As críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à política externa do governo Lula foram feitas dentro de um contexto do qual fazem parte tucanos, os ministros Luís Fernando Furlan e Roberto Rodrigues de forma direta, latifundiários envolvidos nos agro-negócios e, de forma indireta, por se beneficiarem dela, o ministro da Fazenda Antônio Palocci e o […]
As críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à política externa do governo Lula foram feitas dentro de um contexto do qual fazem parte tucanos, os ministros Luís Fernando Furlan e Roberto Rodrigues de forma direta, latifundiários envolvidos nos agro-negócios e, de forma indireta, por se beneficiarem dela, o ministro da Fazenda Antônio Palocci e o presidente do Banco Central, o norte-americano Henrique Meirelles.
FHC só fez trazer a público a acusação de «falta de agressividade».
A determinação de aprofundar o fosso pelo qual Lula vem escorregando (e gostando). A armadilha que o ex-presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) Carlos Lessa denunciou quando deixou o cargo: «a elite engana Lula».
Celso Amorim e particularmente o Secretário Geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, são óbices a toda a composição neoliberal e que pretendem fazer tocada e completada ainda no segundo mandato de Bush.
Quer dizer ALCA.
Quer dizer agro-negócios que, por sua vez, querem dizer transgênicos.
Quer dizer abertura para ações terroristas mais ousadas na Venezuela. Rapidez no loteamento e privatização da Amazônia. Maior envolvimento do Brasil na invasão e ocupação do Haiti e proximidade com a ditadura de Álvaro Uribe, na Colômbia.
A força de ministros tucanos no governo é impressionante. Luís Fernando Furlan e Roberto Rodrigues (Comércio, Indústria e Desenvolvimento e Agricultura, respectivamente) ainda que não integrem o grupo Palocci/Meireles, agem em conjunto com a área econômica e apressam soluções do seu interesse em tempos de reforma ministerial.
FHC falou para dentro. Para os principais acionistas do Estado brasileiro, dentro da estratégia de aprisionar, cada vez mais, o presidente às elites referidas pelo professor Carlos Lessa.
Há inclusive sinais de reordenamento da participação acionária no Brasil S/A. O sistema financeiro continua majoritário, mas a Monsanto ganha lugar de destaque entre as corporações que detêm fatias da «empresa».
O acordo com o PMDB é outro exemplo de capitulação. Que parece estar sendo deliciosa a julgar pelo comportamento do presidente. Além de maior participação da agência (o PMDB é a maior agencia de fisiologismo político do País), alguns ministros estão sendo alvo de críticas.
As mais contundentes são contra Olívio Dutra. O ex-governador do Rio Grande do Sul caiu na armadilha, essa uma outra, de Lula. Aceitou um Ministério criado para contemplar quadros do partido, mas sem recursos e boicotado por todos os lados. Olívio produziu um dos mais significativos programas para o governo, o das Cidades. Contraria interesses de cartórios estaduais e municipais.
As reclamações feitas contra o ministro partem do PMDB do Rio Grande do Sul (controlado pelo latifúndio). Temem que o ex-governador possa disputar, com êxito, contra o fantoche que ocupa o Palácio Piratini, Germano Righotto (se mandarem que ele conjugue o alfabeto tropeça no «c» , engasga no «d» e fica mudo no «e»). Querem Olívio longe de qualquer cargo ou posição que represente visibilidade política, ou chances de atuação no seu estado, o que resta sendo ameaça aos «negócios».
Há todo um cerco montado ao governo e há uma incompetência generalizada para percebê-lo.
Lula e seu grupo não atentaram para um fato simples, dito «n» vezes ao longo tanto da campanha de 2002, quanto dos quase dois anos de presidência. Elites preferem os originais e ele é apenas uma cópia. Ou tentativa de cópia.
Como qualquer trabalhador, não importa que seja metido a besta ou faça o jogo do patrão. Num determinado momento vai ser chutado e aí vai estar no bagaço.
Não enxerga em seu próprio mundo, ao seu redor, a ação de figuras comprometidas com o esquema tucano e tudo o que ele significa. Esquema tucano não significa apenas o PSDB. É tudo o que gravita ao redor de bancos, grandes corporações, Monsanto, agro-negócios, assassinato de trabalhadores em terra. O PSDB é só um braço político e se destaca por ser o mais eficiente na análise dos donos.
A impressão que o governo Lula causa, cada dia maior, é que deseja esse lugar. O lugar do PSDB. PT e tucanos são hoje dois partidos iguais a disputar o mesmo espaço. E a desejarem os mesmos palácios.
A verdade é que Carlos Lessa foi gentil com Lula. A «elite não engana Lula». A elite está devorando Lula.