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A tucanização do PT

Fuentes: Rebelión

Fernando Pimentel, prefeito reeleito de Belo Horizonte, uma das mais importantes cidades brasileiras, capital do segundo mais rico Estado do País, Minas Gerais, defendeu em entrevista à imprensa uma aproximação com os tucanos, ou seja, o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), ao qual pertencem, entre outros, FHC, José Serra e o governador Aécio Neves. […]

Fernando Pimentel, prefeito reeleito de Belo Horizonte, uma das mais importantes cidades brasileiras, capital do segundo mais rico Estado do País, Minas Gerais, defendeu em entrevista à imprensa uma aproximação com os tucanos, ou seja, o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), ao qual pertencem, entre outros, FHC, José Serra e o governador Aécio Neves.

Pimentel descartou qualquer influência maior do Planalto em sua reeleição com mais de 70% dos votos, já no primeiro turno. Creditou sua vitória a êxitos de seu governo. Vai ser o terceiro prefeito petista no quarto mandato do partido naquela cidade.

Luiziane Lins, candidata do PT à Prefeitura de Fortaleza, Ceará, estado do ministro Ciro Gomes e do líder tucano Tasso Jereissati, noutra ponta, afirma temer que o partido e o governo Lula atrapalhem sua campanha. Ambos quiseram que a candidata renunciasse a favor de Inácio Arruda, do PC do B. Sequer chegou ao segundo turno.

A campanha de Raul Pont a prefeito de Porto Alegre, há 16 anos governada pelo partido, entrou em parafuso desde a chegada de Duda Mendonça e sua equipe, rachou os militantes e coloca em risco o que parecia fácil, a vitória do candidato, que além de deputado é ex-prefeito e tem trajetória de luta e ética em relação aos compromissos do PT.

Marta Favre, ex-Suplicy, prefeita de São Paulo e menina dos olhos da cúpula do partido e do próprio presidente da República, está atrás de José Serra nas principais pesquisas de opinião, em sua busca de reeleger-se. No debate de quinta-feira, dia 14, mostrou sinais de desespero: partiu para ataques diretos, frontais, chorou e ficou visível que só um fato político de última hora derrota Serra.

Na maior cidade do País o PT busca apoio de figuras como Paulo Maluf, negocia com lideranças antes malditas e tudo indica vai colher a sua maior derrota nessas eleições municipais.

A mão direita do governo Lula mostrou sua força na edição da Medida Provisória que permite o plantio de soja transgênica. Um mês antes o presidente havia dito com todas as letras que não tomaria aquela decisão. Não queria arcar com o ônus desse tipo de atitude. Como o Congresso não decidiu, o ministro da Agricultura e representante da empresa norte-americana Monsanto, Roberto Rodrigues, venceu o embate com uma petista histórica, a ministra Marina da Silva e a soja transgênica está coberta por lei.

Há indícios que os juros podem aumentar, a expectativa vem sendo trabalhada por setores do mundo econômico financeiro e o ministro Antônio Palocci, principal interlocutor do FMI junto ao governo brasileiro, derrotado nas eleições em sua cidade, Ribeirão Preto, afirmou que «neste governo não misturamos política com economia». Alusão a medidas impopulares tomadas em período eleitoral.

Fernando Pimentel tem características tucanas. É prefeito por acaso. Era vice de Célio de Barros e assumiu em decorrência da doença do titular. Foi reeleito com apoio velado do governador Aécio Neves que nunca morreu de amores pela candidatura do seu secretário João Leite, líder evangélico e deputado estadual do PSB.

Pimentel e Aécio num cesto, Luiziane noutro e Pont num terceiro, apenas manifestam e tornam público o caos que é o governo e o comando do partido. Um governo neoliberal e um partido paulista. Buscam formas de sobrevivência. Pimentel e Aécio num espectro tucano e em reação ao caráter paulista de seus partidos.

Luiziane tentando resgastar os compromissos históricos do PT e Pont buscando evitar o desastre que, entre outras coisas, começou com o oportunismo e, lógico, a irresponsabilidade política de outra figura do governo. O ministro Tarso Genro, da Educação.

Era prefeito de Porto Alegre, passou a campanha inteira afirmando que cumpriria o mandato integralmente e numa estratégia para evitar a reeleição de Olívio Dutra, da qual participaram as elites gaúchas (ainda comem com as mãos, não conhecem garfo e faca), renunciou à Prefeitura e foi disputar o governo do Estado. É ministro como recompensa do esquema lulista de ceder sempre que preciso para chegar onde se quer. Inclusive vender a alma ao diabo.

Tem sido feito com freqüência, desde o primeiro dia após a eleição do atual presidente.

Pela primeira vez o Planalto dá indicativos de preocupação com o que parecia certo: a reeleição de Lula. Parece que começam a descobrir que anjos não descerão dos céus e punirão os infiéis com espadas de fogo e nem o «messias» andará sobre as águas do Lago Paranoá. Por mais que frei Betto cante loas ao programa Fome Zero, como fez na China.

Nem pajelança.

José Dirceu, ministro chefe do Gabinete Civil tem clara percepção de todos esses fatos mas foi incapaz de evitá-los, com seu estilo de «eu sou o rei». Associou-se a José Genoíno (já existe atrito entre eles) e reeditaram duplas várias ao longo da história do rádio, do cinema e do teatro, de trapalhões. Não conseguem ser mais que uma trupe a exibir pantomimas inacreditáveis e bem ao gosto dos principais acionistas do Estado brasileiro. Os bancos, as grandes corporações, a indústria automobilística, o latifúndio et por cause, a Monsanto.

Lula e sua turma cometeram o equívoco primário de se acharem mais fortes que as elites do País. Não acreditaram no velho ditado que «esperto come esperto». Caíram na armadilha do bom mocismo de FHC, no jogo sórdido do Congresso. O troca de voto por verbas, nomeações e não foram poucos os setores do PT, pelo contrário a maioria, que se atirou com incrível apetite à disputa de cargos nos diversos escalões do governo.

O resultado não poderia ser outro. O governo caiu na armadilha mais infantil da política ao não perceber que às cópias, os donos preferem os originais.

O resultado disso é que sem condições de refazer seu caminho, sem alternativas a não ser que esteja disposto a provocar terremotos em sua base, já acostumada às delícias do poder, o governo Lula desce ladeira abaixo e vai precisar de novas cartolas e novos coelhos, do contrário e dependendo dos resultados do segundo turno no dia 31 de outubro, cumpre horário e nada mais. Tem dois anos pela frente.

A fala de alguns dirigentes do PT, que Lula é maior que o partido e seu prestígio continua intocado, ou ainda em condições de derrotar qualquer adversário nas eleições de 2006, mais que confissão de fracasso partidário, de programa, de história e bandeiras de luta, é a reafirmação que nada vai mudar.

Em 2005 o processo de eleições internas no PT deverá ser ganho com folgas pelo Planalto, um susto aqui, outro ali, mas o tamanho do racha é imprevisível. Existem grupos que esperam apenas o chamado PED para pedirem o boné e tratarem da vida noutras plagas.

Governadores, senadores, deputados federais e estaduais que vão disputar reeleição ou outros mandatos em 2006 sentem que a chamada «onda vermelha» passou e as dificuldades serão imensas. Há cálculos que a bancada federal, a da Câmara, deverá cair em torno de 30%.

O programa de reformas do FMI que o governo pretende implementar de forma mais clara no próximo ano deverá acentuar esse racha e talvez aí Fernando Pimentel tenha razão: PT e PSDB estarão próximos. Cada qual querendo mostrar aos donos quem é o mais apto a cumprir a missão neoliberal.

Já o Brasil, os brasileiros…

Lula jogou por terra todo o processo de conquistas e avanços obtidos nesses anos que se seguiram à ditadura militar. Tem razão o professor Chico Oliveira. «Não discuto caráter», quando perguntado sobre o governo. «Estou preocupado com o enigma das esquerdas para o futuro, o presente já era». Sobre os desafios do pós Lula. Disse isso em novembro de 2003.

E mesmo que um milagre reeleja Marta, ou a força dos militantes do PT de Porto Alegre, a despeito do PT nacional, eleja Pont, ou Luiziane consiga vencer em Fortaleza, nada disso muda o caráter do governo Lula. Pelo contrário. Se acontecer acontece apesar de Lula e sua tropa de equivocados. No caso de Pont e Luiziane, pela força dos dois, pela luta de sobreviventes do PT dos trabalhadores.

Quanto a Marta, resta, para ela, a esperança de algo que FHC diz existir dentro de Serra; «um diabo». Entendem disso como ninguém.

O PT de Lula é o da Monsanto. A briga deles com o PSDB é outra: quem vai representar a Monsanto no governo federal. O PT de Lula já dá sinais de salve-se quem puder.