A direção nacional do PT está convocando os deputados petistas para esta semana, para o que chama a arrancada da candidatura do deputado Luís Eduardo Greenhalgh à presidência da Câmara. José Genoíno quer eliminar problemas de imediato. Já tratou do assunto com outros partidos. O deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB deu sinais que […]
A direção nacional do PT está convocando os deputados petistas para esta semana, para o que chama a arrancada da candidatura do deputado Luís Eduardo Greenhalgh à presidência da Câmara. José Genoíno quer eliminar problemas de imediato. Já tratou do assunto com outros partidos.
O deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB deu sinais que aceita o enquadramento, pelo menos pró-forma, ao declarar que não é candidato ao cargo e apóia as regras do jogo, tudo para não prejudicar a candidatura de seu partido, a do senador Renan Calheiros, à presidência do Senado.
Os deputados do PT estão sendo convocados, através de telefone, a Brasília para uma reunião sobre o assunto. Ao final da convocação a ameaça de punições para quem não comparecer, não aceitar o nome de Greenhalgh ou fizer declarações que possam dificultar o caminho oficial.
Há pelo menos três tipos de deputados no PT, talvez mais. O rebanho domesticado, tangido e conduzido pelo Planalto que vota tudo sem discrepar, não importam nem o passado, nem os compromissos do partido, importa o jogo político institucional. O professor Luizinho é o expoente máximo desse grupo.
Um segundo, intermediário, que resiste, resiste, de público e, na hora agá senta em cima e vota com o governo, muitas vezes movido a solução de pendências junto ao governo. Há queixas de indicações não atendidas, de verbas não liberadas e vai por aí afora.
E, um terceiro, que mantém os compromissos assumidos em praça pública e que acaba por trazer a público toda a sorte de manobras do Planalto no sentido de obter o que deseja. É o caso do deputado Chico Alencar, do Estado do Rio.
A reunião convocada pela direção nacional quer fechar o assunto presidência da Câmara, segue-se a uma série de acordos feitos com partidos da base aliada (que também reagiram à indicação do deputado paulista) e passa por aí o acordo feito com o prefeito de São Paulo, José Serra, para permitir atraso no pagamento das dívidas daquela Prefeitura. A derrota do candidato de Serra à presidência da Câmara Municipal soou como alerta pois o prefeito ameaçou retaliar nacionalmente, através do PSDB.
Há um consenso tácito que o partido que tem a maior bancada indica o presidente da Câmara e na esteira das alianças parlamentares o mais importante da base aliada indica o presidente do Senado. Isso vem de longe e é comum aos parlamentos de um modo geral.
Em alguns momentos grupos rebeldes conseguiram ganhar. Ou por terem seus interesses contrariados, ou pela proximidade de eleições, mas via de regra por ajustes internos excepcionais, ou seja, que fugiam da tal regra tática.
Do ponto de vista do movimento social a presidência da Câmara não tem relevância alguma na medida que o Parlamento, como um todo, é parte do jogo de cena das elites, daquilo que Saramago chama de «farsa democrática».
Uma igreja onde os sinos são de madeira e não ecoam.
Na edição de hoje, domingo dia 9, um dos colunistas da segunda página da Folha de São Paulo fala que José Serra começa seu governo com medidas semelhantes às que Lula tomou no início de seu mandato. Reforma da previdência municipal, corte nos proventos de aposentados e pensionistas, contribuição geral, as regras do neoliberalismo.
A disputa no mundo institucional é de poder e não ideológica.
É pouco provável que a candidatura do deputado Virgílio Guimarães se mantenha. O torniquete em torno de deputados petistas vai ser apertado ao limite máximo, uns poucos têm estrutura ou caráter para resistir, a maioria vai se esconder atrás do biombo da fidelidade partidária.
O equívoco de considerar e aceitar o grupo paulista que domina o partido como dono do programa, dono dos estatutos.
O caráter paulista de PT e PSSB é uma constatação de vários jornalistas, sociólogos, cientistas políticos. José Genoíno mesmo não sendo paulista, como José Dirceu, Lula e outros, os três não conseguiram ainda ultrapassar fronteiras daquele Estado.
Não se trata de ser anti-paulista. É pensar a luta popular como algo maior que interesses mesquinhos de fulano que quer senador, que acha que é preciso dar uma lição no Suplicy, ou o governo é meu e ninguém tasca, em prejuízo da história, das lutas e do programa do partido.
O governo como diria Gilberto Gil, ministro da Cultura, já pegou régua e compasso e já traçou suas retas e curvas, muito mais curvas, em direção principalmente a 2006. A disputa interna não se dá pela aceitação das regras e pela fidelidade canina ao grupo dominante. Ela não se resolve num ambiente doméstico.
É com 2006 que o governo esgrime em cima dos deputados que eventualmente possam discrepar, ou tentar enfrentar o trator palaciano.
A reforma ministerial está sendo jogada para a frente, para depois das eleições internas na Câmara e no Senado. Lula tem a intenção de diminuir a presença do PT no governo, ampliar a de partidos aliados e construir o tal arco que garanta antecipadamente a reeleição em 2006. Vem aí uma enxurrada de obras nas tais PPP (Parcerias Público Privadas)
O caso de Minas, por exemplo. Patrus Ananias já avisou que não é candidato ao governo do Estado. O prefeito de BH, Fernando Pimentel também, tudo num claro aceno a Aécio Neves, aliado ora às claras, ora oculto do governo, que pode tocar também sua reeleição.
Resta enquadrar alguns dissidentes, alguns riscos eventuais e independente de mérito ou não, o deputado Virgílio Guimarães soa como risco eventual. Como Olívio Dutra, torpeado em seu Estado, em 2002, quando José Dirceu chegou à conclusão que era melhor ter Tarso candidato que correr riscos de radicalização da campanha e atrapalhar Lula.
Deu no que deu. Nem Governo do Estado, nem Prefeitura. Já São Paulo, bom aí é outra história. A Prefeitura foi perdida mas o jogo real é em 2006.
O que a candidatura Virgílio Guimarães, num dado momento significou e pode significar é exatamente isso. Fugir do jogo de cartas marcadas que vai garantir na hora certa a reeleição de Aécio, a de Righotto, a de Luís Henrique, etc, etc, pois o importante é Lula a qualquer preço, e São Paulo de qualquer jeito.
Isso não é nem PT e nem tem compromisso algum com mudanças, com luta popular ou com o socialismo.