Em política não existe o impossível e ninguém morre antes da hora. Desde que Nixon foi derrotado por Kennedy, perdeu as eleições para o governo da Califórnia, foi dado como carta fora do baralho e voltou presidente em 1968, oito anos depois da primeira derrota, qualquer coisa é passível de acontecer. A última pesquisa do […]
Em política não existe o impossível e ninguém morre antes da hora. Desde que Nixon foi derrotado por Kennedy, perdeu as eleições para o governo da Califórnia, foi dado como carta fora do baralho e voltou presidente em 1968, oito anos depois da primeira derrota, qualquer coisa é passível de acontecer.
A última pesquisa do ano, ao que tudo indica, mostra que o presidente Luís Inácio Lula da Silva estaria reeleito hoje e, ao contrário do que se imaginava, o seu principal adversário seria o prefeito José Serra, de São Paulo. FHC aparece com minguadas intenções de voto o que sugere a morte política do ex-presidente. Só sugere.
Lula não teria dificuldades em vencer Serra nessa disputa improvável. O tucano estaria na metade do mandato e sair poderá custar caro, mais caro do que se imagina. Que o diga Tarso Genro, o sem palavra, que prometeu cumprir, como Serra, o mandato inteiro e largou pelo meio.
Os índices de aprovação do governo aumentaram dez pontos percentuais. Lula já liberou verbas para obras de recuperação das rodovias, obras de infra-estrutura, saneamento básico sobretudo, o próximo ano deve consolidar a posição do presidente e garantir o segundo mandato.
A aprovação das parcerias público privadas aumenta a expectativa de novos empregos, aquecimento da economia como gostam de dizer os técnicos, enfim, o presidente parece ter montado nestes dois primeiros anos uma sólida base para enfrentar eventuais adversários.
O mesmo não ocorre com o PT. Cada vez mais fica claro que Lula é Lula e o PT é o PT. A própria política de alianças com partidos outros, ou com grupos de deputados e senadores dos vários partidos políticos do País, acaba por diluir a influência do partido presidencial e, na prática, cria problemas. Em 2006 o PT vai ter que marchar aliado a vários partidos, quase todos difíceis de serem engolidos.
O preço vai ser pago por deputados e senadores petistas cujas dificuldades para eleição ou reeleição serão maiores. Não há um casamento governo do PT com o próprio PT.
Há quem acredite que Lula nessa trajetória um tanto maquiavélica implode de vez o PMDB (uma colcha de retalhos desde as mortes de Tancredo e de Ulisses Guimarães, agrupamento de mortos/vivos), cria problemas sérios de convivência no tucanato (FHC não admite dividir o palco com outro) e arrasta a infinidade de pequenas legendas ávidas de «participação» em governos quaisquer que sejam os cargos.
O maior apetite neste momento passa pelo PTB, presidido pelo deputado Roberto Jéferson. O dito está empregando a família em várias prefeituras conquistadas por seu partido. Seu irmão vai para a presidência de uma estatal numa cidade onde nunca pôs os pés.
O fato mais significativo parece, no entanto, ser o de Lula ter percebido essa separação PT e presidente e por conta disso chamado a si as responsabilidades políticas do governo. Ao contrário dos primeiros momentos quando muitas coisas eram delegadas principalmente a José Dirceu, o presidente agora comanda o processo.
O ministro chefe do Gabinete Civil até que mostre o contrário, neste momento, é um zero à esquerda. Não tem poder e nem tem como voltar à Câmara. É um dos deputados mais odiados pela própria bancada. Apoiou e perdeu com a indicação do deputado Virgílio Guimarães para a presidência da Câmara. O «aliado» Genoíno (outro morto que teima em continuar andando) lhe passou uma rasteira.
As pesquisas estão fazendo bem a Lula. O presidente consolidou a posição de quem está tentando e conseguindo consertar a lambança de oito anos tucanos. Tanto exerce o papel de vítima da «herança maldita», como o de alguém que na medida do possível ajuda a todos.
E sabe como capitalizar isso. É jogo institucional. Um pra lá, dois pra cá e no fim coisa nenhuma, só marola e a farsa democrática.