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Dirceu falou, falou e daí?

Fuentes: Rebelión

Lula teve que engolir Chávez a contragosto. Sem falar num embaixador brasileiro que declarou a jornalistas que o presidente da Venezuela deveria agradecer ao seu colega de Brasília, fundamental para sua vitória no referendo. Deve ser esse negócio de mudar o destino da humanidade. Espalha-se como vírus, praga. O ministro chefe do Gabinete Civil, José […]

Lula teve que engolir Chávez a contragosto. Sem falar num embaixador brasileiro que declarou a jornalistas que o presidente da Venezuela deveria agradecer ao seu colega de Brasília, fundamental para sua vitória no referendo.

Deve ser esse negócio de mudar o destino da humanidade. Espalha-se como vírus, praga.

O ministro chefe do Gabinete Civil, José Dirceu falou, falou, criticou um anunciado aumento da taxa de juros, mas é daí?

O Ministério da Fazenda anunciou que passadas as eleições municipais pode aumentar o índice do superávit primário. Já não dá nem para repetir a velha charge do cinto enforcando o trabalhador, a língua para fora. Não há o que enforcar.

O anúncio que o Brasil pode não renovar o acordo com o FMI não muda coisa alguma da agenda prevista por aquele organismo. E vai ser preciso esperar para ver.

A reforma sindical que transforma sindicatos em aparelhos do poder público dirigido por fantoches já foi gestada e, como tudo no governo Lula, vem depois das eleições.

A reforma universitária que, na prática, oficializa a privatização do ensino de terceiro grau, mais que isso, sua absoluta adequação ao neoliberalismo, nada que possa produzir capacidade de pensar, ou consciência política, está em curso em aparente baixa velocidade. Corre solta por baixo dos panos.

Direitos dos trabalhadores, como o décimo terceiro mês de salário, serão alvos de ataques a partir de janeiro do próximo ano. É possível até que, terminado o segundo turno das eleições de outubro, o governo comece a apressar essa série de projetos neoliberais.

Três ameaças de amplo espectro: a autonomia do Banco Central, já existe de fato. A lei de biossegurança, que abre espaços para os transgênicos, sem qualquer espécie de controle e o projeto que fatia e privatiza a Região Amazônica.

O que a ministra Marina da Silva faz no Meio Ambiente ninguém sabe. Acho que nem ela mesma.

O processo eleitoral interno do PT, ano que vem, vai confirmar o grupo lulista no controle do partido e afastar de vez qualquer veleidade da esquerda em mudar os rumos do governo. Se alguém disser que há uma disputa de fato no governo do presidente Néstor Kirchnner, na Argentina, é verdade. No governo Lula não. Está irremediavelmente atrelado ao projeto neoliberal. Uma ou outra demão de populismo tipo salvar a humanidade. Efeito especial. E mesmo assim Duda Mendonça já não é unanimidade. Dois ou três diretores diferentes já palpitam no roteiro.

Dizer que o ministro José Dirceu faz jogo de cena na briga com a turma do dinheiro não seria correto. Dirceu tem outras idéias e outros projetos em se tratando de governo. Nenhum deles, no entanto, muda a essência das coisas. A característica do governo Lula. É mais briga de poder que outra coisa. O clássico quem manda mais.

Palocci tem mandado o tempo todo. Resta saber se Dirceu vai cumprir o que tem dito e voltar ao Congresso. Ou se escorar no argumento que ficando evitar um mal maior. Se Marta Favre perder as eleições em São Paulo as penas vão voar para todos os lados. Cada um vai culpar o outro.

O V Fórum Social Mundial deve refletir, em janeiro, esse debate: Lula, ou o que? Existe disputa no âmbito do governo ou não? Como vai ficar o País e a América do Sul na hipótese, cada vez mais real, da reeleição de Bush? E Cuba diante da ameaça terrorista do IV Reich? Chávez e a revolução bolivariana? A ALCA, por inteiro ou em pedaços? Os caminhos da resistência, esse o desafio.

O próprio Fórum tem dois momentos. O das ONGs, em sua maioria braços do governo e do reformismo e o do conjunto de forças do movimento social. Um fórum de burocratas, todo certinho e um fórum das ruas, como sistematicamente tem acontecido, ao arrepio do estatuído nos palácios do reformismo. Nas ruas, o grito é a luta pelo socialismo.

O ministro José Dirceu é episódico nesse processo todo. Como Lula, se acha maior do que é. Fala, fala, mas e daí?

A luta popular não passa mais nem por Lula e muito menos pelo PT. O desenlace partido e o socialismo é cada dia mais real, mais concreto.

As perspectivas são de novos caminhos. Esse é o debate das forças populares. O «enigma» a que se referiu Chico Oliveira, várias vezes.

O mundo institucional é cada dia mais um clube de amigos e inimigos cordiais, onde a única briga é por poder pelo poder. Quem vai assentar no trono, quem vai fingir que é oposição. Só isso.