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O estado sem lei

Fuentes: Rebelión

As autoridades policiais do Rio de Janeiro comemoram a morte do traficante Gangan. A Secretaria de Segurança Pública informa que Gangan era o «maior traficante do Estado e sua morte desarticula o comércio de drogas». Comunicados com esse tipo de afirmação têm sido regra geral no governo dos Garotinhos. Primeiro Anthony, agora Rosinha. Num jogo […]

As autoridades policiais do Rio de Janeiro comemoram a morte do traficante Gangan. A Secretaria de Segurança Pública informa que Gangan era o «maior traficante do Estado e sua morte desarticula o comércio de drogas».

Comunicados com esse tipo de afirmação têm sido regra geral no governo dos Garotinhos. Primeiro Anthony, agora Rosinha. Num jogo do Fluminense com o América, há alguns anos, o tricolor terminou o primeiro tempo perdendo por dois a zero e o técnico, Duque, passava instruções aos jogadores no vestiário, mais ou menos assim: «vamos fazer, isso, aquilo e empatar e virar o jogo, assim e assado». Gerson, que jogava no Fluminense, perguntou a ele: «mas você já deixou combinado com o outro lado?»

O tráfico de drogas ignora os comunicados das autoridades policiais, continua impávido, forte, controlando as favelas e atuando de maneira desabrida e muitas vezes com a omissão da Polícia em regiões chamadas nobres.

O que estarrece no caso do Rio de Janeiro, aí o Estado, é que permaneçam soltos e impunes a governadora e o secretário de Segurança, seu marido, o ex-governador.

Garotinho lidera uma cruzada eleitoral neste segundo turno, nas principais cidades do Rio. Quem não apóia os candidatos do governo estadual está com satã e contra Deus.

É líder de igrejas pentecostais e usa a boa fé de milhares de incautos para construir uma base política que lhe permita ser, novamente, candidato a presidente da República.

Um projeto ridículo de aiatolá brasileiro, até porque os aiatolás verdadeiros são, independente de fanatismo ou não, figuras sérias, não costumam estar envolvidos em atos de bandidagem.

O que acontece no Rio, um Estado saqueado por uma quadrilha familiar, os Garotinhos, é inaceitável. Como diria Nelson Rodrigues, «qualquer paralelepípedo da rua sabe disso».

Não acontece nada. A governadora e o ex-governador safam-se de todas as acusações dirigidas a eles e com impressionante poder de fogo conseguem até evitar que provas como gravações em que Garotinho manda comprar fiscais, em seu tempo de locutor de rádio, sejam trazidas a público.

Um fenômeno começa a se delinear com maior gravidade neste segundo turno das eleições no Estado do Rio. A satanização dos candidatos adversários do casal e o uso de fiéis numa cruzada pela moral e por Deus, contra os «impuros».

A governadora tem dito com freqüência quase que diária que todos os programas sociais do seu governo serão suspensos se seus candidatos forem derrotados. Garotinho lança acusações a torto e a direito em nome de Deus e pelo mundo dos iluminados, no afã de não perder cidades estratégicas e conseguir fôlego para alcançar a presidência.

É comum subestimar lideranças corruptas e montadas em estruturas de igrejas. Não é comum o poder de fogo das chamadas bancadas evangélicas em assembléias legislativas e no Congresso Nacional. Assusta e cresce a cada eleição.

Se observados os percentuais de adeptos há alguns anos atrás será fácil constatar que o crescimento do número de evangélicos toma proporções impressionantes e em alguns lugares ameaça a maioria católica.

Um pastor deputado estadual, no Rio, onde mais, apresentou projeto que cria um auxílio para gays que aceitem se submeter a tratamento, reneguem a condição e voltem ao mundo de Deus.

Por detrás de toda essa pantomima as seitas pentecostais servem a propósitos de políticos corruptos e aproveitadores. O maior perigo é Anthony Garotinho.

O Rio hoje é terra de ninguém. As pessoas vivem intimidadas, acossadas e ameaçadas. O casal governador ao contrário enriquece de maneira assustadora e tenta credenciar-se a vôos mais altos.

Rosinha deve sair do governo do Estado em meados de 2006 para disputar uma cadeira no Senado Federal. Garotinho quer ser presidente. Uma das filhas ameaça ser candidata a deputada.

Quem disse que o Brasil não é u’a monarquia, onde o poder passa de pai para filhos?

D. Tomáz Balduíno, há muitos anos, numa palestra numa cidade mineira, disse que «a burguesia aqui é um incesto».

De tudo isso o que de fato conta é a impunidade. Nada consegue deter o casal. Muito menos seus auxiliares saídos do reino de Deus com espadas flamejantes para livrar o mundo dos ímpios.

A imagem perfeita dessa gente ainda é a de um encontro nacional no Estádio do Maracanã, quando centenas de seguranças saíram carregando sacos e sacos de dinheiro doado pelos fiéis.

A compra de casinhas no céu.

A questão não é ser religioso ou não. Fé é algo individual, diz respeito a convicção pessoal e tem que ser respeitada. No caso das igrejas pentecostais, em sua quase totalidade, são arapucas armadas por gente como Garotinho, tanto para o enriquecimento, como para pavimentar a caminhada ao poder.

É preciso abrir os olhos antes que essa gente chegue a Brasília.

Quando a coisa continuar a apertar, voltarem as cobranças por mais segurança, o casal dá um jeito de matar outro traficante mais importante e repete o comunicado que o tráfico está desarticulado.

Na região de Gangan o comércio fechou, as escolas não funcionaram, por determinação dos líderes do tráfico, em sinal de luto.

Os Garotinhos só não são uma pândega, porque são perigosos. O preço que está sendo pago pelo cidadão naquele Estado não tem como ser medido. Em alguns lugares o pânico é parte do dia a dia. Está introjetado nas pessoas.

O combate ao crime organizado no Rio começa pelo combate ao casal.