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A enrascada de Meireles

Fuentes: Rebelión

O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meireles, ex-presidente do Bank of Boston, nascido no Brasil e cidadão norte-americano por opção, vai ter que explicar à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, as mágicas patrimoniais de pessoa física Meireles, da pessoa jurídica Meireles, uma trapalhada para colocar qualquer governo em sérias dificuldades. Henrique […]

O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meireles, ex-presidente do Bank of Boston, nascido no Brasil e cidadão norte-americano por opção, vai ter que explicar à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, as mágicas patrimoniais de pessoa física Meireles, da pessoa jurídica Meireles, uma trapalhada para colocar qualquer governo em sérias dificuldades.

Henrique Meireles saiu do Bank of Boston para ser candidato a deputado federal em Goiás. Fez a mais cara campanha eleitoral que se tem notícia na história do Estado, até porque ninguém o conhecia, só fez nascer ali, tudo no partido de Fernando Henrique Cardoso, o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).

Convidado por Lula para a presidência do Banco Central renunciou, como exige a lei, ao mandato em troca da garantia de permanência na instituição por quatro anos, tempo do mandato do presidente petista. O perfil do presidente do BC brasileiro foi traçado em julho de 2002, logo após o encontro de Lula com FHC, quando o então candidato da oposição subscreveu o acordo que estava sendo feito com o FMI.

O nome de Henrique Meireles apareceu depois de vários convites a outros especialistas e todos recusados. Por sugestão discreta, como convém, de instituições financeiras internacionais. No Brasil esse negócio de sigla, vale muito pouco o fato de pertencer a um partido nominalmente social democrata, que praticou o neoliberalismo por oito anos, virar petista de carteirinha era a coisa mais fácil do mundo. O que conta na vida pública aqui, de um modo geral, é estar.

O ser pouco importa. É irrelevante. Tem latifundiário no Ministério, candidato a prefeito filiado a UDR (União Democrática Ruralista), o próprio governo é uma miscelânea sem tamanho, abriga as mais variadas forças sob a proteção e a bênção do ungido para levar o povo e o Brasil à terra prometida.

E pelo que se vê, vai equilibrando na corda bamba. Escorrega aqui, dá um susto ali, mas vai.

Lula sugeriu a Meireles, em conversa com o dito, que fosse ao Senado explicar as transações trazidas a lume por duas das maiores revistas semanais do Brasil, «VEJA» e «ISTO É». Meireles ficou em silêncio, não conversou com jornalistas, mas agora não tem escapatória. Vai ser convocado, oficialmente, logo vai ter que ir.

O presidente se declarou satisfeito com as explicações do americano. Acha que nada foi feito fora da lei. Essa questão ser ético ou não, Lula já nem faz idéia do que seja mais.

O interessante no episódio, no entanto, é o por quê? Por quê as duas revistas resolveram trazer a público denúncias contra Henrique Meireles? Meireles é do esquema. Foi indicado por gente graúda do esquema. Cumpre à risca as determinações do esquema. Tem respaldo internacional do esquema. Por quê?

Tirando fora a histeria do senador Artur Virgílio, leão de chácara do tucanato no Senado, uma espécie de touro velho que, já não mais prestando para a reprodução fica a dar chifradas a torto e a direito para mostrar que ainda tem força, é complicado, como afirmam alguns, dizer que o dedo do ministro José Dirceu está por trás dessa confusão toda. A impressão que isso tipo de denúncia causa é querem achar logo um bode expiatório. Dirceu é o preferido em onze de dez confusões do governo, é o óbvio. O mordomo da novela.

Bem mais: atribuir ao próprio governo as confusões que volta e meia explodem e colocam Lula e sua turma na defensiva.

José Dirceu quer, todos sabem, liquidar com Palocci, com Meireles, com Furlan, com Roberto Rodrigues, com Gushiken, com Aldo Rebelo, mas, não iria atrás nem de «VEJA» e nem de «ISTO É». E nem tem cacife junto a essas duas revistas para promover esse tipo de estrago.

É briga da banca. Os principais acionistas do Estado brasileiro começam a se desentender. A proximidade das eleições municipais e, em seguida, o round decisivo, o que vai ser lutado em 2006, traz à tona apetites incomensuráveis. O BANCO ITÁU, segundo maior banco privado do País anunciou um lucro maior que o do BRADESCO.

São os grandes beneficiários do esquemão tucano que permanece no governo de Lula.

A disputa entre empresas, vide o caso Kroll, por fatias do mercado antes sob controle do Estado, se dá num plano em que a única ética válida é a de furar os olhos do concorrente o mais rápido possível. Vale tudo, até meter mãe no meio, coisa que em tempos idos mesmo o mercado rejeitava.

Meireles é vítima de fogo amigo sim, como pretendem alguns. Mas fogo dos amigos da banca, dos grandes negócios.

Uma trapalhada a mais no governo que era para mudar e não muda coisa alguma. Episódios como esse, envolvendo o presidente do BC, eram típicos do governo FHC. São regra geral no governo Lula.

E só existem naquilo que César Benjamin, com notável propriedade, chamou de «principal». «O principal para a direita, os adereços para a esquerda».

Henrique Meireles resiste a todas as pressões. A GLOBO, porta-voz mais qualificado do governo Lula, já está tentando apagar o incêndio e a colunista Miriam Leitão, maior expoente do neoliberalismo na empresa, foi chamada a entrevistar o dito presidente do BC e a se declarar, tanto quanto o presidente, satisfeita com as explicações da figura.

Se Meireles cair e junto com ele querem a cabeça do presidente do Banco do Brasil, que também foi do Bank of Boston, contratado no período do ex-tucano à frente da organização, vai entender que a lógica do capitalismo é essa: virou problema? Liquida.

Como Lula vai se arranjar se isso acontecer, não sei.

Mas que tudo isso é conseqüência do acesso de irresponsabilidade neoliberal do presidente petista, lá isso é.

Meireles é só uma peça nessa engrenagem sórdida.

E vale lembrar um conselho de Roberto Campos, pioneiro nesse negócio de neoliberalismo, a Paulo Serra Maluf, em 1984, quando o paulista era candidato a presidente, nas eleições indiretas, contra Tancredo Neves. Maluf perguntou a Campos se valia a pena investir 100 milhões de dólares para alcançar a presidência da República. Roberto Campos disse que sim, pois no barato, quatro anos no Planalto significariam um ganho de um bilhão de dólares. Nenhuma aplicação rende tanto.

Não é o caso de Lula, não mete a mão no bolso de ninguém, só não tem idéia de nada a não ser acreditar que pode andar sobre as águas do Paranoá. Mas é o caso dos desafetos de Meireles. O que se disputa é isso e por isso que o presidente do BC está indo para o brejo.