AOS JORNALISTAS BRASILEIROS No momento em que fica cada vez mais clara e acintosamente exposta a estratégia de dominação dos blocos hegemônicos do Primeiro Mundo sobre as nações do Terceiro e Quarto Mundos, é oportuno que os jornalistas se encontrem para fazerem uma análise crítica das relações de poder entre esses mundos. Não é mais […]
AOS JORNALISTAS BRASILEIROS
No momento em que fica cada vez mais clara e acintosamente exposta a estratégia de dominação dos blocos hegemônicos do Primeiro Mundo sobre as nações do Terceiro e Quarto Mundos, é oportuno que os jornalistas se encontrem para fazerem uma análise crítica das relações de poder entre esses mundos.
Não é mais possível acreditar que tais relações de poder, configuradas na chamada Nova Ordem Mundial, tendo por suporte teórico a chamada globalização, olvidemos três pronunciamentos vindos de insuspeitos profissionais: o jornalista Edmund Club, o economista John K. Galbraith e o historiador Erick Hobsbawn.
O primeiro alertou, no final da década de 60 ao calor da guerra fria, que a expressão neo-colonialismo não era um «slogan» de comunistas mas uma realidade subjacente a necessidade do sistema capitalista, por sua lógica, para controlar o mercado mundial.
O segundo, em plena euforia da globalização escreveu: «Globalização não é um conceito sério; eu não o uso. É um artifício, inventado por nós americanos para dominar o mercado dos outros países».
O terceiro concluiu: a Nova Ordem Mundial é a Nova Desordem Mundial no sentido de que ela geraria um clima de turbulência em todo o mundo.
Dando sustentação a essas formulações a ONU em seus últimos relatórios assinalou que os ricos ficavam mais ricos e os pobres mais pobres o que vamos encontrar nos Evangelhos: deles (dos pobres) ser-lhes-á tirado tudo que os possa dar esperança de uma vida de justiça, de bem-estar e presença.
Esse é o cenário descrito por Noam Chomsky numa entrevista aqui publicada referente ao comportamento da mídia, reportando-se à crescente exclusão social e à concentração de poder decisório nas mãos dos globalizante. Disse ele que para viabilizar com mais eficiência os designios dessa minoria do poder (nacional e internacional) a comunicação-informação fluí por duas vertentes: a primeira, a da marginalização, dirigida para as massas populares; a segunda, a da doutrinação, endereçada às elites dirigentes.
Isso explica, por si mesmo, termos chegado ao que disse em discurso o Secretário Geral da ONU, Kofi Anann: 5% da humanidade gasta em cães e gatos o que falta para alimentar 800 milhões de seres humanos.
Esses dados esclarecem os objetivos da reunião dos blocos hegemônicos do Ocidente, semana passada, na Austrália: o governo brasileiro deverá privatizar 50 milhões de hectares de terras da Amazônia para empresas multinacionais e organizações não governamentais que, em última análise, são agentes «humanitários» dessas empresas.
É preciso, pois, que aqui neste Congresso de Jornalistas, se debata essa questão à qual se relaciona diretamente nossa soberania e a vantagem relativa do Brasil quanto ao aproveitamento da energia da biomassa: a energia do futuro próximo em decorrência do fim da era do petróleo.
É sabido que a área florestal da Amazônia dispõe sem prejuízo do revestimento a arbóreo da superfície territorial, de 1 milhão e meio de quilômetros quadrados. O que o governo brasileiro foi induzido a privatizar representa 1/3 do total dessa área.
A reunião havida na Austrália significa a entrega ao controle direto e intransferível de uma enorme área de biomassa a grupos internacionais participantes da oligarquia que comanda a globalização. Com isso, aquilo que situaria o Brasil em inequívoca condição de vantagem será doado ao bloco hegemônico neo-colonizador, o que significa ampliar o cenário, hoje constrangedor, de nossa dependência externa. Isto é, vamos ter de comprar das multinacionais a energia produzida no Brasil.
Não é de estranhar, pois, que a tecnocracia instalada no Governo esteja exultante, devido às perspectivas de aumentar sua margem de negocismo que, de imediato, está voltada para a 6ª licitação abrangendo reservas de petróleo ( 6,6 bilhões de barris ) pesquisadas e mapeadas pela Petrobrás.
É a entrega pura e simplesmente das reservas de um energético para que a Shell, a Enron e Standard Oil o exportem, para termos de comprar delas nosso petróleo a preços da cotação internacional durante os 15 ou 20 anos de vida do petróleo como fonte de energia.
Pensem senhores jornalistas o que representará isso como freio ao nosso desenvolvimento nos afundando na mais torpe dependência, defendida, cinicamente, pela tecnocracia enquistada no governo do país.
Brilhante futuro, Não? É essa gente que fala em nome do Brasil.
Muito Obrigado,
Heitor Manoel Pereira
Rio de Janeiro – 11/08/2004