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Ironias da história ou o triunfo dos farsantes

Fuentes: Rebelión

Empossados nos governos de seus estados, em 1983, 31 de janeiro, Leonel Brizola, Tancredo Neves e Franco Montoro se reuniram em São Paulo para discutir uma agenda com vistas às eleições presidenciais e a todo o conjunto de dificuldades que enfrentariam, levando em conta o governo João Figueiredo. Pontos comuns para superar dificuldades. Estavam herdando […]

Empossados nos governos de seus estados, em 1983, 31 de janeiro, Leonel Brizola, Tancredo Neves e Franco Montoro se reuniram em São Paulo para discutir uma agenda com vistas às eleições presidenciais e a todo o conjunto de dificuldades que enfrentariam, levando em conta o governo João Figueiredo.

Pontos comuns para superar dificuldades. Estavam herdando estados falidos.

Em meio à reunião uma grande manifestação à porta do Palácio do Governo, em São Paulo e Montoro sem bem ter idéia do que fazer. Eram os primeiros sinais de explosão popular contra a ditadura, os estertores do regime militar.

Exaltados, os manifestantes ameaçavam arrebentar as grades do Palácio e Montoro continuava indeciso. Nem Brizola e nem Tancredo queriam dar palpites, era a terra do governador paulista.

Mas, sempre o mas, num dado momento, ao perceberem o temor que tomava conta de Franco Montoro, aconselharam-no a mandar cercar o Palácio, sem violência e a receber uma comissão de manifestantes. Não me lembro se professores e se professores, certamente lá esteve o atual líder do governo Lula, professor Luizinho.

Foi o que Montoro fez. E admitiu depois que Brizola e Tancredo foram decisivos para acalmar os ânimos.

Brizola, Tancredo e Ulisses Guimarães foram os três últimos políticos brasileiros com porte e estatura de estadistas.

Como disse César Maia, a «morte de Brizola fecha o século XX na política».

Imagine agora um País como o nosso com três figuras nessa dimensão e nenhum deles foi presidente da República. Tancredo foi eleito, morreu, nem tomou posse.

José Sarney foi. Collor de Mello foi. Itamar Franco foi. FHC foi. Lula é. Ironias da história. O triunfo das farsas. Da mediocridade.

Hoje ouvi de minha mãe, 90 anos de idade, lúcida, eleitora de Eduardo Gomes, Juarez Távora, Jânio Quadros, que «Brizola era um guerreiro, um grande brasileiro». E dentre seus valores: «um político honesto».

Eu me lembro que, quando governador do Rio, a revista Playboy partiu para cima de sua filha, Neusinha. Queria-a em fotos e nua. O governador pai/avô foi à Justiça e conseguiu suspender a publicação em nome de preservar os netos.

Censura?

De forma alguma.

Os valores de hoje, os que elegem gente como Collor, FHC e Lula são bundas e bíceps. Foi só postura de um homem digno. Nem censura e nem moralismo hipócrita.

Brizola, como Tancredo, como Ulisses, sempre soube entrar em cena no momento exato. Os três souberam sair de cena também no momento exato.

A morte de Brizola encerra de fato um ciclo na política nacional. Resta Arraes. Nunca, no entanto, conseguiu dimensões de líder nacional, apesar de ser um digno e valoroso combatente.

Há um pouco da luta de Brizola em cada brasileiro. Na minha geração então, há um muito. Isso me foi dito, ontem, logo após a notícia da sua morte, por uma pessoa do coração.

Eu fico vendo o Estado do Rio nas mãos do casal Garotinho. O Rio Grande do Sul entregue a Germano Righotto. O Brasil perdido e perplexo com um governo confuso e sem rumo, o de Lula.

Aí a conclusão é inevitável: não importa que com Brizola, ou um dos três que citei, tivesse sido pior. O pior deles teria sido melhor que qualquer Sarney da vida.

Tancredo costumava dizer que Darcy Ribeiro era um louco. Mas ressaltava: «um louco santo, íntegro e cheio de brasilidade». Para logo em seguida disparar: «Já esse Fernando Henrique é o contrário, além de tudo um bajulador».

Brizola, em 1982, teve consigo, lado a lado, Luís Carlos Prestes, Oscar Niemeyer, Millôr Fernandes, Paulo Francis, militantes anônimos, uma plêiade de brasileiros que sabia estar começando ali, no Estado do Rio, uma história que poderia ter sido diferente.

Não foi. Caímos nas garras da democracia que não muda. Fisiológica. Acho que foi por isso que ele resolveu sair de cena.

No mundo movido a bundas e bíceps não cabem lideranças como a dele.

E as que ficam, as que surgem, as que caminham resistindo a toda essa pantomima lulista, sabem que o caminho tem muitas partes escritas por Brizola.