O general Augusto Heleno Ribeiro, comandante das tropas de ocupação no Haiti, acusou o candidato democrata John Kerry de ser o responsável pela onda de violência que começa a tomar conta do país, ao assinalar o que chamou de «falsas esperanças» de retorno do presidente Aristides. Teriam sido levantadas por Kerry. O discurso de Kerry […]
O general Augusto Heleno Ribeiro, comandante das tropas de ocupação no Haiti, acusou o candidato democrata John Kerry de ser o responsável pela onda de violência que começa a tomar conta do país, ao assinalar o que chamou de «falsas esperanças» de retorno do presidente Aristides. Teriam sido levantadas por Kerry.
O discurso de Kerry foi feito no início do ano condenando o golpe de estado sob a batuta da Casa Branca e só agora o general, às vésperas das eleições presidenciais nos Estados Unidos, se deu conta disso.
O presidente Aristides foi seqüestrado por agentes especiais do governo norte-americano e o Haiti aguarda sabe-se lá o que, mas debaixo do tacão de tropas brasileiras.
A mão direita do general escapou e, virado para Washington, manifestou esse estranho e canhestro nacionalismo de alguns setores das forças armadas do Brasil: heil Hitler, tanto faz que seja Bush. O que muda é só o contexto de tempo e espaço, a prática é a mesma, os objetivos são idênticos.
O general, certamente, não é um retardado. Ou seja, não compreendeu só agora as declarações de Kerry. O ato foi consciente, fere as normas internacionais, tal e qual o de outra figura, esse de maior calado, o presidente Vladimir Putin.
Putin disse que o aumento de atentados no Iraque visa prejudicar a reeleição de Bush.
Stanley Kubrick trata desse tipo de figura em seu notável «Dr. Fantástico». O próprio que, convertido à democracia tem, no entanto, que manter a mão direita segura para não saudar o furher. Foi o que devia ter feito o general. Dissimulado.
O que o governo brasileiro vai fazer, que atitude vai tomar? O mais provável é que o assunto seja posto em banho maria e se espere o resultado das eleições nos EUA. Se Kerry vencer substituem o general. Se Bush for reeleito é quase certo que lhe dêem uma medalha.
Triste o papel das forças armadas brasileiras. Transformadas em polícia militar do governo de Washington, numa intervenção sem lastro no direito, no respeito ao povo haitiano e, pior ainda, no governo de Luís Inácio Lula da Silva.
Como disse Alain Tourraine: «Lula está à direita de FHC». Claro. Tinha obrigação de estar à esquerda. Como não está…
Bush ainda não resolveu o que vai fazer com o Haiti. A OEA, agência norte-americana para assuntos latinos, não vai decidir coisa alguma enquanto não receber instruções e determinações do comando na Casa Branca.
O Haiti não tem governo. O Estado está acéfalo. Os problemas seculares do país permanecem. A violência é resultado normal e previsível da reação popular diante da presença de tropas estrangeiras e do golpe perpetrado por inspiração norte-americana.
O Congresso dos Estados Unidos votou e aprovou proposta do presidente Bush que permite dobrar os efetivos militares daquele país na Colômbia. O apoio brasileiro à ditadura de Uribe se não é ostensivo é silencioso, por omissão. Não se mete no assunto e o próprio Uribe já foi recebido por Lula.
Há um projeto do IV Reich de, num eventual segundo mandato, apressar o processo de intervenção militar em Cuba. O governo de Fidel vetou a presença de políticos espanhóis ligados ao ex-primeiro-ministro Aznar, fascista, parte do plano de Bush para que a ilha volte ao controle da máfia e vire outra vez uma Las Vegas.
Esse conjunto de atos terroristas implica em futuras ações contra o governo Chávez, em neutralizar movimentos populares no Peru, na Bolívia e ampliar o controle sobre o governo do Equador, tudo, lógico, muito mais fácil com o aval de Lula.
Sem falar na conversa de terroristas na Tríplice Fronteira e no projeto petista de repartição e privatização da Amazônia.
As tropas no Haiti foram a mais espetacular manobra de George Bush em relação ao brasileiro. Percebeu que o messias não era tão firme assim. Pelo contrário, ainda tratou de arrumar um jogo de futebol no esquema do pão e circo, mas sem pão.
São inaceitáveis as declarações do general Augusto Heleno Ribeiro. Colocam o governo e País na deplorável condição de braço do imperialismo norte-americano. Se o general quer a vitória de Bush, os brasileiros não desejam, foi o que mostrou uma pesquisa de opinião feita em vários países do mundo.
A única atitude que caberia ao governo Lula seria a imediata destituição do comandante das tropas no Haiti. Do contrário é conivente com a mão direita do general.