O governo Lula vai acordar no quatro de outubro com resultados aquém dos inicialmente projetados e esperados para as eleições municipais deste ano. Deve manter as prefeituras de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Aracaju, Palmas e Rio Branco e tentar contar com imprevistos em São Paulo, Belém, Curitiba, Vitória e Goiânia. Isso, a julgar pelo […]
O governo Lula vai acordar no quatro de outubro com resultados aquém dos inicialmente projetados e esperados para as eleições municipais deste ano. Deve manter as prefeituras de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Aracaju, Palmas e Rio Branco e tentar contar com imprevistos em São Paulo, Belém, Curitiba, Vitória e Goiânia. Isso, a julgar pelo que dizem pesquisas e já levando em conta eventuais disputas de segundo turno.
No Brasil últimas pesquisas costumam ser aquelas em que a maioria dos institutos ajusta seus números à realidade. Há casos de erros crassos, como o do IBOPE que previa a vitória de Cristóvam Buarque de Holanda contra Joaquim Roriz, em 1998. Foi o contrário. Ou a má fé do mesmo IBOPE, contra Marta Favre na disputa para o governo de São Paulo, no mesmo ano. Divulgou, na véspera da eleição, números que afastavam Marta da disputa quando a atual prefeita tinha índices de intenções de voto maiores que as medidas ou aferidas pelo IBOPE.
A Globo, a cada pleito, tenta chegar à perfeição em matéria de eleições. O IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa), é uma espécie de sucedâneo da Proconsult. Enquanto aquela tentava fraudar uma apuração, o IBOPE/Globo tentam e vão induzindo o eleitor durante todo o processo. É menos arriscado e permite que os números sejam trabalhados de forma tal que, nos dias imediatamente anteriores à votação, acabem por refletir mais ou menos a realidade.
Eleições no Brasil costumam ser uma grande farsa. A combinação de uma legislação autoritária. Da existência de uma justiça específica, a eleitoral, com poderes que muitas vezes se sobrepõem ao da Constituição. De uma lei de propaganda gratuita que é a parte mais cara da campanha. Agora, das urnas eletrônicas do ministro Nelson Jobim. Todo esse conjunto forma um processo permeado por partidos e políticos que praticam o exercício do eu sou governo e você finge que é oposição, ou vice versa.
Ao fundo as imagens que, segundo Debort, substituem a mercadoria e criam a realidade que coisifica o ser humano. Há quem acredita que José Maluf Serra seja um sujeito sério e há quem vote em Paulo Serra Maluf.
A palavra chave neste ano tem sido competência. Para que não explicam. Mas a Globo fala o tempo todo em competência
Houve um tempo que foi moralidade, quando inventaram Collor de Mello, o «caçador de marajás».
Há um projeto na Câmara dos Deputados que quer perpetuar essa situação. Limita o direito de pesquisas eleitorais, na prática consagra quatro ou cinco dos grandes institutos. Mais ou menos como pretender determinar o resultado antes das eleições, numa espécie de combinação, arranjo do qual o povo está excluído. O eleitor só aperta a tecla da urna eletrônica, o resultado eles fabricam. O clube dos amigos e inimigos cordiais.
O café da manhã de Lula vai ser de difícil digestão no dia quatro de outubro. O governo vai dizer que ganhou, que vai ganhar os segundos turnos onde acontecerem, a oposição idem, vão aparecer análises para todos os gostos e é por aí que Lula vai ter que começar a optar por alguma coisa além da corda bamba em que vive.
O ano de 2005 vai ser o de eleições internas em seu partido. José Dirceu quer o partido de um jeito, Palocci não quer se meter nessa briga considera partido dispensável e Genoíno não sabe o que quer, nem tem idéia do que acontece além de São Paulo e, mesmo assim, das suas bases eleitorais.
Começam aí os ajustes finais para 2006, ano da reeleição. Acomodar forças contrárias no PT e evitar novos rachas. Reforma ministerial para abrigar alguns derrotados importantes. Muito mais para azeitar a máquina e dar partida nos 100 bilhões que estão em caixa.
De qualquer forma Lula deve anunciar vitória qualquer que seja o resultado, em todo o País, pois, na verdade, com estranhas alianças em muitas cidades, inclusive com o PFL (Em Bicas, MG, pequeno município o secretário nacional de combate ao racismo, de olho na candidatura a deputado estadual implodiu o partido e é só um exemplo).
De fato o PT vai sair com um número maior de prefeitos e vereadores. A aliança que junta PL, PTB, PC do B, PSB concorre para aumentar essa sensação. O diabo vai ser manter esse povo todo unido até 2006. Segundo o presidente do PL, a noiva preferencial é o seu partido. Segundo o presidente do PTB é o seu.
Já o cidadão comum corre o risco, por conta dessas trapalhadas, de ver FHC ensaiando sua orquestra, passando em revista os arranjos tucanos e se preparando para tentar o retorno. Difícil mas não impossível. E se acontecer, culpa só de Lula e sua turma. Teriam posto FHC na cadeia, ou na condição de foragido, como Menem, com dois ou três inquéritos a mostrarem o que foram as privatizações, o PROER, os oito anos de corrupção e neoliberalismo, coisas umbelicalmente ligadas quando o tucano esteve com a batuta às mãos.