perspectivas de mudanças em curta prazo.
Falo da crescente intervenção militar na Colômbia sob o governo títere de Álvaro Uribe. Na ação golpista contra o presidente Chávez na Venezuela. Na obsessão em destruir a revolução cubana. Nas bases militares espalhadas em vários países, bases dos EUA. Na gradativa ocupação da Amazônia brasileira por ONGs e seitas religiosas ligadas a empresas internacionais e ao governo norte-americano.
É impensável que um governo do PT participe de um processo que legitima um mal disfarçado golpe de estado no Haiti.
A idéia de disputar o governo por dentro me parece equivocada. Na melhor das hipóteses esgotada. A demonstração de força na votação da MP do salário mínimo mostrou que Lula e sua turma vão manter o controle da máquina partidária.
Esperar até 2005, quando acontecem as eleições internas no PT, me soa como adiar o inevitável. Jogar para a frente um problema e perder um ano acreditando em história da Carochinha.
Os quadros do PT, os ligados as forças majoritárias, a chamada Unidade na Lula, ou o universo de tendências estaduais, regionais, acoplado ao poder e instalados em cargos diversos, só fazem repetir situações já vistas em várias épocas e responsáveis pela derrota das forças populares.
A perplexidade das esquerdas é mais ou menos como a do time que podendo perder de oito, perde de nove e não acredita. Senta em campo, olha o placar, torna a olhar e quando percebe que o resultado é aquele mesmo, é que compreende também o tamanho da derrota.
A questão transcende a Lula, na medida que Lula se mostrou um erro.
Não pode ficar adstrita a um partido imerso em disputas estéreis, numa partida que todos sabem de antemão o resultado.
E, muito menos, pode limitar-se ao campo da institucionalidade.
O dilema aí é Lula continuar ou FHC voltar.
A democracia, na forma praticada entre nós, é uma falácia. Instrumento de dominação das elites.
E Lula já aprendeu os truques do jogo.
O governo e o PT são perda de tempo.