Recomiendo:
0

Arquivos da ditadura

Fuentes: Rebelión

A decisão de um tribunal federal regional determinando a abertura dos arquivos da Guerrilha do Araguaia é passível de recurso por parte da União, mas é histórica e cumpre um papel importante na luta pela abertura dos arquivos gerais da ditadura. O Brasil nunca teve, ao longo de sua história, preocupação com essa própria história. […]

A decisão de um tribunal federal regional determinando a abertura dos arquivos da Guerrilha do Araguaia é passível de recurso por parte da União, mas é histórica e cumpre um papel importante na luta pela abertura dos arquivos gerais da ditadura.

O Brasil nunca teve, ao longo de sua história, preocupação com essa própria história. O caráter autocrático dos governos logo após a independência, a república proclamada no interesse de latifundiários e militares e a necessidade de esconder a vergonheira do dia a dia do poder, seus compromissos com elites, a sordidez de governantes, isso perdura até os dias de hoje e faz com que a real história seja desconhecida. Ou tenha que ser arrancada a fórceps.

Um dos mais brutais exemplos de corrupção impune foram os oito anos de FHC. PROER (programa de auxílio e recuperação do sistema financeiro) e privatizações, cito dois, seriam suficientes para o resto da vida na cadeia, falo do ex- presidente, em qualquer país com um mínimo de respeito por si próprio.

No caso da ditadura militar há muito mais que corrupção. Seja ela na forma simples, digamos assim, favor por dinheiro, seja ela parte, pele do governo, no caso FHC.

Existe tortura, existem assassinatos, ou sumiço de pessoas, a participação em operações internacionais para eliminação de lideranças de oposição, enfim, a barbárie típica de governos autoritários.

A importância da abertura dos arquivos da ditadura militar não significa apenas conhecer com detalhes o que já é sabido. Abre perspectivas importantes para compor as páginas de um processo político sombrio e revelar o verdadeiro nível de comprometimento dos ditos nacionalistas (militares adoram se dizerem nacionalistas), com a ruína sistemática do Brasil e sua transformação, agora sob a égide da farsa, a democracia, em entreposto do capital estrangeiro, peça mais ou menos importante do império norte-americano nesta parte do mundo.

A resistência das classes dominantes por aqui é bem maior que no Chile, por exemplo. Pinochet é hoje a imagem de um governante corrupto, um pau mandado do capitalismo. Os arquivos foram destampados.

Não são poucos os generais argentinos que foram para as prisões por crimes contra os direitos humanos, por corrupção, ou contra o próprio interesse nacional.

O principal argumento dessas figuras é o de mão dupla da anistia, como se tivesse havido uma luta real e efetiva pelo comando do Estado, pelo poder e não um massacre a resistentes que não suportaram e nem podiam, o golpe militar de 1964.

Argumento tosco. Sob as bênçãos da esquadra norte-americana e um general que se auto proclamou «vaca fardada», autor, quando capitão, de um falso plano de atentados contra outra ditadura, a de Vargas, os militares tomaram o poder impelidos pelas classes dominantes, pelo desvario da classe média ensandecida com o medo do comunismo (medo de perder o direito de comprar calça Lewis, aquela que significa liberdade, à época) e construíram nos anos que lá estiveram um lento e sistemático processo de equívocos políticos, econômicos, calando pessoas nas masmorras, pela tortura, pelo assassinato pura e simples.

O que chamam hoje de democracia é apenas a fase seguinte do processo. Começamos com a doutrina de segurança nacional, passamos pelos ensinamentos da Comissão Tri-lateral (AAA – África, América e Ásia), chegamos ao consenso de Washington, o que vemos hoje, o que nunca é demais dizer, a «globalitarização» do mundo.

É natural que hajam temores de um governo, ou pelo menos parte expressiva dele, em colocar em risco as orações determinadas pelo FMI, pelo Banco Mundial, pelos bancos privados que faturam algo como 350 mil reais, mais de 100 mil dólares por minuto e confessam isso em balanços imorais.

Toda a seqüência dessa história construída na violência qualquer que seja a sua forma. Borduna, ou luvas de pelica.

Abrir os arquivos da ditadura é uma luta do conjunto das forças populares. Decisiva para deixar nus muitos dos reis, príncipes e nobres que pululam pelas democracias aqui e na América toda.

Se o governo recorrer vai ficar evidente quem manda nesse trem todo.