A decisão do grupo tucano do PMDB de sair do governo Lula e a absoluta inviabilização do partido, até como agência de empregos (é o que tem sido nos últimos anos), acabou esvaziada pelos números das pesquisas mais recentes. Lula derrotaria hoje qualquer dos eventuais candidatos adversários nas eleições de 2006. Entender o que acontece, […]
A decisão do grupo tucano do PMDB de sair do governo Lula e a absoluta inviabilização do partido, até como agência de empregos (é o que tem sido nos últimos anos), acabou esvaziada pelos números das pesquisas mais recentes. Lula derrotaria hoje qualquer dos eventuais candidatos adversários nas eleições de 2006.
Entender o que acontece, do ponto de vista da esquerda, não é tão difícil assim. É comum analisar os dados levando-se em conta a visão de cada grupo, deixando de lado o complexo jogo do mundo institucional, dominado pelos meios de comunicação, francamente a favor do governo, até quando querem ser contra, como no caso do destaque conferido às declarações de FHC.
Michel Temer, um eterno coadjuvante da política nacional, tipo carregador de pasta de superiores mas com ares de dono de alguma coisa, no duro mesmo só de um latifúndio falido, o PMDB, esgrimia, antes das pesquisas, com a candidatura de Anthony Garotinho, governador do Rio. Perde para Lula de maneira desmoralizante, não consegue ultrapassar a 15% dos votos.
O discurso do presidente bateu na tecla da continuidade da política econômica, sem deixar de falar em desenvolvimento, em sair do marasmo, mas realçando as mudanças acontecidas nesses dois anos e que se não dizem respeito àquelas esperadas, dizem respeito a algo simples, bem simples.
O cidadão foi martelado nos últimos dez anos pelo menos, com a noção de responsabilidade em relação ao grande problema brasileiro, a dívida externa. Aquela conversa que o que é devido tem que ser pago. Que no mundo globalizado ou cumprimos as nossas obrigações ou estamos fora, essa conversa colou.
O cara está morrendo de fome mas culpa FHC pela dívida externa e aceita que Lula assumiu uma herança maldita.
A maneira impressionante com que o ministro da Justiça e a Polícia Federal têm agido contra o crime organizado e colocado na cadeia alguns figurões criou a sensação que País está indo na direção certa e que a corrupção está sendo combatida, não importa que FHC ainda esteja solto. Ele, Serra, Malan e outros.
Passa por deixar um suspense sobre o que vem, uma espécie de cutelo pronto para entrar em ação.
Há uma certeza impregnada na opinião pública, vem de longa data sobre o Congresso Nacional. A maior parte dos cidadãos acredita que quando Lula se vê obrigado a liberar recursos para deputados e senadores, está pagando outro preço daquela herança. A imagem do presidente, pesquisas mostram isso, sai quase que intocada nesse negócio de é dando que se recebe.
Deputados e senadores são vistos pelo cidadão comum como estrupícios que só fazem tomar o dinheiro público.
A tudo isso podemos somar o próprio jogo político.
A base tucana está rachada. O governador de Minas, Aécio Neves, neto de Tancredo, criado em viveiro de raposas, todas as vezes que o governo Lula se vê em apertos arranja um jeito de ajudar, nem que seja por baixo dos panos. Tudo o que Aécio quer é que FHC e sua turma tucana paulista se arrebentem.
Sabe que tem chances de vir a ser o candidato a presidente em 2010 e com apoio ostensivo ou dissimulado do grupo lulista.
Aécio apóia a candidatura do deputado petista Virgílio Guimarães para a presidência da Câmara com um argumento simples: «mais um paulista ninguém agüenta». Leva consigo boa parte das bancadas de outros estados, pelo menos no argumento de «tudo menos um presidente paulista». Esgrime com eficiência esse sentimento e Lula ri de canto a canto com o jogo do governador de Minas.
O político tucano mais em evidência é José Serra, eleito prefeito de São Paulo. A explicação dos sábios da pesquisa é simples e bem racional: Serra está saindo vitorioso de uma disputa eleitoral, portanto com visibilidade neste momento. Assim que assumir o governo e começar a enfrentar os insolúveis problemas de sua cidade, vai para o brejo, o limbo.
Não existe metrópole que seja viável. Está em qualquer manual de políticas públicas urbanas e o escambau, que se debruçam sobre cidades como São Paulo.
Lula fecha o ano com os níveis de desemprego um pouco abaixo do que se via repetidamente. Distribui bilhões em programas assistenciais que começam a funcionar. Azeita daqui e dali a máquina mas sem comprometer sua política econômica (que é a de FHC), colhe triunfos na política externa, apresenta números favoráveis na balança de pagamentos e traz consigo o carisma do sujeito que ganhou a eleição e foi para o Jornal Nacional no dia seguinte ao lado dos robôs William Bonner e Fátima Bernardes.
É a cara do cidadão comum. Esse foi condicionado a pensar que o que conta é o sucesso. O resto é secundário. Chegar no centro do palco. Lula é esse sujeito.
A luta real não se trava nesse campo. Corre fora do institucional. É o desafio da organização popular. Pode ser simplificado num objetivo: levar o trabalhador a deixar a Globo de lado. O que ela significa nesse mundo em que o que conta são os quinze minutos de glória.
Se antes, no governo FHC, as dificuldades do movimento popular passavam pela natureza de ditadura civil do grupo tucano, hoje, esses obstáculos estão na incrível capacidade de Lula de ser uma coisa e continuar parecendo ser o que era.
O fim de ano de Lula já chegou e com ele o Natal. Ganhou muitos presentes. E o que fez, hoje, na reunião ministerial foi exibi-los.
Já FHC, o competente… Bom, continua solto, isso já é um presentão.