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Big brother V

Fuentes: Rebelión

O canal de tevê fechada Multishow, do grupo Globo e um dos mais badalados do esquema de cabo e satélite, apresentava na noite de segunda-feira um tape de uma das últimas aparições do conjunto australiano BeGees quando, no que seria o último bloco, anunciou o seguinte: «Interrompemos nossa programação normal para apresentarmos vinte minutos iniciais […]

O canal de tevê fechada Multishow, do grupo Globo e um dos mais badalados do esquema de cabo e satélite, apresentava na noite de segunda-feira um tape de uma das últimas aparições do conjunto australiano BeGees quando, no que seria o último bloco, anunciou o seguinte:

«Interrompemos nossa programação normal para apresentarmos vinte minutos iniciais do Big Brother V, voltaremos logo a seguir» O tom pomposo do locutor que anunciava o evento seguiu-se no outro anúncio: que seria possível assistir ao programa vinte e quatro horas por dia, com todos os detalhes, isso bem sublinhado, comprando o pacote por tantas prestações de tanto.

Um roqueiro indignado acionou o telefone a vários companheiros e amigos e lavrou seu protesto.

Na noite da antevéspera de Natal um grupo de pregadores procurava novos adeptos num bar e restaurante da avenida Atlântica no Rio. Vários dos integrantes iam se revezando na leitura de trechos da bíblia, até que num determinado momento uma das pregadoras subiu a uma das mesas, arrancou a roupa e começou a gritar: «eu quero que a cruz de Jesus me possua de todas as formas, eu pecadora quero Jesus dentro de mim. Chamem a Globo para testemunhar o milagre».

Uma rápida operação do grupo e a moça foi colocada num táxi, aos berros, protestando e clamando por Jesus. Levada dali a pregação retomou, dessa vez, conclamando homens e mulheres que lá estavam a segui-los ao templo pois o que viram fora a manifestação do demônio que estava em todos. Ninguém os seguiu, felizmente.

A rede CBS anunciou que existem dúvidas sobre a autenticidade dos documentos apresentados em setembro do ano passado em noticiário nacional e que mostravam o que chamam de lacunas nos relatórios de serviço militar de George Bush. Um dos documentos traz a assinatura de um coronel que admite que Bush foi um privilegiado em seu tempo militar.

A rede foi condenada por associações de emissoras de tevê do país, pediu desculpas de público e, lógico, cabeças rolaram. É difícil dizer o que é verdade ou mentira na tevê americana. Em qualquer tevê do mundo capitalista. Se nos debruçarmos com atenção minuciosa sobre os resultados das eleições no Estado de Ohio vai ficar a certeza que houve fraude e Bush, novamente, se valeu dessa prática para assegurar sua eleição, no caso reeleição.

É evidente que acontecem os momentos de vida inteligente, ou bom gosto na televisão. Raros, raríssimos, cada vez mais escassos, mas existem.

O noticiário das principais redes de tevê do Brasil sobre a guerra no Iraque reproduz fielmente o jargão do Pentágono: resistentes são terroristas e estão prontos a destruir os valores cristãos e ocidentais da democracia, levados pelos invasores e «libertadores».

Palestinos são sub-gente e as forças de Israel quando demolem casas, matam pessoas, crianças, idosos e mulheres inclusive, estão caçando também terroristas.

O locutor que anunciava a possibilidade de acesso à casa do Big Brother V nas vinte e quatro horas do dia sugeria e frisava a possibilidade de alguns poucos iniciados poderem ver tudo com detalhes.

Esse tudo vai ser ampliado nos próximos dias, seja em programas de entrevistas da própria Globo, até de emissoras concorrentes, e em jornais as colunas especializadas tratarão de divulgar «furos» sobre quem comeu quem e quem só lambeu com a testa.

É o espírito do programa. É o que se propõe a mostrar, talvez por isso o prêmio tenha sido dobrado, pulou de 500 mil reais, próximo de 200 mil dólares, para um milhão de reais, ou quase 400 mil dólares.

Para os participantes perdedores existe sempre a chance de virar celebridade por alguns minutos, mostrar o prato preferido em programas outros, analisar as personagens, reclamar dos critérios de eliminação e até um contrato na própria tevê, para comerciais, etc, etc.

Uma das participantes de programas anteriores tinha o sonho de ser apresentadora de programa para crianças. Se conseguiu ou não não sei, mas era o seu sonho.

Big Brother V, como os anteriores, ou as versões do que chamam de reality show em vários países do mundo a partir do original holandês, é o que dizem, teria surgido na Holanda, é apenas a transformação da sociedade do nada, do culto ao nada, com direito a achar Bush um democrata, a concordar com a invasão do Iraque, enquanto os anunciantes, grandes bancos e empresas, direta ou indiretamente nos intervalos, mostram suas garras e avançam sobre um povo indefeso que não consegue apertar o botão de desligar.

Breve, se bobearem, plantam um na televisão do Iraque.

A polícia do governador do Rio Grande do Sul abordou e deteve dois jovens negros que se dirigiam para o exame vestibular numa unidade universitária. Perderam o dito exame. A Constituição estabelece que as pessoas só podem ser presas em flagrante ou com mandado judicial. Nem uma palavra nas redes «oficiais» do capital. Righotto, no caso do seu Estado, é responsável por boa parte da receita da turma.

Fellini se divertia quando lembravam o episódio de uma senhora que ao abordá-lo numa trattoria perguntou: «mas por quê você não bota mulher normal no seu filme?». A pergunta foi feita por uma mulher, talvez quisesse ter dito gente normal.

Devia ver o Big Brother e a turma da tevê brasileira. E do mundo, por quê não?