O deputado Virgílio Guimarães foi um dos combatentes contra a ditadura militar de 64. Tem um passado íntegro e mesmo aceitando as regras do jogo institucional, como relator da reforma tributária, não deixou de lado uma de suas características: se preciso, dá a cara a tapas. E, apesar disso é um errático em política. Pagou […]
O deputado Virgílio Guimarães foi um dos combatentes contra a ditadura militar de 64. Tem um passado íntegro e mesmo aceitando as regras do jogo institucional, como relator da reforma tributária, não deixou de lado uma de suas características: se preciso, dá a cara a tapas.
E, apesar disso é um errático em política. Pagou muitas vezes o preço dessa estranha lealdade a uma cúpula petista incapaz de compreender qualquer coisa além de São Paulo, ou do próprio umbigo. Nélson Rodrigues chamaria de «lealdade burra».
O deputado mineiro foi vítima de um golpe do ex-deputado e morto vivo José Genoíno, presidente nacional do PT paulista. Tinha a preferência da bancada, tem ainda, era o nome melhor aceito pela base aliada e, de quebra, o apoio do governador de Minas Aécio Neves, ele próprio ex-presidente da Câmara.
Luís Eduardo Greenhalgh é uma espécie de Almir Pazzianotto da política. Transita com admirável arrogância e presunção da esquerda para o palco do faço tudo o que o mestre mandar. Atende aos interesses dos grupos petistas de olho na sucessão estadual de 2006.
Virgílio disse à imprensa que mantém sua candidatura como avulsa sem, no entanto, desafiar a orientação partidária, leia-se governista e paulista. No momento certo sai de cena. Essa declaração foi feita após um encontro com o presidente de São Paulo, Luís Inácio Lula da Silva.
Bobagem. Na esperteza de Lula o presidente quer apenas esperar para ver se a candidatura de Greenhalgh emplaca, caso contrário tem Virgílio à mão. Conhece essa característica de não fugir da luta sem pensar muito do deputado mineiro.
Já insinuou, através de lideranças do seu governo, a Aécio que a candidatura Virgílio pode resultar em prestígio para o deputado e criar um adversário para o projeto de reeleição do governador. Punhalada nas costas, outra face de Lula, até então desconhecida. Deve ser o contágio do convívio com banqueiros et caterva.
Ser ou não ser presidente da Câmara só confere isso: status. Primeiro entre os pares. Nada mais. João Paulo volta e meia dá umas marradas, mas como diria Getúlio «guampada de boi manso». Recebe as instruções do Planalto e cumpre direitinho.
Greenhalgh já deixou claro que faz isso sem problemas, está louco para fazer. Insinuaram a ele que pode vir a ser o candidato do PT ao Senado. Querem rifar o atual senador Eduardo Suplicy.
Ninho de cobras, cascáveis da pior espécie.
O poder real do presidente da Câmara é o de distribuir as benesses do Planalto, nas votações difíceis, ou seja, mais verba para fulano, menos para beltrano e pronto. Tomar conta da administração da Casa. Ganha espaço no noticiário, aparece na tevê Câmara presidindo o que chamam de Parlamento.
Casa do amém qualquer que seja o governo. É só ajustar o esquema.
O deputado deveria, nesse momento, resgatar sua história pré 64 e até de um bom e determinado momento do PT e enfrentar o esquema palaciano. Não importa que perca ou ganhe. Importa que não caia na esparrela de grupos políticos tucano/petistas, petistas/tucanos, na perfeita definição de Cristóvam Buarque de Holanda e FHC. Um e outro são a mesma coisa.
Corre ao risco de pagar um preço alto demais, maior que todos que já pagou, ao aceitar as regras sórdidas de um jogo imoral. Joga fora uma história que pode ser reescrita.
Vai depender dele e é um dilema pessoal, pois Câmara, Senado, essa estrutura toda do institucional está podre. O Executivo também. Não muda nada, não altera nada, não leva a lugar nenhum senão ao que já estamos, o Estado privatizado. «Navegar é preciso, viver não é preciso».
É o ser ou não rês de Virgílio Guimarães. Ou sai íntegro ou vira gado tangido segundo os interesses e as vaidades do governo federal de São Paulo.