Cuba é objeto de um bloqueio econômico que já dura mais de quarenta anos, somado às provocações constantes do imperialismo norte-americano. Elas têm agora uma dimensão mais perigosa como conseqüência da invasão ianque a Iraque. Restringindo a imigração legal de cubanos aos EUA, o governo ianque estimula a emigração clandestina, outorga de imediato a cidadania […]
Cuba é objeto de um bloqueio econômico que já dura mais de quarenta anos, somado às provocações constantes do imperialismo norte-americano. Elas têm agora uma dimensão mais perigosa como conseqüência da invasão ianque a Iraque. Restringindo a imigração legal de cubanos aos EUA, o governo ianque estimula a emigração clandestina, outorga de imediato a cidadania àqueles que chegam ao país mediante a saída ilegal de Cuba. As provocações se acentuaram nos últimos tempos pelas ações do representante norte-americano em Cuba, que estimula e financia uma «oposição». A 6 de maio, o governo Bush anunciou novas medidas contra Cuba, declarando a constituição de um fundo de quase 60 milhões de dólares para financiar a contra- revolução, e chegando a limitar os envios de dinheiro e objetos que os parentes de cubanos, residentes no exterior, podem enviar a sua família residente na Ilha. Uma medida que, nas condições de aguda escassez de Cuba, pode ser qualificada como nojenta e como um atentado contra os direitos humanos.
Nada disto justifica, por exemplo, o fuzilamento de três pessoas que seqüestraram um barco para fugir de Cuba, nem as penas de dezenas de anos de prisão contra outros «dissidentes». Um seqüestro sem vitimas não justifica a pena de morte, nem a dissidência política a prisão: Cuba não se encontra em guerra civil. A provocação ianque deve ser enfrentada politicamente: em Cuba, o clero católico realiza uma campanha sistemática contra a revolução, mas não sofre sanções porque está amparado pelos acordos com o Vaticano, depois da visita do Papa.
Será Cuba o próximo target da «guerra infinita» de Bush? O documento aprobado no mês passado não contêm só medidas econômicas. Também anuncia que o possível próximo objetivo da «guerra preventiva» poderia ser Cuba. A União Européia está se prestando a uma troca imoral com os EUA, concedendo a Washington carta branca contra Cuba a cambio de maiores espaços para as ambições européias em Europa do Leste e no Mediterrâneo.
O propósito de «acelerar a transição democrática», esgrimido por Bush para justificar a nova série de medidas contra a economia cubana, não convenceu nem sequer os «dissidentes». É possível que Bush acredite que conseguirá em Cuba o que não vai obter em Iraque? A enorme divisão do imperialismo mundial reduz ainda mais que no passado a capacidade do governo norte-americano para tornar efetivo o bloqueio econômico contra Cuba. É até provável que em fins do ano o próprio Bush não continue no cargo de presidente.
A nova agressão contra Cuba tem a ver com a derrubada das posições dos EUA no conjunto da América Latina. Esta derrubada acentuou-se depois da queda do «amigo» boliviano de Bush, e pode ganhar novo ímpeto em caso de crise financeira no Brasil ou de uma crise na Argentina vinculada à dívida externa. O governo Bush está empenhado em recuperar posições em Bolívia e Venezuela, assim como na Argentina. Cuba é usada novamente, nestas circunstâncias, para extorquir aos governos latino-americanos um alinhamento com o imperialismo ianque. Lula, Chávez e Kirchner não acompanharam Bush na condenação de Cuba pela questão dos direitos humanos, mas não se pronunciaram contra as medidas contra Cuba. Sem conformar uma frente em defesa de Cuba, o argentino e o brasileiro se encontram empenhados na intervenção militar em Haiti, na qualidade de tropas de relevo do Pentâgono.
Cuba se defendeu denunciando o imperialismo e seus asseclas do sul. Mas também respondeu às medidas econômicas de Bush com um aumento dos preços nos mercados «livres», ou dolarizados, que se soma à crônica escassez de artigos, até de primeira necessidade. A legalização do dólar não serviu para produzir uma reativação da economia, mas para acentuar a desigualdade social e o descontentamento popular. Para desburocratizar a gestão social seria preciso que os trabalhadores dispusessem de completa liberdade política para questionar a burocracia dirigente, o que não acontece em Cuba. Os freqüentes casos de corrupção demonstram o fracasso do poder pessoal para conter as aspirações sociais da burocracia. O uso, por parte das burocracias chinesa e cubana, de um código penal que estabelece medidas repressivas extremas, incluída a pena de morte, contra os delitos comuns e inclusive contra os opositores políticos, não encontrando-se esses países em situação de guerra civil, não constitui uma defesa da revolução, mas dos interesses das burocracias governantes, e uma intimidação ao povo, que favorece a restauração do capitalismo nesses países, cujo ator principal -junto ao capital mundial- é a burocracia estatal.
Defender Cuba contra o ataque dos EUA é um dever para toda organização, política ou sindical, democrática e classista. Essa defesa deve-se integrar numa política de conjunto para expulsar o imperialismo de toda a América Latina.