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Dirceu chama grupo de Palocci para brigar na rua

Fuentes: Rebelión

O ministro chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, superados os constrangimentos criados pelo caso Waldomiro, voltou a buscar o confronto dentro do governo com o grupo do ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Só que, dessa vez, está buscando apoios também fora da chamada comunidade política, estendendo sua ação a setores organizados de forma explícita e […]

O ministro chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, superados os constrangimentos criados pelo caso Waldomiro, voltou a buscar o confronto dentro do governo com o grupo do ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Só que, dessa vez, está buscando apoios também fora da chamada comunidade política, estendendo sua ação a setores organizados de forma explícita e ao movimento social de um jeito um tanto mais cuidadoso, numa estratégia de provocar a briga, chamar os desafetos para a rua e deixá-los, como no ditado, com as calças às mãos.

O ministro não esconde de ninguém que sua avaliação sobre os pontos negativos do governo Lula, as dificuldades do PT para reeleger Marta Favre em São Paulo, são conseqüências da política econômica do grupo de Palocci. O que é um equívoco. Marta é a maior culpada do naufrágio que se prenuncia.

Essa forma de atuar, manifesta quando critica um eventual aumento de juros e admite a autonomia efetiva do Banco Central (em tom crítico «não temos como evitar»), ou quando parte para cima de assuntos considerados tabus, como sigilo de documentos públicos, buscam a briga de rua.

Pela primeira vez desde que assumiu o cargo e algo como a gerência do governo Lula, José Dirceu referiu-se ao partido, aos compromissos de campanha, à sua condição de parlamentar e deixou claro que não há consenso no governo sobre muitas questões.

Foi na inauguração da nova sede do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, quando diante de 200 pessoas, a maioria pesquisadores, historiadores, considerou abusivos os prazos do decreto de FHC que assegura sigilo a documentos governamentais.

A crítica de José Dirceu tornou-se mais ácida e veio para fora do Palácio, com uma outra direção, que não foge aos seus objetivos: o avanço de José Serra nas eleições para a Prefeitura de São Paulo. O ministro não se furta em dizer que se tornados públicos os documentos sobre as privatizações mais da metade do governo FHC ou foge do Brasil, ou fica e vai para a cadeia. Inclusive o ex-presidente.

Para o chefe do Gabinete Civil o governo Lula tem que mergulhar de cabeça no projeto de reeleição de Marta, sua amiga pessoal e que, na visão dele, é decisiva para os projetos futuros do PT. Dirceu tem o apoio de José Genoíno, presidente nacional do partido, espera receber sinais positivos de deputados e senadores descontentes com a área da Fazenda e tem trânsito fácil com os dois maiores caciques do Senado: Antônio Carlos Magalhães e José Sarney. A nenhum dos dois desagradaria uma derrota tucana em larga escala e, muito menos, a revelação dos escândalos no governo de Fernando Henrique.

Se vai conseguir demolir o grupo do FMI e do sistema financeiro internacional ou não é outra história.

Palocci tem por hábito evitar discussões públicas com o ministro chefe do Gabinete Civil e, fiel ao seu estilo, busca contornar os problemas direto com o presidente. Via de regra o faz exibindo conseqüências das falas de seu desafeto, na Bolsa, no mercado de um modo geral e os riscos que mudanças na política econômica implicariam. Adora um tricô, tem bem o seu feitio.

Outros fatores que pesam na decisão de José Dirceu de jogar pesado são o processo eleitoral interno do PT, ano que vem, quando serão renovadas todas as instâncias do partido (diretórios e executivas) e a reforma ministerial após as eleições municipais de outubro. Se no final do ano ou no início de 2005 não importa, importa que vai acontecer.

Lula, fiel também ao seu estilo, não deve decidir coisa alguma. Deve deixar rolar, tentar acomodar, só tomará decisões se perceber que os perigos para seu governo e conseqüentemente sua reeleição ficarem maiores.

O presidente faz de conta que coordena um governo. Coordena dois grupos: o de José Dirceu e o de Palocci. Há quem diga, inclusive, que a medida provisória que deu status de ministro a Henrique Meireles, ameaçado por várias denúncias de corrupção, ou surgiu na cabeça de José Dirceu, ou foi estimulada pelo próprio. Maneira de deixar Meireles vulnerável e dividir o grupo do ministro da Fazenda, o que não é muito difícil. Meireles sonha sair do Banco Central para o Ministério.

Toda essa aparentemente estabanada movimentação do ministro José Dirceu não deve dar em nada, por enquanto. Pode, se forçar muito a barra, resultar em sérios problemas para ele e dificultar sua permanência no governo. Tem dito inclusive que «não nasci ministro, posso voltar à Câmara». Mas quer ficar. Quer é o comando total e absoluto. Sinal que está disposto a jogar tudo numa só mão.

Dirceu tem um desafio pela frente. Prometeu a José Sarney e a Antônio Carlos Magalhães que vai reapresentar e coordenar a proposta que permite a reeleição dos presidentes do Senado e da Câmara. É um problemão e pode desandar a chamada base parlamentar de Lula.

No próximo ano o governo quer aprovar pontos definidos como prioritários pelo FMI, tipo mudanças na legislação trabalhista eliminação de alguns direitos dos trabalhadores, dentre eles o 13º mês de salário (conquista do governo João Goulart, quando Tancredo Neves era o primeiro-ministro), a reforma universitária e a menina dos olhos dos acionistas majoritários do Estado brasileiro: a autonomia/privatização do Banco Central.

A mais de uma pessoa o ministro José Dirceu já disse que sua cota de ônus político já está esgotada e sai do governo se não conseguir evitar o que chama de «essas tragédias».

Como as ruas, as que Dirceu está procurando, vão responder, é outra história. O ministro tem um passado não muito remoto de autoritarismo, de eu mais eu, pode quebrar a cara. Pode ser tarde demais para mostrar arrependimento ou justificar algumas atitudes inaceitáveis. Dirceu tem arestas com meio mundo no PT e fora dele. Banqueiros, empresários, etc, adorariam vê-lo fora do governo. Os aliados, senadores e deputados, não são nada diante dos verdadeiros donos.

Os próximos meses serão «emocionantes». Tudo indica que o presidente vai precisar de doses maciças de calmantes, ou coisas que tais, outras tantas viagens para não se enrolar com um ou outro dos litigantes e muita sorte para que uma baita crise não ponha tudo a perder. Como Lula é um expert nas artes da sobrevivência e da deglutição de sapos, se tiver que optar o faz pelo que representar melhores e mais seguras garantias de um segundo mandato.

Já José Dirceu, se perder a guerra se complica. Vai ter que refazer todo um caminho e terá que calçar sandálias franciscanas do contrário se lasca de vez. Tem feito e falado muita bobagem aos olhos daqueles que anda procurando ou tentando seduzir com um discurso à esquerda.