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O Brasil que Lula não consegue decifrar

Fuentes: Rebelión

Os jornais dão conta do aumento do trabalho escravo nos latifúndios da vida. A Folha de São Paulo, um dos chamados grandes, cita e nomina latifundiários e empresas que adotam a prática. A turma do agro-negócio e das culturas transgênicas. O governo tem combatido o trabalho escravo. Fiscais do Ministério do Trabalho alcançam bons resultados. […]

Os jornais dão conta do aumento do trabalho escravo nos latifúndios da vida. A Folha de São Paulo, um dos chamados grandes, cita e nomina latifundiários e empresas que adotam a prática. A turma do agro-negócio e das culturas transgênicas.

O governo tem combatido o trabalho escravo. Fiscais do Ministério do Trabalho alcançam bons resultados. Isso provoca reações do latifúndio e já registrou um bárbaro assassinato de fiscais ainda não resolvido. Aconteceu no Estado de Minas Gerais (governado por Aécio Neves, tucano).

Lula, no entanto, mantém no Ministério um expoente do latifúndio, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, de extrema-direita. Fundador da UDR (União Democrática Ruralista), entidade envolvida com pistoleiros, assassinato de líderes de camponeses, caixa dois para as campanhas da chamada bancada ruralista, toda a sorte de trapaças imagináveis para manter o Brasil no século XVI em se tratando do campo.

Para aprovar a Medida Provisória do salário mínimo o governo fez acordo com essa bancada. A conseqüência: entrou em banho maria o projeto que torna desapropriáveis para fins da reforma agrária as terras de quem se valha de trabalho escravo. O governo tem (tinha) compromissos com esse projeto.

Um grupo belga foi flagrado com escravos numa de suas propriedades. Pediu desculpas por não ter cumprido a legislação. Na nota fala em carteiras assinadas. Como se isso modificasse a situação.

Outro dos ministros chaves de Lula, Luís Fernando Furlan, funcionário do ano da bolsa de New York, com retratinho na parede, etc, no melhor estilo McDonalds, é o principal porta-voz da turma dos agro-negócios. Cuida do desenvolvimento (dos grupos que representa) e do comércio exterior. Bombardeia, sistematicamente, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. É pró ALCA, sem qualquer restrição.

Banqueiros, empresários, a turma da livre iniciativa, formam um grupo a parte em qualquer lugar do mundo. Os caras falam em desenvolvimento, progresso, justiça social, alardeiam investimentos na cultura, tudo nos conformes, desde que venham compensações.

São os principais acionistas do Estado brasileiro desde tempos imemoriais. Com FHC essa situação foi definida no processo de privatizações, na política econômica, em todas as ações do governo. Lula continua. Em determinados momentos assume um viés populista.

Sem contar que, ao contrário de FHC, fala pelos cotovelos. Vai acabar ganhando o epíteto de «Peço a Palavra». O sujeito que em todos os enterros, batizados, casamentos, festas ou tragédias, pedia a palavra e mandava ver.

A ação dos fiscais do Ministério contra o trabalho escravo, quase sempre exercida com riscos de vida (latifundiário morde, atira, tocaia), se perde na incapacidade do governo em se ver livre de gente como o ministro da Agricultura.

São os enigmas do governo bem resumidos por César Benjamin antes da posse do presidente: «o varejo para a esquerda, o atacado para a direita».

Lula não mostra muito interesse em decifrar o Brasil. Ou resolver as contradições de seu governo. Pelo jeito vai na corda bamba até o final, jogando o jogo da reeleição no melhor estilo pai dos pobres, mãe dos ricos.

O presidente brasileiro me faz lembrar de uma velha história do futebol. José da Gama, primeiro empresário do setor, chegou a ser presidente do Madureira, um clube carioca onde colocava seus atletas antes de vendê-los para clubes europeus, passando pela praia de Copacabana, numa manhã, percebeu um cara fazendo milagres com a bola.

Todas as acrobacias possíveis e as impossíveis também.

Desceu de terno e gravata pelas areias, buscou o atleta, apresentou-se, deu telefone e cartão e tinha em vista um bom negócio.

Como o atleta dissesse a Zé da Gama que só sabia fazer aquilo, não jogava nada, o empresário pediu que ele não dissesse coisa alguma enquanto estivessem negociando, iam para a Europa.

Levou o rapaz à diretoria do Benfica, mandou que mostrasse todo o seu saber futebolístico, os diretores do clube português se deslumbraram, se acharam diante de um novo Pelé e antes que alguém lançasse mão das jóias da coroa, assinaram um contrato de três anos. Pagaram o que Zé da Gama pediu e o cara jogou 15 minutos só. Para compensar o prejuízo se apresentava nos intervalos com a bola mágica e suas peripécias.

Lula vai por aí. Lembra o atleta. Palocci e Meireles são o Zé da Gama nessa história. Furlan e Rodrigues os coadjuvantes.