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Celso Furtado

Fuentes: Rebelión

Lula preferiu não ir ao enterro de Celso Furtado. Foi advertido que seria vaiado, o que criaria constrangimentos desnecessários. Uma das características de Celso Furtado era a alma generosa. Crítico da política econômica do governo procurava preservar a amizade com o presidente da República. Mas dava, em seus últimos trabalhos, artigos em jornais e entrevistas, […]

Lula preferiu não ir ao enterro de Celso Furtado. Foi advertido que seria vaiado, o que criaria constrangimentos desnecessários.

Uma das características de Celso Furtado era a alma generosa. Crítico da política econômica do governo procurava preservar a amizade com o presidente da República. Mas dava, em seus últimos trabalhos, artigos em jornais e entrevistas, sinais que as esperanças estavam sumindo rapidamente.

Um dos últimos atos do pensador e economista foi subscrever o manifesto de apoio à permanência de Carlos Lessa na presidência do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômica e Social). O «S» de social, como tem sido dito com freqüência, some cada vez mais e isso acontece desde o governo de FHC.

Celso Furtado foi como quê descoberta de Juscelino Kubistchek. O presidente, à época, no seu chamado Programa de Metas, percebeu a importância do Nordeste e da necessidade de criar facilidades ao desenvolvimento da região.

Criou a SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e colocou Furtado como diretor. Desagradou a meio mundo por conta do caráter marxista do pensamento de Celso Furtado.

Foi a partir da SUDENE que o Nordeste passou a, de fato, fazer parte do mapa do Brasil.

João Goulart levou o economista para o Ministério do Planejamento, recém criado em 1961 e, pela primeira vez na história do País um plano de governo falava em desenvolvimento estratégico, controle da inflação, geração de empregos, crescimento, etc, etc.

Celso Furtado não conseguiu sobreviver às pressões do populismo de determinados setores do governo. Nem por isso deixou de ser leal ao presidente e por tal acabou com os direitos políticos suspensos na noite de obscurantismo que tomou conta do Brasil em 1964.

Exilado foi professor na Sorbonne e reconhecido mundialmente com um dos grandes em sua área.

De volta ao Brasil aceitou o Ministério da Cultura, no governo de José Sarney. Quase que uma intimação da amiga Fernanda Montenegro. Foi, novamente, traído por interesses mesquinhos do governo e que começavam no próprio presidente. Sarney é uma dessas figuras políticas surgidas ao acaso e que acabam montando os cavalos do poder por terem precisão milimétrica no oportunismo e na cara de pau.

Retornou aos livros, aos estudos. Foi indispensável ao processo de formação do PT (Partido dos Trabalhadores).

Celso Furtado disse quando perguntado sobre o movimento feminista que, do ponto de vista econômico «a revolução feminista foi o fato histórico mais importante do século XX».

Manifestou-se na sua forma de ser simples e precisa sobre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra): «o movimento mais lindo dos últimos tempo no Brasil».

Ulisses Guimarães costumava dizer que se viesse a ser presidente da República o economista seria o ministro da Fazenda, ou do Planejamento, mas figura central e chave num eventual governo seu.

O que caracterizava o professor Celso Furtado era o otimismo, o mesmo que permeia outra figura notável do País. O arquiteto Oscar Niemeyer. O curioso é que ambos foram parte expressiva e viva do governo de JK.

As obras de Celso Furtado são indispensáveis à compreensão do Brasil. «Formação Econômica do Brasil» é vital para o conjunto das forças populares.

Há dias um general reformado, nada a ver com o esquema gorila e autoritário de 1964, tecia elogios a Celso Furtado com quem convivera na SUDENE. O professor, entre outros feitos, foi o responsável pelas políticas de desenvolvimento das universidades públicas da região. O general lamentava que tudo o que foi feito viesse a ser destruído desde Collor de Mello, com ênfase em FHC, em nome do estado mínimo.

Foi num dos laboratórios possíveis pela ação de Celso Furtado que importantes tecnologias foram dominadas pelo País, inclusive a obtenção da síntese do ácido acetilsalicílico, a popular aspirina.

O mesmo general, também afastado em 1964, contou que num determinado dia faltavam veículos para transportar máquinas, técnicos e engenheiros para uma tarefa no interior da Paraíba.

Foi conversar com Celso Furtado e ouviu o seguinte: «mas e os carros que estão no quartel?». Respondeu: «o comandante diz que são para a guerra». E Furtado arrematou: «vou lá com o senhor explicar para ele que estamos numa guerra a favor do Brasil».

Foi, explicou e o que devia ser transportado também o foi.

Deve ser por essa característica de Furtado que Lula não apareceu no velório. O presidente já foi, dificilmente tem volta.

Celso Furtado foi um dos construtores do Brasil, nos tempos em que se construía um Brasil livre e soberano.