Seis moradores de ruas na cidade de São Paulo foram assassinados e outros nove feridos. O fato ocorreu em ruas centrais da cidade e tem todas as características de operação limpeza. Ou feita pelo tráfico, ou pela própria polícia que, naquela e em várias outras cidades brasileiras tem antecedentes. O período da ditadura militar ensejou […]
Seis moradores de ruas na cidade de São Paulo foram assassinados e outros nove feridos. O fato ocorreu em ruas centrais da cidade e tem todas as características de operação limpeza. Ou feita pelo tráfico, ou pela própria polícia que, naquela e em várias outras cidades brasileiras tem antecedentes.
O período da ditadura militar ensejou cobertura para os chamados esquadrões da morte, via de regra forças de justiceiros contratados por comerciantes ou empresários, para eliminar supostos assaltantes. Ou mesmo pelo jogo do bicho que, à época, junto com o contrabando, dominava a mundo do crime.
Os esquadrões da morte eram formados por policiais civis e militares e acabavam se juntando ao crime organizado. A aparente ação moralizadora, vendida pelos principais meios de comunicação, não passava de pretexto para controle de pontos, morte de inimigos incômodos, limpeza de área, toda a sorte de violência nos melhores moldes dos maiores gangsteres da história.
Os moradores de rua de São Paulo foram atacados a pauladas, é o que diz a polícia. Um travesti foi assassinado e a cidade tem grupos de caça a homossexuais, ora mais, ora menos ativos.
O governador do Estado, Geraldo Alckimin, de direita e dos setores mais retrógrados do País, disse que as providências serão tomadas para punir os culpados e mandou reforçar o policiamento no centro de São Paulo. Diz isso todas as vezes que sua polícia mata, ou que algum crime causa maior impacto.
O mesmo comportamento tem o líder espiritual do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, secretário de Segurança, marido da governadora e candidato a profeta no lugar de Lula.
Alckimin e Garotinho são duas das mais sérias ameaças ao Brasil, pois ambos querem ser presidente.
A polícia trabalha com a suspeita que os crimes estejam ligados ao tráfico de drogas. Não haverá como dizer o contrário, embora não seja usual nas quadrilhas de traficantes eliminar moradores de rua. O comum é a polícia ou os chamados justiceiros tomarem conta desse tipo de serviço.
São Paulo e Rio são duas cidades sem lei, permeadas pelo crime. O cidadão comum, aquele que trabalha, normalmente dá graças quando consegue chegar à sua casa ao fim do dia.
Os governadores gastam fábulas em propaganda para mostrar o que não fazem.
O caso dos esquadrões da morte no Brasil só foi levantado por insistência de Hélio Bicudo, então procurador no Estado de São Paulo, hoje vice-prefeito da capital. Bicudo foi afastado pelos generais que comandavam o país, os esquadrões não preocupavam tanto os ditadores. Eram como que aliados tácitos. Defendiam valores como a pátria, a família e matavam em nome da justiça. Só que em nome do lucro e do controle do que dava e dá lucro.
A repercussão internacional, à época, acabou gerando um arremedo de inquérito, depois processo, um ou outro punido e ficou por isso mesmo. A Chacina da Candelária no Rio, quando policiais mataram menores de rua, está impune até hoje.
O massacre de trabalhadores rurais sem terra em Eldorado do Carajás da mesma forma.
A morte de seis moradores de rua em São Paulo não vai ser de outra forma, mesmo que apresentem supostos criminosos.
Uma das alianças mais podres que existe no Brasil e a de governadores com as suas polícias. Em Minas, por exemplo, os policiais militares recebem no último dia útil do mês. Os demais servidores só depois do dia 12
É assim quase todo o País. Um dos lobbies mais fortes dentro do Congresso é o das PMs. Não raro senadores e deputados têm soldados PMs de seus estados como segurança, ou em seus gabinetes. Era o caso do coronel Pantoja, líder do massacre de Eldorado do Carajás, que serviu no gabinete de Almir Gabriel, governador do Pará quando do crime.
A questão de segurança no Brasil começa por um detalhe simples: as polícias são instrumentos da classe dominante, servem à classe dominante em sua esmagadora maioria e as lideranças que surgem cobrando ação cidadã e reformas no aparelho são logo marginalizadas.
Tem sido freqüente a prisão de policiais envolvidos com o tráfico, ou prestando serviços a quadrilhas. O fato já preocupa as forças armadas que temem estar sendo objeto de ação deliberada do crime organizado, infiltrar jovens na prestação de serviço militar obrigatório, para assaltos a arsenais.
Lula, que no início do governo anunciou a construção de várias penitenciárias federais, continua anunciando coisas que não faz, não fez e pelo jeito nem vai fazer.
O Brasil é um país com tal gravidade na área social que não raro moradores de rua têm diplomas universitários. Não conseguem emprego, não conseguem sobreviver, fazem a opção pelas ruas como modo único de sobrevivência, falta de alternativa.
A preocupação com as mortes em São Paulo é que, diante de um governo complacente, Alckimin, estejam sendo ressuscitados os esquadrões da morte.
Como sempre, tem sido a regra geral, ao final de tudo, cada governo ou culpa o seu antecessor, ou o prefeito, ou o presidente, numa troca de tiros verbais enquanto a poeira abaixa e fingem que tomam alguma providência.
O número de assassinatos cometidos por policiais, só no Rio e em São Paulo, se rivaliza com as mortes na guerra do Iraque.