São muitas as razões. Uma derrota de Raul Pont (note que escrevo Raul Pont e não derrota do PT) significa a reconquista, depois de 16 anos, da cidade sede do Fórum Social Mundial. Da capital do Estado brasileiro onde prospera em larga escala o chamado agro negócio (o mundo dos transgênicos). De uma região estratégica […]
São muitas as razões. Uma derrota de Raul Pont (note que escrevo Raul Pont e não derrota do PT) significa a reconquista, depois de 16 anos, da cidade sede do Fórum Social Mundial. Da capital do Estado brasileiro onde prospera em larga escala o chamado agro negócio (o mundo dos transgênicos). De uma região estratégica para o controle do chamado Cone Sul, onde Washington afirma existirem terroristas (como se os terroristas não fossem eles!) e onde habitam sobreviventes da Idade da Pedra, o latifúndio e as elites urbanas mais boçais do Brasil.
Porto Alegre tem uma importância estratégica muito maior que São Paulo no quadro atual da conjuntura política brasileira.
Raul Pont, atrás nas pesquisas de opinião, mas dando sinais de recuperação, é vítima de Lula e sua turma. Da irresponsabilidade política de um oportunista Tarso Genro. Muito mais que propalados desgastes de quatro administrações sucessivas do PT.
O que aconteceu com o cantor Leonardo, agredido por cabos eleitorais de José Fogaça, candidato da direita. As patrulhas terroristas que varrem as ruas da cidade agredindo e intimidando militantes da candidatura Pont, são só um pálido exemplo da disposição dessa gente em conquistar a Prefeitura de Porto Alegre a qualquer preço.
Lula não tem a menor idéia disso. Não tem a menor idéia de nada. Além de um equívoco seu governo é uma grande trapalhada. O presidente nacional do partido, José Genoíno, aparece em programas gratuitos defendendo candidaturas ditas aliadas, as do PTB, de figuras no mínimo corruptas, algumas ligadas a setores do crime organizado.
Pont paga o preço desse desvario de um grupo que não acredita existir mundo fora das fronteiras de São Paulo e não percebe que está sendo engolido em cada momento, em cada situação gerada pelas forças mais brutais da direita brasileira.
O episódio das fotos de Wladimir Herzog. A presença de representantes da Ku Klux Klan no governo, o caso do ministro da Agricultura e da Monsanto, Roberto Rodrigues (apóia Fogaça através de seus amigos). Nada disso é gratuito, como muitos outros fatos. Têm objetivos claros e precisos.
O que acontece na campanha eleitoral de Porto Alegre mostra também a pouca ou inexistente força do governo sobre o que quer que seja. E a prisão de Duda Mendonça, o diretor do filme de ficção que finge governar o Brasil desde janeiro de 2003, é outra prova disso. O esquema foi montado nos porões da Polícia Federal, teoricamente subordinada ao ministro da Justiça, atingindo em cheio a campanha de Marta, o governo (governo?) de Lula.
Sabiam que Duda Mendonça era sócio da rinha desde que a rinha começou a funcionar. Esperaram o momento certo. E nem justifico ou defendo o marqueteiro. Um profissional que serve a quem pagar (já trabalhou para Maluf), um dos responsáveis pela transformação da política em grande negócio e dos políticos em marcas de sabão em pó. Como briga de galo é algo primitivo e estúpido, caberia bem em latifundiários do Rio Grande do Sul.
Não existe um veículo de comunicação, dos grandes, independente em Porto Alegre. Durante o governo de Antônio Brito viveram literalmente de dinheiro público. O esquema não funcionou no governo Olívio Dutra, vai de vento em popa no governo de Germano Righotto.
A vitória de um político inexpressivo, fácil de ser controlado, manobrado, no caso o candidato José Fogaça, significa o retorno de Porto Alegre à velha rotina política da corrupção, do clientelismo, como o desmonte dos avanços obtidos nos dezesseis anos de administração do PT (não é o PT de São Paulo) e apesar de Tarso Genro.
É suspeita, juízo meu, a declaração da deputada Luciana Genro, do PSOL, sobre ser Pont representante de um tipo de direita e Fogaça de outro, pregando o voto nulo. A deputada é de ultra-esquerda no discurso. Na prática se apresenta aos eleitores como «eu sou a filha do Tarso».
A questão não é se Pont é do PT ou não. O PT está morto como partido popular. Não consegue sequer ser um PSDB do B é só um simulacro do PTB collorido.
Pont, além de ser um político sério, foi um ótimo prefeito na capital, tem consciência que paga o preço dos erros do governo de Lula e do partido em âmbito paulista/nacional.
A forma violenta, animalesca como os pistoleiros de Fogaça (do latifúndio e das elites urbanas da cidade e do Estado) intimidam, ameaçam e agridem militantes da candidatura Pont é a medida da importância que atribuem a Porto Alegre.
A direita ali não conhece garfo e nem faca e não fala mais nada além de uga uga.
Lutar por Pont é lutar por algo diferente de Lula e seu PT. É lutar por manter um espaço do sonho e da determinação de construir um outro mundo possível.