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Gutenberg e «Veja»

Fuentes: Rebelión

Eu tenho a impressão que onde quer que esteja, se estiver em algum lugar, Gutenberg deve se assombrar com a transformação da simples máquina impressora que inventou. O poder de demolir valores, culturas, mentir, o oposto daquilo que caracterizou a imprensa em momentos de extraordinária importância histórica. O caso da revista «VEJA», por exemplo. A […]

Eu tenho a impressão que onde quer que esteja, se estiver em algum lugar, Gutenberg deve se assombrar com a transformação da simples máquina impressora que inventou. O poder de demolir valores, culturas, mentir, o oposto daquilo que caracterizou a imprensa em momentos de extraordinária importância histórica.

O caso da revista «VEJA», por exemplo.

A revista dedica-se ao exercício de vender a idéia que o que é bom para o capital é bom para o Brasil. Se folheada vai ser possível descobrir os que de fato financiam a publicação. Bancos, grandes corporações. E, assim, entender a razão de ser da revista.

O que causa espanto é a forma infantil como os textos são escritos no sentido de assustar as classes médias, o velho fantasma do comunismo sob outro nome, atraso, a idéia que vende progresso, desenvolvimento, bem estar e todo mundo pode chegar um dia ao paraíso de Comandatuba.

A técnica da mentira vem no velho estilo do bicho papão. Se não dormir direitinho, o que equivale a votar em gente como José Maluf Serra, ou Paulo Serra Maluf, ou Fernando Henrique Cardoso, ou Germano Righoto, se não reverenciar expoentes do mundo dourado dos «256 homens e mulheres mais importantes do país», está fora, não sabe nada é atrasado.

«VEJA» tem especial predileção por atacar o líder do MST, João Pedro Stédile e ainda não absorveu Lula (talvez porque o presidente tenha virado monopólio da Globo e isso é outra história).

A última edição da revista se dedica a mostrar o crescimento do MLST que, ao contrário do MST que está cada vez mais distante do governo Lula, aproxima-se do governo.

O curioso é a comparação que a revista faz entre os líderes dos dois movimentos. Stédile, para ojeriza da publicação, não toma coca cola, não consome produtos norte-americanos. Já Maranhão, do MLST não só bebe o refrigerante, como morou no exterior e fala francês de maneira fluente.

Como se isso tivesse importância além da decisão de boicotar produtos oriundos do país colonizador, gesto legítimo de protesto e coerência. Millôr Fernandes escreveu há anos, no antigo «O CRUZEIRO», «a corrupção começa no cafezinho».

Mas é o bicho papão. Como que dizer que no caso do MST conseguir chegar ao poder, esgrimem com isso, todos vamos ter que tomar guaraná Dolly. Ou refrigerantes sabor cola sem a grife da coca. Nada de McDonalds.

O papel que a imprensa cumpre hoje é esse. Transformar o cidadão num idiota completo, adorador de televisão, consumidor ávido de novidades, falo da grande imprensa, a dita livre, democrática e defensora dos valores morais e cristãos de nosso povo, desde que…

Pingue no caixa.

Chama Stédile de furibundo, como se isso o tornasse motivo de execração, sugerindo o radical inconseqüente. Meireles, o chairman do Banco Central é sonegador. Já o banco do qual foi presidente…

Anuncia em «VEJA».

«VEJA» cumpre o papel de seduzir o leitor supostamente inteligente, mas tratado como idiota, como bobo. Mostrar todas as maravilhas do mundo atual e permitir que os tais «256 homens e mulheres mais importantes do país», continuem a brincar em festinhas seja em Comandatuba, seja, como se está organizando, num safári na África. Negócio de bwana dos velhos filmes do Tarzã em que o nativo carrega as malas.

Vai mostrando as divergências entre MST e MLST até que, ao final, dá a ripada. Ambos são contrários aos agro-negócios. A revista mostra que a turma que lucra com o trabalho escravo, é a turma dos agro-negócios, é a responsável pelo crescimento da economia no Brasil.

Desempenhado o papel de mostrar Stédile como demônio, ripa um e outro, o seu verdadeiro objetivo.

É simples entender isso e de uma forma bem linear. «VEJA» defende a sociedade escravocrata do campo. Latifúndios como o do ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Ou negócios como os do ministro Luís Fernando Furlan.

Para esses caras se a vida humana se extinguir nos próximos 200 anos por conta dos desvarios praticados contra ela, a vida, como esgotar a terra, poluir de forma absoluta o ambiente, não tem problema algum, pelo simples fatos que eles, os tais 256, estarão encastelados em fortalezas vigiadas por armas inteligentes (é assim que chamam a boçalidade) e o povo, camponeses, trabalhadores de um modo geral, do lado de fora, sob açoite, vivendo na miséria, fome, sem saúde, sem educação, como agora, como tem sido ao longo dos séculos de sistemática exploração das classes dominantes.

É por esse motivo que querem o controle das fontes naturais de energia, querem o controle das reservas de água do mundo. Querem bases militares e campos de concentração a moda de Guantánamo por todos os lados e, sobretudo, presidentes que se acreditam iluminados e condutores do seu povo à terra prometida, no caso Lula, seguidor e discípulo fiel do deus mercado, via FMI, Banco Mundial, OMC, santos imaculados do sistema.

Não são outros os motivos que querem a cabeça de Hugo Chávez, querem por fim à revolução cubana (chamam igualdade e políticas públicas de saúde e educação de atraso), invadem e ocupam países como o Iraque, o Afeganistão, a Colômbia, elegem enviados divinos como Bush num arremedo de democracia cercada de fraude por todos os lados.

E, evidente, não querem a reforma agrária. Sabem mas não querem que ninguém saiba que a reforma agrária está para além da simples distribuição de terra a camponeses sem terra.

É a luta por um modelo diferente desse que está aí.

É o que incomoda e leva a revista, no caso de «VEJA», a mídia de um modo geral, a satanizar a luta popular.

Já imaginaram se as dondocas e dondocos não puderem desfrutar de festas verdes, vermelhas, amarelas, com trajes típicos, safáris na África, etc, etc?

É bom que esteja na memória de cada um que os jornalistas convidados para cobrir o tal evento, ou tais eventos, são/foram mimoseados com brindes, afagos, coisas do gênero, que ultrapassam e de longe o cafezinho do qual fala Millôr.

O negócio é tão bravo que quando saiu o livro do jornalista Mário Conti relatando casos escabrosos na redação da revista, muita gente lamentou não fazer parte desse mundo podre.

É o que a revista faz. Apodrecer o ser humano. Torná-lo rês para marcá-lo mais facilmente.