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Lula e a jaula do leão

Fuentes: Rebelión

O Ministério Público está investigando o controlador norte-americano do Banco Central do Brasil, Henrique Meireles. Há suspeitas de sonegação fiscal. A denúncia foi feita pela revista «Isto É». Henrique Meireles, ex-presidente mundial do Bank of Boston, se aposentou e veio para o Brasil, onde comprou, nas eleições de 2002, um mandato de deputado federal. Candidato […]

O Ministério Público está investigando o controlador norte-americano do Banco Central do Brasil, Henrique Meireles. Há suspeitas de sonegação fiscal. A denúncia foi feita pela revista «Isto É».

Henrique Meireles, ex-presidente mundial do Bank of Boston, se aposentou e veio para o Brasil, onde comprou, nas eleições de 2002, um mandato de deputado federal. Candidato por Goiás, recebeu a maior votação da história daquele Estado, sem nunca ter tido qualquer militância política ou sequer ali residir. Meireles foi candidato pelo PSDB, partido do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Segundo a denúncia feita pela revista, o norte-americano, nascido no Brasil, não apresentou declaração de imposto de renda relativa ao exercício de 2001, ano em que residia nos Estados Unidos. Só que, para ser candidato, apresentou atestado de residência à Justiça Eleitoral e declaração de patrimônio e renda. E referente àquele ano. Há discrepâncias entre suas declarações.

A ação corre em sigilo e o diretor de política monetária do Banco Central também está sendo investigado.

Meireles aceitou o convite do presidente Luís Inácio Lula da Silva para ser o controlador do Banco Central, para o que teve que renunciar ao seu mandato de deputado federal, ato visível de opção pela política econômica neoliberal, antes mesmo da posse do atual presidente.

O Banco Central, através de nota, repudia o noticiário, fala em processo contra a revista e ignora as investigações do Ministério Público.

O ministro Luís Gushiken, alvo de espionagem feita pela Kroll, a pedido da Brasil Telecom, no jogo sórdido de empresas privadas, reagiu com nota ao que chamou de «investigação imunda». Gushiken, na nota, afirma que os mails descobertos pela empresa foram trocados antes da eleição de Lula, quando era consultor de fundos privados de previdência.

É comum, no Brasil, líderes políticos, empresários, banqueiros, os donos, argumentarem que suas atitudes, quaisquer que sejam, são sempre legais. A discussão sobre se o que é legal é ético, passa longe do mundo político e do mundo dos negócios.

A ética do poder é a ética do poder sempre mais.

É incrível como Luís Inácio Lula da Silva caiu em armadilhas deixadas pelo tucanato e ainda defendeu a lei do foro privilegiado que, a rigor, colocar FHC fora do alcance da lei.

Ao desprezar o movimento social organizado e pretender viabilizar o seu governo através de relações primordiais com um Congresso dominado pelos grandes grupos, o presidente entrou no jogo sujo da institucionalidade, o verniz chamado de democrático que, na prática, acentua e perpetua o poder das elites.

Henrique Meireles, Antônio Palocci (cooptado), Luís Fernando Furlan, Roberto Rodrigues, Luís Gushiken, essa gente não tem nada a ver com mudanças políticas, econômicas ou sociais.

A discussão não é sobre se os caras são éticos ou não. Mas o que estão fazendo num governo do PT, em tese, Partido dos Trabalhadores?

O acordo com Meireles assegura ao presidente do BC pelo menos quatro anos à frente da instituição. Foi por isso que abriu mão do mandato de deputado federal, seria um banqueiro a mais na Câmara e, óbvio, no Banco Central cumpriria, como vem cumprindo, com mais presteza e maior alcance, as tarefas ditadas pelo sistema financeiro internacional.

Um achado, negócio da China, num governo supostamente de esquerda.

E por aí o resto.

Lula acreditou que poderia repartir a jaula dos leões com os ditos. Pegar um cantinho, distribuir 10% da ração das feras em programas sociais, que seria aceito e contaria com a compreensão dos dito cujos.

Fechou os olhos e está debaixo das patas da turma de cima. Não tem para onde ir, a opção foi dele: «o principal para a direita, os adereços para esquerda».

A sensação que esse escândalo passa é a de um governo sem rumo, fraco e incapaz de resistir ao poder da iniciativa privada, erigida e transformada em principal acionista do Estado brasileiro por conta dos oito anos de FHC.

O governo Lula está arranhado e não seria exagero dizer, do ponto de vista do projeto que encarnou para o povo brasileiro, ferido de morte.

E teima em permanecer na jaula dos leões. Vai ver sofre de síndrome de Daniel, aquele para quem o leão se ajoelhou.

Só pode ser.