Quanto vale a cabeça de Marina da Silva? Boa parte da mídia, o setor industrial, o agronegócio, o setor energético e vários ministros que defendem esses interesses no governo Lula, devem ter seu preço. Qualquer leitor mediano percebe que grandes órgãos da mídia pedem todos os dias a cabeça de Marina, Olívio Dutra e até […]
Quanto vale a cabeça de Marina da Silva? Boa parte da mídia, o setor industrial, o agronegócio, o setor energético e vários ministros que defendem esses interesses no governo Lula, devem ter seu preço. Qualquer leitor mediano percebe que grandes órgãos da mídia pedem todos os dias a cabeça de Marina, Olívio Dutra e até mesmo de Ciro Gomes e Rosseto. Evidentemente, têm toda boa vontade com Palocci, Rodrigues, Furlan e até com Meirelles.
Marina aparece como aquela que atrasa obras, cria obstáculos aos transgênicos, impede construção de barragens, enfim, trava o crescimento econômico. Nem merece consideração o que representa a cabeça daqueles que ainda pensam ser a atividade econômica desatrelada de qualquer responsabilidade social e ambiental. Pior, como se entre o ambiente e o econômico não surgissem impasses instransponíveis, onde o econômico tem mesmo que se subordinar ao ambiental para o bem da maioria e do conjunto dos seres vivos. Perguntem aos dinamarqueses se não tiveram que sacrificar grande parte de seu plantel de porcos para continuarem a ter água limpa. Perguntem aos holandeses se não tiveram que sacrificar grande parte de seu plantel de frangos também para preservar seus mananciais subterrâneos.
Até o Ministério das Minas e Energias criticou Marina. Um documento apresentado ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – além de criticar a postura do Ministério do Meio Ambiente em relação às barragens – afirmou que as outras energias são caras demais, inclusive a eólica e a solar. A mais acessível seria a originada da biomassa. Os mesmos olhos que olham o horizonte podem também olhar apenas a ponta do nariz. Certamente o Ministério das Minas incluiu em sua planilha de cálculos o valor da biodiversidade – peixes, répteis, aves, insetos, animais, vegetação – além de solos, florestas e comunidades ribeirinhas devastadas para sempre. Certamente também olhou para o futuro, para a crise terminal do petróleo, para a crise da água e mesmo assim concluiu que a energia de origem hídrica continua a mais barata, pior, como se ela fosse duradoura como a solar e a eólica. Sabemos que é impossível mudar radicalmente a matriz energética brasileira de um dia para o outro. Entretanto, sonhávamos com novos caminhos.
Lula até agora tem preservado Marina. Não fosse ela, teria assinado um desastre como esse de revogar o código florestal, beneficiar as imobiliárias e prejudicar 120 milhões de brasileiros que vivem das nascentes que restam na Mata Atlântica, sem falar no resto do Brasil. Não foi sua base no Congresso – quantos picaretas têm mesmo lá? – que o poupou desse descalabro.
Nada de fechar os olhos para os problemas também com o Ministério do Meio Ambiente. Nosso embate aqui na transposição do São Francisco vai continuar. Entretanto, nada que tire seus reais méritos.
O pensar sistêmico chegou para ficar. O pensar econômico desvinculado do conjunto pertence ao milênio passado. Entretanto, nossos economistas têm a cabeça do milênio passado. Nossa grande e velha mídia, ao mesmo tempo que critica a destruição dos rios do Cerrado, elogia a plantação de soja. Parece que não consegue estabelecer o vínculo entre a lâmpada e o interruptor. Quanto ao nosso governo, muitas vezes temos a impressão que já nasceu velho. Quando Lula ouve Marina, parece que não. Então, depende.
* Roberto Malvezzi (Gogó) membro da direção nacional da Comissao pastoral da Terra- CPT, e habitante as margens do Rio sao francisco- Bahia.