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«Brasil para principiantes»

Fuentes: Rebelión

No início da década de 60 o húngaro (ou romeno, não me lembro, mas daquela parte da Europa) Peter Kellerman, morando no Brasil, lançou e foi um grande êxito editorial, o livro «Brasil para Principiantes». O objetivo era explicar, ou tentar, o jeito brasileiro que muitas vezes faz o sim significar não e vice-versa, as […]

No início da década de 60 o húngaro (ou romeno, não me lembro, mas daquela parte da Europa) Peter Kellerman, morando no Brasil, lançou e foi um grande êxito editorial, o livro «Brasil para Principiantes».

O objetivo era explicar, ou tentar, o jeito brasileiro que muitas vezes faz o sim significar não e vice-versa, as características que chamava de tropicais do nosso País. O livro, saudado por setores da esquerda à época, era na verdade um baita deboche e o prelúdio de um grande golpe em milhões de brasileiros incautos.

Kellerman montou um negócio chamado «Carnê da Fortuna», ou coisa que o valha e funcionava mais ou menos assim: o adquirente (tem gente que adora esse termo) pagava um tanto por mês e depois de concluído o número de prestações do carnê tinha direito ao valor em compra de supermercados. Concorria a sorteios e se levasse novos adquirentes tinha ganhos na proporção dos trouxas que assinavam os contratos.

O negócio estourou, lógico e Kellerman fugiu para o Paraguai (onde mais?).

Uma olhada assim de relance sobre o quadro político nacional mostra que a grande maioria dos brasileiros, a imensa maioria, continua procedendo como os incautos em relação ao carnê de Kellerman.

O grupo Folha vendeu 21% do controle acionário de suas empresas para o grupo português Brasil Telecom. Na prática isso significa o controle da informação do antigo jornal «sem rabo preso», já que os portugueses injetam dinheiro e, lógico, sob condições.

Sob a nova holding, formaram uma holding para isso, ficarão 100% da Folha da Manhã, que entre outras atividades edita os jornais «Folha de S. Paulo» e «Agora», o UOL, além das participações do grupo Folha na editora Plural, uma sociedade com a americana Quad Graphics, e no Valor, jornal editado em uma operação com as Organizações Globo.

O governo brasileiro anuncia que o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) vai emprestar 500 milhões às empresas de energia elétrica, privadas, todas devedoras do Governo e cogita de perdoar as dívidas das empresas de telefonia, levando em conta os altos investimentos previstos para os próximos anos.

A Brasil Telecom é uma delas. Nenhuma empresa estrangeira que comprou estatais brasileiras colocou mais de 20% do preço definido em leilões, pois o BNDES emprestou o resto, os milagres da era FHC.

As agências ditas reguladoras de serviços públicos, como ANATEL (telefonia), a ANAEL (energia elétrica), a ANVISA (vigilância sanitária e saúde) e a ANTT (transportes), além da autonomia absoluta, Lula já provou desse veneno quando quis anular um aumento das tarifas de serviços telefônicos, representam interesses dos controladores dessas áreas. O caráter de fiscalizadoras e reguladoras é apenas para inglês ver, como o carnê de Kellerman. Trombada na certa no fim.

A Folha de São Paulo, principal mídia do grupo Folha ganhou expressão para além das fronteiras do estado quando Boris Casoy foi editor geral e fez com que o jornal mergulhasse de corpo e alma na campanha das diretas, na década de 80. Além de ter levado nomes nacionais como Paulo Francis, Tarso de Castro, Sérgio Augusto, Fernando Gabeira, Cláudio Abramo, Jânio de Freitas (levado ou mantido) para suas páginas.

Ao que me lembre O Cruzeiro, revista semanal que vendia 5 milhões de exemplares por edição e num determinado momento O Jornal , ambos dos Diários Associados e já nos momentos iniciais da ditadura, O Correio da Manhã, nunca tantos jornalistas de peso e respeitados estiveram numa só publicação.

A saída de Casoy foi como quê a etapa seguinte do projeto de transformar o jornal, falo da Folha, em atrativo para a classe média, supostamente bem informada ou atrás de informações também supostamente isentas, no processo que dividiu a comunicação no Brasil, num espectro que vai de Veja, Folha, a Globo, Extra, ou se preferirem Jornal Nacional a Ratinho, Sílvio Santos, Gugu e quejandos.

Comunicação hoje é a chave dos negócios. Você vende a idéia que vaca pode dar leite colorido, Veja caiu nessa esparrela há anos, a classe média endoida com o poder da tecnologia e desanda a comprar tênis da Nike ou de outra igual, produzido a partir de trabalho escravo e vai por aí afora.

Não existe isenção nessa conversa que um grupo de telefonia injeta dinheiro num grupo de comunicação que faz o marketing da independência, do compromisso com a verdade e não vai influir.

A questão nem é influir. É aumentar o controle do capital internacional no processo de recolonização do Brasil, o que é mais importante que vender a idéia que vamos bem, estamos dentro do mundo, executando os lances devidos e corretos na nova ordem Washington, bancos, corporações, as máfias rumo ao futuro.

Compraram o Estado no governo FHC. Apertam os torniquetes no governo Lula. E, por via das dúvidas, compram o que faz a cabeça das pessoas num mundo que o sujeito adora criar gatos bonsai e vende a bom preço. Madame adora bichano para enfeitar a sala.

Já os juros pagos por conta das dívidas externa e interna… São parte de outro processo, o de manter a credibilidade do País com vistas ao desenvolvimento sustentável.

A meta deve ser a de nos transformar a todos em obesos. A propósito o grupo Folha, no UOL, explica direitinho os problemas do backstage. Grande preocupação nacional.