Imaginar que as forças golpistas desistiram de fraudar o referendo de domingo na Venezuela é acreditar em história da Carochinha. Há indícios claros que toda a sorte de trapaças possíveis está no roteiro tanto da Casa Branca, como das elites venezuelanas. Todo cuidado é pouco. Toda vigilância será sempre insuficiente diante do terrorismo norte-americano. Não […]
Imaginar que as forças golpistas desistiram de fraudar o referendo de domingo na Venezuela é acreditar em história da Carochinha. Há indícios claros que toda a sorte de trapaças possíveis está no roteiro tanto da Casa Branca, como das elites venezuelanas.
Todo cuidado é pouco. Toda vigilância será sempre insuficiente diante do terrorismo norte-americano. Não têm escrúpulos, limites e elites de países latino-americanos são apátridas. Ou melhor: conhecem apenas a pátria dos negócios, do mercado.
É fácil perceber intenções golpistas. O noticiário da imprensa brasileira, de um modo geral, traz informações deformadas e acena sistematicamente com a pergunta sobre o futuro do país sem Chávez. De forma indireta tenta preparar a opinião pública para uma eventual vitória do sim, tanto quanto, noticia, espertamente, que denúncias de fraudes ocorrem dos dois lados.
O golpe fracassado que derrubou Chávez por 48 horas foi tratado assim nos principais veículos de comunicação do Brasil, principalmente a Rede Globo, cuja audiência do noticiário das 20 horas é a maior. O Jornal Nacional, com antecedência de uma semana, começou a exibir uma série de reportagens sobre o governo bolivariano e realçando aspectos que considerava negativo. Chegou a enviar uma das principais porta-vozes do neoliberalismo e dos bancos na imprensa, Miriam Leitão, a Caracas. Como era de se esperar, em seu estilo agressivo, falou horrores de Chávez.
O tratamento dado pela mesma rede, a maior do Brasil, às vésperas do referendo, é o mesmo. Quando mostra as ruas de Caracas com os partidários do sim, quando alude ao golpe fracassado e não mostra o seu resultado, omite a volta de Chávez e quando dá ênfase às acusações de fraude.
O magnata da imprensa venezuelana, um dos principais adversários de Chávez, Cisneros, esteve no Brasil há cerca de um mês para lançar seu livro, operação despiste, quando na verdade acertava o comportamento da imprensa daqui em relação ao novo golpe, ou nova tentativa.
Nos últimos dias as análises têm insistido em mostrar o alto número de indecisos e feito sistemática referência ao fato das urnas eletrônicas na Venezuela não aceitarem abstenção. Confesso que entendo abstenção como quem deixa de comparecer ao processo eleitoral. Máquinas, a meu ver, podem rejeitar votos nulos ou brancos.
Como dizia o barão de Itararé, velho e notável jornalista brasileiro, «há algo no ar, além dos aviões da carreira».
A vitória de Chávez é decisiva para os movimentos populares na América Latina. E mesmo acontecendo, o que é o natural, não acaba com as intenções golpistas de norte-americanos e das classes dominantes venezuelanas.
No domingo se joga a sorte de todo o conjunto de forças populares desta parte do mundo. Por isso todo cuidado é pouco.
A intenção de um governador de estado, oposição ao presidente, de começar a divulgar os resultados antes do término da votação em todo país é, por si só, manifestação de golpismo, viola as regras estabelecidas e aceitas pelo conjunto de forças que participam do processo.
Será um dia de luta.
De um lado a busca da afirmação de um governo identificado com as lutas do povo venezuelano, hoje com dimensão para todos os povos dos países da América Latina. De outro, o retrocesso neoliberal.
As portas escancaradas para o controle absoluto dos países da América do Sul, pois a América Central, a exceção de Cuba, é território norte-americano. E governos supostamente comprometidos com mudanças já caíram diante dos donos do mundo, dentre eles o de Lula, no Brasil.
A vitória de Chávez, por outro lado, fecha as portas a uma intervenção militar em Cuba, dificulta a ação terrorista de Bush e abre caminhos para vitórias na Bolívia e nas futuras eleições colombianas, além de permitir ao presidente argentino, Nestor Kirchner, ações mais ousadas em relação aos norte-americanos.
O sentimento do mundo se percebe facilmente está com Chávez. Ficou visível hoje na abertura dos jogos olímpicos na Grécia. A delegação mais vaiada, a dos Estados Unidos, seguida da de Israel. As mais aplaudidas, as do Iraque, da Palestina e do Afeganistão, além evidente de países normalmente simpáticos no mundo esportivo, como Brasil, Espanha e Itália.
Num momento como este não é demais lembrar a frase do secretário geral da ONU, Koffi Anan, quando um jornalista norte-americano lhe disse que o mundo era contra os Estados Unidos. «Você já se perguntou por quê», respondeu-lhe Anan.
O domingo na Venezuela é decisivo para a América Latina. A vitória de Chávez terá que ser arrancada nas urnas e na luta para evitar a fraude, o golpismo.
Terroristas do mercado e golpistas não têm a menor preocupação com o povo de seu país. Só com os negócios.