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Lula e o estado

Fuentes: Rebelión

O discurso do presidente Luís Inácio Lula da Silva, no lançamento da campanha por mais auto estima do brasileiro, foi um canto entoado ao neoliberalismo e à política de estado mínimo. Ao lado de Lula o empresário Abílio Diniz, dono de uma das maiores redes de supermercados do Brasil. Diniz foi seqüestrado em 1989, no […]

O discurso do presidente Luís Inácio Lula da Silva, no lançamento da campanha por mais auto estima do brasileiro, foi um canto entoado ao neoliberalismo e à política de estado mínimo.

Ao lado de Lula o empresário Abílio Diniz, dono de uma das maiores redes de supermercados do Brasil. Diniz foi seqüestrado em 1989, no dia da eleição presidencial e o fato foi usado pela Globo como catalisador da campanha anti-Lula, na disputa com Collor de Mello.

Luís Carlos Bresser Pereira foi o principal executivo do grupo durante anos. Foi também ministro da Fazenda no governo José Sarney, mas, principalmente, ministro da Administração no governo FHC. Foi nesse período que ganhou contornos de processo organizado o desmanche do Estado brasileiro.

Bresser Pereira e Abílio Diniz estiveram envolvidos em denúncias de irregularidades sobre pagamentos feito por patrão a empregado (super-empregado no caso), quando da aposentadoria do ex-ministro. À época, ambos, foram acusados de lesar o imposto de renda.

Abílio Diniz não mudou de idéia. Continua o mesmo. Bresser Pereira também. Logo…

Lula fez o discurso típico do missionário encarregado de conduzir seu povo à terra da promissão. Só que as tábuas que recebeu, recebeu-as do FMI (Fundo Monetário Internacional).

O presidente falou em Deus, falou em Brasil grande, falou em família. Anos atrás, Deus, Pátria e Família era o lema dos integralistas, versão tropical do fascismo. Em 1964, o padre Patrick Peyton comandou as marchas da família com Deus e pela liberdade. Foram instrumentos que varreram o Brasil na campanha golpista contra João Goulart e resultaram no golpe militar.

É claro que Lula nem é fascista e nem falou com esse sentido. Mas, ventríloquo dos donos do Estado brasileiro, tratou de transferir responsabilidades no melhor estilo dos líderes populistas. E os donos pensam da mesma forma que pensavam em 1964. Ou em 1500.

Conclamou a família à luta pela construção de uma sociedade justa onde o Estado não pode atuar.

O Estado brasileiro foi privatizado por FHC. O processo começou com Collor, continuou com Itamar (até hoje pensa que presidiu alguma coisa) e se acentuou com FHC. No período do tucano foi executado com método e objetivos bem claros. Por Bresser Pereira na batuta.

O governo enfrenta o desafio das companhias telefônicas, as privatizadas por FHC. Os contratos assinados no governo anterior só serão revistos em 2006, último ano do mandato, o primeiro, de Lula. As agências criadas pelo tucanato para assegurar os interesses dos empresários do setor batem de frente com Lula e ignoram o presidente. Como têm, por lei, autonomia, decidem em função do que exigem ou pedem, basta pedir, as empresas.

São várias as agências e cuidam de setores estratégicos e de lucros polpudos. Telefonia, energia, saúde e transportes, por exemplo. A face visível do estado mínimo, o Estado brasileiro privatizado. As companhias que detêm o setor de energia elétrica forçaram o seguro apagão, apanharam mais dinheiro no BNDES e mandaram lucros para paraísos fiscais.

Um cidadão que apresente um requerimento, qualquer, a qualquer serviço público, exceto alguns órgãos arrecadadores (a grana é para pagar as dívidas interna e externa, então…), não consegue resposta em menos de 30 dias.

Culpa do servidor? O servidor ganha um salário ínfimo, trabalha sem condições, os serviços públicos não dispõem de verbas para coisas mínimas (existem centenas de carros do setor de segurança parados por falta de manutenção), o que o serviço público ainda consegue é o que o servidor ainda faz dentro do possível.

O presidente anunciou um aumento diferente dos últimos, aliás, há oito anos os servidores não têm aumento. Resolve o problema? De forma alguma. É a batida na ferradura, pois a outra, a batida no cravo, Lula vem dando sistematicamente segundo os ditames da banca internacional.

A reconstrução do Estado brasileiro foi defendida pelo atual presidente em campanha. Afirmou, várias vezes, que um dos fatores responsáveis pelo atual estado (outro estado) de coisas, decorria do estado mínimo, das privatizações, do abandono dos serviços públicos.

O desmanche desses serviços atendeu a imperativos neoliberais e foi comum a quase todos os países latino-americanos (exceto Cuba e agora Venezuela). A privatização da previdência está sendo feita no governo Lula. A reforma aprovada pelo Congresso ano passado foi exigência de um acordo com o FMI e cumprido à risca pelo presidente.

Abílio Diniz tem dito que está encantado com Lula. Que o presidente evoluiu e jamais poderia pensar que seu governo fosse ser o que é.

Só isso basta para entender o que Lula quis dizer quando conclamou a família a suprir espaços onde o Estado não chega. Na verdade, não tem chegado a nenhum, nem naqueles que até no modelo atual teria que chegar.

Há dias, em Maceió, capital do Estado de Alagoas, um jangadeiro perguntou a um turista sobre se valia a pena vir para o Sul e procurar melhorar de vida em São Paulo, no Rio, ou outra das grandes cidades da região, na verdade duas, Sudeste e Sul.

A resposta do turista foi perguntar quanto o jangadeiro ganhava por mês. A resposta foi simples: 300 reais por mês. E a sentença do turista mais simples ainda: «você vive ao sol, tem casa, esse marzão todo os dias e por pior que isso aqui seja, não faça isso. A não ser que queira morar debaixo da ponte, em favela, pedir esmolas, ter seus filhos assediados pelo tráfico, ora meu amigo, deixa de bobagem e trate de ficar por aqui, mesmo com esses governos todos que vocês têm».

Quando voltou ao Sul e leu o discurso de Lula perguntou: «família onde? Só se for o time de futebol dele. A família brasileira está nas favelas, sem emprego, doente, quando emprego tem, salários baixos, ou trabalho escravo nas terras do latifúndio (Lula tem um ministro latifundiário), vítima da violência, são milhões, ao contrário da família Diniz e suas lanchas. São poucos, muito poucos».

E o servidor público? Bom, esse está lascado. O negócio é ser das agências da «privataria» (expressão cunhada pelo notável jornalista Élio Gaspari).

Ah! Em agosto, com a sexta licitação para campos petrolíferos, dá seqüência a outra privatização: a da Petrobrás. A família tem que ir é para a rua, do contrário o cara, eleito para mudar, arremata a entrega do País. Conclui.