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A noite da farsa e dos equívocos

Fuentes: Rebelión

O debate sobre o que é democracia e que começa a ganhar contornos importantes a partir da realidade «choque e pavor» gerada pelo terrorismo norte-americano, bem que poderia analisar detidamente a noite de quarta-feira, 2 de junho, na Câmara dos Deputados no Brasil.Para começo de conversa a sensação da absoluta inutilidade de se ter um […]

O debate sobre o que é democracia e que começa a ganhar contornos importantes a partir da realidade «choque e pavor» gerada pelo terrorismo norte-americano, bem que poderia analisar detidamente a noite de quarta-feira, 2 de junho, na Câmara dos Deputados no Brasil.

Para começo de conversa a sensação da absoluta inutilidade de se ter um parlamento com a estrutura clássica como o que temos. Não leva a lugar nenhum, custa caro e se presta a declarações vergonhosas como a do deputado Thomaz Nonô, de direita e do PFL, fazendo blague lamentável com a expressão baseado.

Desrespeitou o País inteiro, pois todos os que votaram para eleger deputados, quaisquer que sejam, não votaram para isso. O que, no entanto, não vai tirar o sono dele. Com toda a certeza vai achar que sua afirmação foi um momento de brilho parlamentar. Vai rir, como por exemplo riu o deputado Bonifácio Andrada, quando da rejeição da emenda das diretas, em 1984.

É indefensável a posição do PT, não tanto pela votação em si, pelo salário mínimo de 260 reais, mas por estar jogando fora a sua bandeira maior: a classe trabalhadora.

Lula é só um equívoco que continua achando que anda sobre as águas. Patético o esforço do deputado professor Luizinho, líder do governo, defendendo a medida provisória que fixa o novo valor do mínimo. Anos atrás ia para as ruas defender professores contra salários aviltantes.

PSDB (partido de FHC) e PFL (a maior concentração de banqueiros por centímetro quadrado), levaram cartazes falando em traição.

Clube de amigos e inimigos cordiais, ao qual o povo não tem acesso. Jogo de cartas marcadas. No governo FHC as mesmas guerras parlamentares só que os que hoje estão de um lado estavam de outro e vice-versa.

Deputados sérios? Claro. Deputados comprometidos com transformações e mudança de modelo político e econômico? Eu mesmo conheço muitos.

Lá pelas tantas um substitutivo do deputado Rodrigo Maia, filho do prefeito do Rio, César Maia, principal defensor do ministro da Agricultura do governo Lula na Câmara, falo do filho, que aumentava o tal salário para 275 reais. É do PFL.

Quinze reais a mais, transformados em celeuma parlamentar, como se isso mudasse a realidade do trabalhador.

Vai um fala um monte de coisas a favor. Vai outro e fala um monte de coisas contra.

Vem Thomas Nonô e dispara uma inconseqüência típica de quem não tem nem idéia de nada que difira desse jogo cruel e perverso que é o jogo da democracia capitalista. Aquela que não muda nada.

Surgem retratos de José Dirceu, de líderes do PT criticando o governo FHC por não dar aumento real de salário aos trabalhadores. Surgem propostas para retratar os deputados petistas que votaram como votavam os deputados de Fernando Henrique.

Tudo deve ter terminado nos points da capital. Cada grupo tem seu point.

É preciso repensar o modelo e está aí o que Chico Oliveira chamou de «enigma da esquerda». Essa democracia como não leva a caminho algum. Só à perpetuação do poder das elites.

A oposição vai obstruir a votação do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, pois não quer dinheiro para reforma agrária. Tem nítidos compromissos com os donatários das capitanias hereditárias, o latifúndio. Como não quer permitir que a lei que pune com desapropriação as terras de quem use trabalho escravo (muitos no agro negócio fazem isso), seja aprovada. Vão propor multas. Mais ou menos assim: um latifundiário se vale de trabalhadores escravos e se descoberto paga multa.

O maior dos equívocos de Lula foi achar exatamente que tinha uma vara de condão e iria transformar água em vinho, andar sobre as águas. Se meteu no labirinto da política institucional, quando foi eleito para mudar e agora não tem nem volta e nem que quisesse, não sabe como sair.

É menor que o cargo que ocupa e que os desafios que enfrenta. A maior preocupação do governo, neste momento, é um filme de Duda Mendonça para anular o impacto do salário mínimo, irrisório, na obsessão de reeleger Marta Favre e se der, mais alguns «companheiros».

Há quem enxergue o próprio umbigo, no caso Lula e há quem perceba que por trás dessa farsa, ou desse faz de conta existe algo bem mais sério e mais grave, com riscos reais para todo o País e que precisa ser enfrentado.

O golpe em curso na Venezuela, com apoio de outro «democrata», o ex-presidente norte- americano Jimmy Carter. Querem convalidar, na marra, assinaturas de pessoas mortas, de pessoas com carteiras de identidades clonadas, para levarem o governo a um referendo.

Defender Chávez é bem mais importante que esse joguinho de baseados para lá, baseados para cá, pois nada disso será levado em conta no processo de recolonização do Brasil, de toda a América Latina, em curso na ação terrorista/golpista da democracia cristã, ocidental e patriótica.

Lula perdeu a chance de comandar um processo político capaz de mudar essa realidade. Naufragou na sua dimensão política de varejo. Enxergou de forma míope o mandato que ganhou.

Aí tem que ouvir deputados tucanos falarem em traição, que é real. Tem que ouvir bobagens como as ditas pelo tal Nonô.

Chaves, logo que eleito presidente da Venezuela, percebeu que nenhum governo tiraria o país do atoleiro que se encontrava, seja o da corrupção, ou o do atraso e do poder das elites, sem que ações efetivas e concretas fossem tomadas para reverter o quadro, a primeira delas, questionar o modelo.

Foi às ruas, virou o país de cabeça para baixo, nova Constituição, novo Parlamento, novo Judiciário, novas estruturas políticas, econômicas e sociais e é por aí que a organização terrorista Casa Branca quer derrubá-lo, no escudo falso e fraudulento do referendo. E todas as mudanças submetidas a crivo popular. Aprovadas.

O FHC de lá, Carlo André Perez, como o argentino Carlos Menem, andaram pelas cadeias e hoje são melancólicas lembranças de um passado que só o terror norte-americano quer. FHC aqui até pirâmide, para si, constrói.

Lula preferiu o contrário. Aceitar as regras do jogo. Foi comido pelo leão e virou um mico perto dos reis da selva. Banqueiros, latifundiários, especuladores, classe política conservadora e atrasada, comprometida com interesses dos de cima.

De quebra, tropas no Haiti, onde o presidente foi seqüestrado pelos terroristas de Washington, temerosos de um novo poder popular.

A noite da votação da medida provisória do novo salário mínimo foi a noite da falência do modelo parlamentar vigente.

Aquela democracia que você escolhe para mudar e não muda nada. Nem o presidente.

Noite de farsa, num governo de equívocos. Por mais que se queira ou se tente, por mais esforço que se faça para achar o contrário, é o que em algumas regiões do País se chama de barrigada perdida.

Uma colunista de um jornal gaúcho, das elites, num título interessante, «Outro Planeta», desancou o governo por dar 30 mil reais a famílias de pequenos agricultores, num programa de revitalização das pequenas propriedades.

Vai daí que o governo que ela defende abriu mão de impostos, a tal renúncia fiscal, para a GM fabricar carros e brincar de gerar empregos. Falo do governo do Rio Grande do Sul. Ou, governos estaduais e federal subsidiarem o plantio e cultivo de soja transgênica. Bilhões.

O jogo na Câmara não era pelo trabalhador. Nem de um lado, nem de outro.

Salário mínimo é o varejo. Era pelo poder. O poder pelo poder.

De um lado, presentes em espírito, digamos assim, Lula, doutro FHC.

Diferentes? Bem, pelo que eu saiba Lula só não mete a mão no bolso de ninguém, no mais, até na prática política de traição são iguais.