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A «grande» vitória das urnas

Fuentes: Rebelión

Perdemos essa eleição. Refiro-me a uma imensa parcela da população que ou é excluída, ou que, remediada, luta contra exclusão no país. Sim, se falasse de Bush estaria me referindo a todos os seres vivos do planeta. Mas o tema do momento não é política, são as eleições. Período em que interesse social e plataforma […]

Perdemos essa eleição. Refiro-me a uma imensa parcela da população que ou é excluída, ou que, remediada, luta contra exclusão no país. Sim, se falasse de Bush estaria me referindo a todos os seres vivos do planeta.

Mas o tema do momento não é política, são as eleições. Período em que interesse social e plataforma política apresentam-se imiscíveis, talvez inconciliáveis.

Falemos, pois, da alegoria eleitoral, enquanto ainda está em voga. Diz-se que há uma vitória da democracia. Na melhor das hipóteses desse simulacro que se exercita no Brasil à guisa de representação política da sociedade. No âmbito formal, pode-se dizer que cada pleito consolida o que, na democracia burguesa é sempre passível de ser revogado.

O país dá um passo à direita por erro induzido. Mesmo que num surto otimista, alguns digam que uma vitória expressiva do PT em inúmeras cidades possibilita uma predisposição à radicalidade, caso o parangolé capitalista do PT não alcance os resultados pretendidos. Estes, aliás, vertiginosamente esotéricos.

Essa tese, temerária e delirante, já esbarra prontamente numa característica central dessa vitória cujo espasmo principal e sintomático em São Paulo é reconhecido pela própria direção do partido: A histórica e aguerrida militância petista foi substituída pelo «staff» mercenário típico do marquetismo». E mais, a campanha do PT certamente colaborou com os programas assistenciais do partido. Os inempregáveis de FHC tornaram-se trabalhadores precarizados do período eleitoral.

A substituição ocorre de forma dialética, de um lado inúmeros militantes deixaram de acreditar ou acreditam menos. De outro, «martetes», «petetes», interessam muito melhor aos marqueteiros do que militantes e simpatizantes, que afinal, faziam política e não apenas marketing. Confirmando que eleição está na esfera do mercadismo, não da política. Afinal, quem quer que tenha perdido, os marqueteiros todos ganharam. Mesmo os que perderam algo do que ganharam em certames galináceos.

O primeiro muro contra o qual tromba o otimismo, portanto, reside no fato de que o PT dinamitou inapelavelmente sua militância e a transformou num fenômeno eleitoral efêmero, em termos de Brasil.

Decorrência natural do amortecimento democrático e centralização burocrática da política partidária. Até nas desculpas pela derrota em Sampa o PT está rigorosamente afinado com a histórica cantilena pequeno burguesa brasileira. A verdade e os fatos nem sequer são tangenciados pelas desculpas retóricas pré-estabelecidas, também convenientemente, pelos assessores e mercadólogos de plantão. O mesmo script de qualquer oligarquia ordinária quando perde. O que até ontem era um imperativo categórico (a continuidade de um mandato) desce ao nível de uma corriqueira alternância no poder, uma virtude democrática, portanto. Os enormes riscos de não continuidade evanescem tão voláteis quantos os «jingles» de campanha. E essas pessoas ainda conseguem dormir à noite!

Mas o que derradeiramente derrotará o otimismo empedernido dos últimos petistas descende do que realmente aconteceu, não nas urnas, mas no decorrer das campanhas:

O PT perdeu em Fortaleza porque Luzianne, uma petista, ganhou. Já a derrota do petista Raul Pont significa uma vitória oblíqua do PT palaciano. No caso de Marta, é o próprio PT quem se derrota garantindo a vitória de um inverossímil tucano. Destes o único caso mais intrincado mesmo é Porto Alegre.

Luzianne não só é a prova de um mico petista mastodôntico (descolamento das bases, miopia estratégica, cartolagem etc, etc), como já foi suficientemente destilado. A petista que venceu a despeito do PT que apostou no (apesar de companheiro) Inácio Arruda, cuja candidatura (convenhamos) não se sustentava nem em plataforma, nem em apelo social suficientes (leitura rasa do resultado eleitoral).

Marta perdeu para a própria arrogância sumamente cultivada (e disseminada) pelo prelado petista que perdeu já há algum tempo a noção de realidade que lhe atribuía algum verniz social e popular. Até o filho Supla parece ser mais eficiente em defender os interesses da mãe.

A situação de Porto Alegre, já é um exemplo da degeneração psicopático-esquizofrênica do petismo. Talvez o mais sintomático de sua gestão nacional. Não precisamos ficar estarrecidos quando se declara que vitória no campo da base aliada é vitória do governo. Rigorosamente é isso que aconteceu em POA. Eliminação da concorrência interna.

Somente a derrota de Pont (na verdade do modelo de gestão petista mais à esquerda alcançado pelo partido) assegura a necessária tranqüilidade de que o projeto concorrente mais consistente seria sepultado pelas urnas. Vitória palaciana inequívoca que agora não conta com conflito de projetos políticos no interior do partido que sejam capazes de ameaçar (ao menos no curto prazo) os rapapés e sortilégios da corte lulista.

A comemorada vitória em inúmeros municípios possui indícios de resposta fisiológica e/ou clientelista típica de alternância do poder. A primeira necessidade do país é pão a segunda é moradia.

Mesmo que exista alguma repercussão ideológica ela vai em sentido contrário ao das origens do PT, reforçando portanto a exploração sustentada com suor e lágrimas dos excluídos em benefício de parcelas privilegiadas da sociedade.

Esta eleição esboça a redefinição da oligarquia política do país, atualizando o coronelismo em franca decadência. Nos empurra para o que de pior a democracia ocidental produziu que é o pluripartidarismo bifocal estadunidense. Pode-se dizer que o caso brasileiro, ao invés de dois mamíferos quadrúpedes, é mais criativo e a disputa se dá entre um luminar e uma ave.

Mas isso não contribui para a construção de uma democracia digna desse nome, muito menos de um país digno desse povo, afinal, sempre compelido a escolher o melhor dentre seus algozes.

E ainda conviver com o insólito pós-modernismo petista que considera isso uma vitória da democracia. Que democracia, cara-pálida?