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A salada eleitoral

Fuentes: Rebelión

Há dois tipos de análises possíveis sobre eleições de um modo geral e sobre as eleições municipais deste último domingo no Brasil. A primeira delas é jogar para um canto todo o processo, deixá-lo de lado, considerando que, do ponto de vista da luta por um mundo alternativo, eleições são um embuste. Legislação autoritária, Justiça […]

Há dois tipos de análises possíveis sobre eleições de um modo geral e sobre as eleições municipais deste último domingo no Brasil. A primeira delas é jogar para um canto todo o processo, deixá-lo de lado, considerando que, do ponto de vista da luta por um mundo alternativo, eleições são um embuste.

Legislação autoritária, Justiça Eleitoral com características de partido político, candidatos transformados em marca de sabão em pó, no máximo detergente, institutos de pesquisa dando o resultado a favor de quem paga e ao final um grito de todos os lados: ganhamos.

Lula e seus equívocos, o PT e seus absurdos recolocaram no centro do debate a figura de Fernando Henrique Cardoso. Mais ou menos como um recado do eleitor: se for para continuar o que estava é preferível o original.

A votação alcançada pela candidata Luiziane Assis, em Fortaleza, depois de bombardeada pela direção nacional do partido, instada a renunciar, coloca os dirigentes petistas na berlinda sobre suas reais intenções em termos de partido e compromissos históricos da bandeira.

Luiziane vai disputar o segundo turno e tem chances reais de vitória. Como fica a figura patética do presidente José Genoíno, do PT, depois de todas as asneiras que disse, sobretudo na última semana?

Numa outra ponta a análise dos resultados. Tentar decifrar o que vem por aí, embora tudo pareça óbvio. Note bem, pareça.

Quem tem aliados como o PMDB não precisa de inimigos. A base dos entendimentos do partido com o governo passa pelo troca troca de verbas, nomeações, etc. Está claro que os donos da legenda vão esperar um pouco mais para fixar o valor real da fatura em determinadas cidades e 2006 é outra conversa. O PMDB e os nanicos que apóiam Lula gostam de negociar caso a caso, assim ganham mais.

As trapalhadas autoritárias e vesgas do ministro José Dirceu no Rio, em 1998, quando impôs a aliança com Anthony Garotinho, repercutem até hoje e mesmo sendo favorito, por exemplo, Lindenbergh Faria, em Nova Iguaçu, menina dos olhos do projeto petista neoliberal corre riscos. O PT no Estado, falo da cúpula, já começa a pensar em noivado com César Maia numa frente anti Garotinho, proposta aliás pelo prefeito da cidade do Rio de Janeiro.

O candidato do partido, Jorge Bittar, teve desempenho pífio. Melancólico. Os votos da esquerda foram sua maioria para Jandira Feghalli e um pouco para Nilo Batista, do PDT de Leonel Brizola. O próprio César Maia levou alguma coisa.

Em São Paulo, onde o partido concentrou todos os seus esforços e o próprio Lula se expôs a ser interpelado pela Justiça Eleitoral por ter pedido votos para Marta (uma das hipocrisias da lei eleitoral) em ato público, o quadro é favorável a Serra, não significa que seja definitivo. Um dado interessante, ou dois. O primeiro: Serra ganhou nos bairros e áreas das classes médias e das elites, perdeu na periferia. O segundo: o que Marta vai fazer com Maluf? Aceitar apoio explícito, ou tentar dissimular uma realidade que já vinha acontecendo? Os eleitores de Maluf, por sua natureza e pela identidade moral tendem a votar em Serra. Isso é lógico. Há um ditado antigo que explica o fato: «gambá cheira gambá».

O PT obteve vitórias importantes em Belo Horizonte, Recife e Aracaju. Tem chances reais em Porto Alegre. Pode ganhar em Curitiba, outra capital importante e quem sabe até em São Paulo?

Há outro recado para os dirigentes do partido e os homens do governo: mesmo tendo sido o partido mais votado no primeiro turno: ou o partido passa a considerar que além de São Paulo existem outros 25 estados e um Distrito Federal que formam o Brasil ou dança.

O PSDB, outro partido paulista, entendeu isso: FHC tratou de atrair Aécio Neves para seu regaço quando percebeu que o governador de Minas estava andando em direção a Lula com muito empenho. Aécio, que não é bobo, basta ver o que consegue em Minas, arrasa o Estado e tem altos índices de popularidade (atualmente é um dos políticos sabão em pó que tem melhores percentuais de aprovação por conta do marketing).

PTB, PL, ponderável parcela do PMDB vão chegar ao Planalto com as faturas. O PC do B, tradicional aliado, vai espernear pelo que aconteceu em Fortaleza, onde Inácio Arruda dançou depois de permanecer bom tempo como favorito.

Tudo isso vai ficar mais claro depois do segundo turno. Se perder São Paulo e segurar Porto Alegre é mais ou menos como empatar, dá para sair gritando «ganhamos», apesar da importância simbólica para o partido da prefeitura paulistana. Vai ser a segunda vez que o PT chega e perde ao tentar continuar. A primeira foi com Luísa Erundina, hoje um triste e melancólica figura na política brasileira.

Se perder as duas vai estar no vinagre. Ou, por outro lado, se ganhar, aí canta de galo. Como se vê tudo uma incógnita.

De concreto mesmo é preciso estar atento aos passos dos principais articuladores do presidente da República a partir do primeiro dia do mês de novembro. Vão sentar e avaliar cada dado das eleições, o peso de cada parceiro, para então definir os rumos dos dois últimos anos e, lógico, da tentativa de reeleição de Lula.

A impressão que o governo causa nesse primeiro momento pós-eleitoral, ainda que eleições municipais, é que continua como o gato Garfield, atônito, quando lhe perguntaram que paga levava à frente primeiro quando andava: se traseira, se dianteira, se direita, se esquerda. Como não consegui entender e nem responder, caiu e ficou estatelado.

Os arranjos de Lula e seus amigos sinalizam que o presidente se meteu num jogo complicado, para profissionais e é vítima da esperteza dessa gente, a começar pelas gentilezas de FHC logo depois das eleições de 2002 e a forma arrogante, de pretenso estadista, com que fala do governo hoje.

O grande nó na garganta de muitos eleitores petistas passa por aí: a fraqueza e a debilidade do presidente Lula diante dos desafios que se propôs a enfrentar, não enfrentou e, então, fica igualzinho a FHC.

Por exemplo: o que vai fazer o partido em Salvador? Apoiar o candidato de ACM? Com o PFL derrotado e triturado nessas eleições. ACM doido para colocar a mão na máquina conduzida por Bornhausen, do contrário sai. Cheio de amigos importantes, amigos do peito, no Planalto e no partido (José Dirceu e José Genoíno) e Sarney pedindo votos para Marta…

Não é difícil imaginar o que vai acontecer. Não importa se coito público ou disfarçado, por baixo da mesa, mas coito.

O governo Lula, nessas primeiras eleições que enfrenta nessa condição, de governo, vai custar um alto preço ao movimento popular. Está custando. Fica mais complicado ainda por essa ótica.