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Lula e os movimentos sociais

Fuentes: Rebelión

O jogo sórdido e de cartas marcadas do institucional está sendo ganho e bem ganho por Lula. Por extensão, pelo ministro Antônio Palocci, principal figura do governo e responsável direto, ele e o presidente do Banco Central, o norte- americano Henrique Meireles, por essa vitória. Digamos que tenha terminado o primeiro tempo de um jogo […]

O jogo sórdido e de cartas marcadas do institucional está sendo ganho e bem ganho por Lula. Por extensão, pelo ministro Antônio Palocci, principal figura do governo e responsável direto, ele e o presidente do Banco Central, o norte- americano Henrique Meireles, por essa vitória.

Digamos que tenha terminado o primeiro tempo de um jogo de quatro anos. Hoje, como estão distribuídas as cartas e sendo Lula o carteador, se pode afirmar sem susto que o presidente conseguirá a prorrogação de mais quatro anos.

Só se a bola furar e isso parece pouco provável.

Noutra ponta o governo não tem compromisso nenhum com mudanças no modelo político e econômico e, lógico, na estrutura social brasileira. Aceita como inevitável o estupro neoliberal e procura tirar proveito da chamada nova ordem econômica.

Os movimentos sociais têm sido fustigados e isolados por figuras centrais do governo. Os ministérios da área econômica, mais especificamente, incluindo aí o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em mãos do tucano Luís Fernando Furlan e o da Agricultura, com o ruralista de extrema-direita Roberto Rodrigues.

A reforma agrária anda a passo de cágado e, pior, toda a sorte de concessões são feitas aos latifundiários. O agro- negócio tem sido a tábua de salvação do governo em sua opção pelo modelo e a necessidade de um volume de exportações cada vez maior para fechar contas.

Reformas como a previdenciária, a tributária (uma primeira etapa), já votadas e as que estão por chegar, a universitária, a trabalhista, a sindical e a privatização oficial do Banco Central (é privatizado de fato, falta ser de direito), serão os próximos passos de Lula e, por incrível que pareça, com respaldo de poonderável parcela da população.

O governo petista joga com a mais poderosa arma dos dias de hoje: a comunicação. Se o trabalhador ficar nu vai aparecer um grande estilista e dizer, na Globo (onde mais?), que a nudez é a quintessência do bem vestir.

Os desafios que o movimento social enfrenta foram bem definidos pelo principal coordenador do MST, João Pedro Stédile, em entrevista ao jornal «Correio da Cidadania».

João Pedro deixou claro que o governo é o governo, nem amigo e nem inimigo e que as tarefas do movimento social são de organização para que se possa avançar no caminho das mudanças pretendidas.

Essas declarações foram feitas após uma análise do quadro histórico nos últimos anos, em relação ao movimento social, mostrando que vivíamos uma época de refluxo e vivemos agora o início de um tempo de mobilização e conquistas. Para que isso se transforme em realidade organização e formação são fundamentais.

O importante na análise de João Pedro é que fica claro que mudanças não passam pelo institucional, embora eventuais situações possam ser deslindadas por ali. É um meio, cada vez menos importante, não é um fim, nunca foi.

Água, privatizada com a cumplicidade do governo Lula, que mantém intactas as estruturas de FHC. Transgênicos, com o governo de quatro para a multinacional Monsanto e na contramão do futuro (aceitando a destruição da terra e do ambiente de um modo geral). As poderosas companhias do setor de telefonia e energia cada vez com maior volume de ações do Estado, logo do governo. Vão ganhar um perdão fantástico, em nome da tal credibilidade internacional, mas pago pelos brasileiros.

E os bancos. Os novos amigos de Lula, os banqueiros.

Esses os juízes do jogo, os que definem as regras e controlam Executivo, Legislativo e instâncias superiores do Judiciário.

FHC tinha uma obsessão: o espelho (tem até hoje). Falo do espelho do Planalto. Consultava o dito todas as manhãs para saber se havia presidente mais inteligente que ele.

Lula elegeu o Fome Zero como seu espelho. Não importa que um programa que poderia estar dando certo e propiciando caminhos de organização popular, seja mero enfeite e adereço demagógico, levado ao mundo inteiro como pedra de toque contra a fome.

Farsa a tal inteligência de FHC, é doentia, cretina e corrupta, cobra caro. Perigoso o jogo de Lula porque menor que as forças que o cercam, mesmo sendo o carteador, Lula é só uma cópia dos interesses das elites. Se discrepar vão buscar de volta os originais. Aceitou isso, pelo jeito não tem volta, vai até o fim.

O movimento social não tem, a rigor, nada a ver com isso. A luta não passa por esse campo. É exatamente para mudá-lo. Ou até mesmo acabar com esse tipo de jogo perverso onde só um perde, a classe trabalhadora.

E nessa medida Lula não é muito diferente do resto. Costuma ser até pior, pois falava o contrário do que faz.