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Cristóvam Buarque de Holanda e FHC

Fuentes: Rebelión

A publicação de uma fita com o inteiro teor da gravação de uma conversa do senador Cristóvam Buarque de Holanda com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso só faz comprovar a hipocrisia do jogo institucional e o caráter de farsa do chamado processo democrático. A fita foi gravada pelo próprio senador e a conversa entre dois […]

A publicação de uma fita com o inteiro teor da gravação de uma conversa do senador Cristóvam Buarque de Holanda com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso só faz comprovar a hipocrisia do jogo institucional e o caráter de farsa do chamado processo democrático.

A fita foi gravada pelo próprio senador e a conversa entre dois é puro despudor.

Cristóvam Buarque de Holanda não é necessariamente um petista. Oportunista seria o temo adequado. Tem coração e alma tucanos. Em 1998 disputou a reeleição para o governo de Brasília e perdeu, no segundo turno, para Joaquim Roriz. Atribuiu sua derrota aos grupos radicais do seu partido.

Bobagem. Em desvantagem nas pesquisas, surpreendeu, venceu o primeiro turno e levou a sério uma declaração do presidente do IBOPE, Carlos Augusto Montenegro, que «se Cristóvam perder nunca mais faço pesquisas». Cristóvam perdeu o segundo turno e Montenegro continua aí, manipulando e a serviço dos donos.

À época o então governador petista de Brasília recebeu o apoio público do ministro da Fazenda de FHC, Pedro Malan. Roriz, pilantra de larga experiência, bandido de alto coturno, foi à televisão e disse que daria um aumento maior que a inflação aos servidores do governo estadual. Malan declarou que aquilo era irresponsabilidade e Cristóvam, achando que era de fato irresponsabilidade, ou que o apoio de Malan era decisivo, concordou com o ministro.

Em seguida, avaliando a derrota de Lula para FHC, se lançou candidato a presidente em 2002, já contando com a vitória em Brasília e apareceu em programas eleitorais gratuitos dos candidatos tucanos em Minas (Eduardo Azeredo, que disputava com Itamar Franco) e do Pará (Almir Gabriel, acho que disputava com Ademir Andrade).

Um trapalhão pronto e acabado. Um monte de presunção. Oportunismo e destrambelhamento políticos sem tamanhos.

Não conseguiu sobreviver no governo de Lula, mesmo com seu jeito tucano. Foi para o Ministério da Educação e é um dos poucos ministros na história demitidos. Via de regra pedem aos caras que peçam demissão para evitar o constrangimento.

O senador e o ex-presidente discutem poder. Só poder. FHC fala com clareza do modo como fala em público ou para o público e do modo como fala para dentro, revelando disputa pura e simples de poder.

Admitem, ambos, que PT e PSDB são partidos iguais e que buscam apenas o poder. Há até uma certa injustiça com Lula nisso daí. O presidente não tem esse cinismo sem vergonha da dupla. Tem a boa fé dos ingênuos, ou a esperteza rasteira dos que não sabem para que lado o mundo gira.

Mas existe um conteúdo importante a ser avaliado. Cristóvam e FHC fizeram o diagnóstico do PT (o do PSDB todo mundo conhece), colocaram o partido no lugar que de fato ocupa: PSDB do B.

A própria situação de Lula. Maior que o partido. As pesquisas sistematicamente realizadas desde a posse dele só fazem mostrar isso. Lula vai bem nessas avaliações? Vai, mas o PT vai mal e as pessoas enxergam um como uma coisa, outro como outra coisa.

Os objetivos do senador me parecem bem definidos. Há um monte de FHCs espalhados nos dois partidos. Sujeitos que falam e escutam seus espelhos mágicos e se acham maiores que tudo e todos. Alguns, espertalhões como Fernando Henrique. Outros, bobos como Cristóvam.

As vísceras do caráter de um e do caráter de outro estão expostas. Revelam duas figuras repulsivas e que nada têm a contribuir com coisa alguma. Não conhecem o mundo além dos seus umbigos.

E, há também uma certeza: o PT não é um partido de esquerda e comete um profundo equívoco a esquerda que acredita existir disputa no âmbito do governo Lula. Não tem ligações com o movimento popular senão formais. Palocci é o senhor absoluto do terreiro. O que vale dizer o projeto é neoliberal.

A diferença real entre Lula e FHC não está nas propostas e nem no que executaram e executam como presidentes. Lula é um simplório. FHC é um amoral. Um político sem qualquer escrúpulo.

Deveria existir um capítulo do Código Penal que tratasse de cinismo explícito. De sem vergonhice assumida. Tanto o senador Cristóvam Buarque de Holanda como o ex-presidente estariam condenados à pena máxima.

É bem capaz de Cristóvam querer explicar a lambança que fez. Rotulá-la de contribuição ao debate. Quem sabe até avançar num ponto que tocam, o de uma provável aliança PT e PSDB.

A tal fita é repugnante, mas tem o mérito de desnudar dois dos mais desprezíveis políticos brasileiros.