Eleições são o show de sexo explícito da farsa democrática destinada a perpetuar o jogo de amigos e inimigos cordiais, enquanto bombas norte-americanas são despejadas em bairros pobres de Bagdá, ou cidades iraquianas não submetidas à barbárie do IV Reich. O processo de recolonização da América Latina é de tal ordem que desde a vitória […]
Eleições são o show de sexo explícito da farsa democrática destinada a perpetuar o jogo de amigos e inimigos cordiais, enquanto bombas norte-americanas são despejadas em bairros pobres de Bagdá, ou cidades iraquianas não submetidas à barbárie do IV Reich.
O processo de recolonização da América Latina é de tal ordem que desde a vitória de Carter, em 1976, as principais redes de televisão de países como o Brasil transmitem ao vivo os debates entre candidatos à presidência dos Estados Unidos.
A maior preocupação da grande mídia por aqui, às vésperas das eleições municipais, é com o espetáculo. As regras do jogo foram montadas à época da ditadura militar, levemente modificadas com a Constituição de 1988.
O processo eleitoral em sua linha de chegada toma aspectos de grande happening. A preocupação da maior rede de tevê do Brasil, a Rede Globo, é mostrar pessoas aprendendo a votar ou esclarecendo dúvidas sobre a urna eletrônica.
Uma garotinha, numa escola pública de alguma cidade brasileira, tecla os números num exercício de aprendizagem e em seguida afirma: «aprender a votar certinho para quando eu tiver dezesseis anos não errar e votar bem».
Votar bem no conceito dos donos do poder significa apertar as teclas de maneira correta. Se não existem possibilidades de conferência do voto, ou se é impossível a recontagem no caso de denúncia de fraude, por não existir voto impresso, isso é o de menos. Um funcionário da justiça eleitoral, um dos maiores partidos políticos do Brasil, nas sombras, aparece ato contínuo para dizer que o sistema é seguro e à prova de fraudes.
Não foi o que disseram técnicos norte-americanos quando o sistema chegou à Califórnia. Nem é o que Jimmy Carter anda dizendo sobre as eleições na Flórida.
A Justiça Eleitoral lembra, aqui, o momento em que leões desdentados e tigres velhos e cansados são levados à grande jaula no ápice do espetáculo circense. Tem o chicote às mãos para evitar qualquer suposto ataque, fora do que foi combinado antes. Ataque é aquilo que ameaça mudar qualquer coisa.
Um dos momentos mais importantes, do ponto de vista da mídia, é o dos debates, via de regra no último dia da chamada propaganda eleitoral. A Globo, a rigor, tem o monopólio dessa parte do show.
Um juiz eleitoral concedeu a um candidato do PSTU à Prefeitura de uma cidade do Estado de Minas Gerais, o segundo maior do Brasil, liminar garantindo sua presença no debate final. Em menos de uma hora a afiliada da Globo conseguiu cassar a medida no TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Nos debates só os mais citados nas pesquisas do IBOPE.
O instituto só trabalha para a Globo em matéria de pesquisas. Ajusta seus números aos números próximos da realidade como forma de não correr riscos com os resultados. O jargão «empate técnico» é o mais usado para isso. Induz, do princípio ao fim do processo, o voto nos candidatos do sistema.
Romper esse círculo vicioso que não muda coisa alguma não depende do chamado institucional. Mas da percepção que eleições com as regras vigentes na grande maioria dos países latino-americanos e agora também nos Estados Unidos, não são mais que um grande circo armado para fingir que o cidadão participa do processo, decide e é o responsável pelos rumos que são dados desde os da sua cidade, aos do seu país.
«Operação Dias de Penitência». Com esse título que soa macabro, ironia de genocidas, o exército de Israel massacrou palestinos na Faixa de Gaza. Homens, mulheres e crianças.
Tentando evitar surpresas com a demonstração de força da resistência iraquiana, George Bush, candidato à reeleição, promove chacinas naquele país em nome da democracia. Se morrem cerca de 200 iraquianos por dia, entre homens, mulheres e crianças, vai dizer que vale o preço da democracia quando, na verdade, vale um segundo mandato e grandes lucros para o império do IV Reich.
No Brasil vale uma posição mais vantajosa na partida para as eleições presidenciais de 2006. Tucanos tentam ocupar espaços para viabilizar a candidatura de FHC. Petistas assegurar a reeleição de Lula.
Um candidato a prefeito foi hostilizado por uma militante adversária. Como a bandeira do outro candidato, segura pela militante, bateu no rosto e na cabeça do candidato, deu um soco na boca da moça. Quebrou-lhe um dente.
Estava à entrada de um debate. E o fez com um lenço na cabeça, simulando dor, ferimento. À noite alguém perguntou a ele como pode tomar pontos no lugar sem que o cabelo à volta fosse raspado? Ligado à lavagem de dinheiro, corrupto, apenas sorriu. O objetivo era enganar o eleitor, a posição de vítima. Um dos jornais da cidade, no esquema da grande mídia, colocou na primeira página: «candidato é agredido».
A próxima atração da Globo é o Big Brother V. Como as eleições são domingo já estão anunciando as picantes cenas que deverão ocorrer na casa do programa.
Sai a pornografia eleitoral, entra a pornografia pura e simples.
Como diz Debort: «é só imagem».
Se lasca a liberdade. Se lascam os trabalhadores.
Bancários em greve não conseguem um percentual mínimo de aumento, quando bancos privados (Bradesco e Itaú) lucram algo em torno de 350 mil reais por minuto segundo os seus últimos balanços e balanços semestrais.
Nesta reta final a disputa é por audiência no domingo e durante as apurações.
Na segunda começam a apresentar os participantes do Big Brother.
Na agulha do fuzil neoliberal a reforma sindical, a reforma universitária, o fim de direitos trabalhistas, a privatização do Banco Central via autonomia, os transgênicos com ou sem medida provisória, com ou sem lei.
O jogo é sórdido e não muda coisa alguma. Pelo contrário existe para que tudo fique como está. Uma espécie de «Show de Truman». Um faz de conta até que um dia alguém perceba que por aí não existe alternativa para outro mundo possível.