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Carne de vitelo precoce

Fuentes: Rebelión

Nestor Kirchner, presidente da Argentina, não veio encerrar o encontro do Grupo do Rio. Lula deixou os chefes de governos e chanceleres logo após o término da última reunião e foi para o ensaio de uma escola de samba. Os países participantes do Grupo do Rio emitiram um comunicado final no melhor padrão da diplomacia […]

Nestor Kirchner, presidente da Argentina, não veio encerrar o encontro do Grupo do Rio. Lula deixou os chefes de governos e chanceleres logo após o término da última reunião e foi para o ensaio de uma escola de samba.

Os países participantes do Grupo do Rio emitiram um comunicado final no melhor padrão da diplomacia do nada resolvido. Um diplomata brasileiro, no entanto, classificou o encontro de positivo para o País, pois vários acordos bilaterais foram concluídos inclusive o acesso ao Pacífico via Peru.

Hugo Chávez foi o único governante presente a despertar interesse na população. Não fosse isso a reunião passaria em branco. Chávez foi alvo de manifestações de apoio por todos os lugares onde esteve e mesmo a tentativa de um grupo paulista de ultradireita de tumultuar uma palestra do líder bolivariano em São Paulo não surtiu efeito.

Ficou claro e patente para todos os chefes de governos, diplomatas e jornalistas presentes que o eixo da liderança política na América do Sul deslocou-se de Brasília para Caracas, pelo menos em termos de preferência popular.

O presidente da Venezuela fez uma proposta diversa da de Lula para o Haiti. O brasileiro cobrou maior participação dos países latino-americanos na reconstrução daquele país, inclusive com tropas e auxílios vários, enquanto Chávez pediu a convocação de uma assembléia nacional constituinte para que o povo haitiano decida livremente o seu futuro.

Chávez defendeu que a América do Sul tenha uma política de aproximação para os países desta parte do mundo e outra para a América Latina em geral. Criticou o neoliberalismo, a globalização na forma como vem acontecendo e reiterou seus compromissos com as transformações que realiza em seu país.

O ponto coincidente entre os dois principais presidentes presentes ao encontro do Grupo do Rio foi Cuba. E mesmo assim enquanto Lula defendeu maior aproximação com o governo revolucionário da ilha, Chávez foi claro: condenou o bloqueio norte-americano e deixou patente a disposição de seu governo de ampliar cada vez mais os laços políticos, econômicos, comerciais e culturais com o país de Fidel Castro.

O presidente da Venezuela deixou consignado um ponto de vista bem definido sobre o futuro da América do Sul e da América Latina: a necessidade de um bloco sem os Estados Unidos, como forma de enfrentar as políticas agressivas do presidente George Bush, agora reeleito.

A ausência de Kirchner foi interpretada como sinal que as dificuldades nas relações entre o Brasil e a Argentina são maiores que as ditas oficialmente. Ficou evidente o mal estar do governo brasileiro e do presidente Lula com o forfait do argentino.

Um dado curioso: pela primeira vez um encontro de líderes latino-americanos no Brasil não teve cobertura prioritária dos meios de comunicação. Houve parcimônia no noticiário, destaque apenas para o discurso de Lula e uma ou outra aparição do presidente da Venezuela. A estratégia de esvaziar a repercussão da visita de Chávez foi deliberada e atendeu, inclusive, a articulações de setores do governo de Lula.

Nesta próxima semana Lula tem pela frente três crises que podem tomar proporções maiores que as imaginadas: a emenda que permite a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, a questão dos documentos da ditadura e o PMDB querendo pular fora do governo e antecipar a decisão de lançar candidato a presidente em 2006.

Uma decisão é a de acelerar a reforma ministerial e concluí- la antes do natal. Uma pesquisa qualitativa sobre as razões da derrota do PT em Porto Alegre mostrou o que qualquer pedra de rua sabia: Tarso Genro é o político gaúcho mais desgastado. É ministro e se fica ou não é outra história. A saída do embaixador José Viegas da pasta da Defesa e a nota explicativa que liberou à imprensa depois de encaminhá-la ao presidente, fala em setores «ainda dominados pela doutrina de segurança nacional». São bombas que Lula tem que detonar, ou desarmar.

Lula tem uma nova fixação: carne de vitelo precoce. Custa 168 reais o quilo e é o vitelo abatido aos seis meses. Só alimentado com leite. É o novo ingrediente dos churrascos do Planalto. Neste sábado, milhões de brasileiros foram às ruas e enfrentaram filas quilométricas para alcançarem o direito ao programa bolsa escola. Com toda a certeza nem têm idéia do que seja vitelo precoce.