O presidente Luís Inácio Lula da Silva não percebeu que, a despeito dos ajustes para tornar sua imagem palatável a determinados setores do eleitorado, foi eleito num sentimento de repúdio ao governo mais podre de nossa história o de Fernando Henrique Cardoso. Lula, quando no dia seguinte ao de sua eleição, apareceu ao lado do […]
O presidente Luís Inácio Lula da Silva não percebeu que, a despeito dos ajustes para tornar sua imagem palatável a determinados setores do eleitorado, foi eleito num sentimento de repúdio ao governo mais podre de nossa história o de Fernando Henrique Cardoso.
Lula, quando no dia seguinte ao de sua eleição, apareceu ao lado do apresentador do Jornal Nacional e lá ficou, como exemplo de operário que atinge aos píncaros da glória, reluzindo e despejando frases feitas, deu uma prévia do que seria seu governo. Que, aliás, vinha se desenhando e, na verdade, muitos teimavam em não enxergar, agarrados à esperança que o líder sindical voltasse às suas origens.
O presidente não compreendeu em nenhum momento que foi eleito para mudar. Não foi eleito para conversar e negociar com José Sarney, ACM, ou para sustentar-se num partido que virou banca de negócios, o PMDB. Nem falo dos menores, mas caros, como o PTB e o PL que brigam pela primazia de serem a noiva nas eleições de 2006.
O que se esperava de Lula era simples. Que fosse o Lula das ruas. O Lula que forjou sua história na luta popular.
O caminho do presidente seria esse: escorar-se no movimento popular. Insensatez? Loucura?
Chávez quando eleito presidente da Venezuela, na primeira vez, foi taxativo. Com essa estrutura política e econômica, esse modelo não dá. Mostrou toda a extensão do processo antinacional, da corrupção e segue apoiado pelo seu povo a enfrentar exatamente os ACMs de lá. Carlos André Pérez, por exemplo.
O jogo jogado no campo institucional, o do clube de amigos e inimigos cordiais, onde um finge ser governo, outro oposição, mas não mudam nada, nem um e nem outro, e vice versa, produz essa aberração que se constata em muitos momentos do atual governo e atinge proporções vergonhosas no caso dos transgênicos.
No governo FHC, quando o País foi sendo transformado num entreposto do capital estrangeiro, não existiam nem lei e nem direito que não os dos que compraram cotas de um Estado privatizado. Os transgênicos começaram a ser plantados no Brasil pelos grandes latifundiários, sobretudo no Rio Grande do Sul, enquanto a lei formal proibia e a lei do banditismo que nos governava acobertava.
Por detrás disso interesses da Monsanto e outras tantas. A própria EMBRAPA foi envolvida no processo, tornou-se acessório dos grupos que trouxeram e controlam o negócio dos transgênicos.
O que se esperava de Lula é que enfrentasse essa corja de peito aberto. Teria respaldo popular, ganharia respeito, ao contrário do que ocorre, do que se vê.
De saída colocou no Ministério da Agricultura um homem chave do capital estrangeiro e ligado ao agro negócio. O ministro latifundiário Roberto Rodrigues. No Ministério da Indústria e Comércio um tucano exportador da área, Luís Fernando Furlan.
Como disse, em dezembro de 2002, César Benjamin, «o adereço para a esquerda, o principal para a direita».
O governo Lula não tem condições, neste momento, tal o emaranhado de alianças, jogos de toma lá dá cá, de abortar o avanço dos transgênicos. O presidente é fraco diante das forças que o engolem desde os primeiros momentos do mandato e a área econômica é deles, sem exceção.
A ministra Marina Silva é decente e carrega consigo a história de luta pelo meio ambiente em sua região, a Amazônia. Tem cedido aos desvarios do governo em nome dessa sua história desde os primeiros momentos do PT. Mas não tem sentido nenhum permanecer no Ministério. Há bastante tempo foi rifada e vem sendo usada, até por sua inocência e integridade, para dar aval a uma série de atos equivocados.
Transgênicos não é um assunto que se esgote em si. Vai muito mais além. Significa algo como guardar a agricultura e o agricultor brasileiro numa caixa controlada pelos donos e abrir em função desses interesses. De Monsanto, Novartis, Nestlé, etc.
A questão no seu lado técnico está definitivamente comprovada como sendo lesiva ao País, prejudicial à saúde dos brasileiros e vantajosa apenas para os cotistas do Estado privatizado por FHC.
Por detrás dos transgênicos avançam sobre as águas, sobre as terras, empobrecem e esgotam essas terras, constroem os castelos dos senhores feudais, os barões de terra, agora associados aos donos da tecnologia predadora e ao sistema financeiro.
O governo Lula foi eleito para fazer a reforma agrária. Passa longe. Está perpetuando a perversidade do latifúndio.
Os grandes proprietários, as grandes empresas já disseram que com ou sem a lei de biossegurança, que permite o plantio de transgênicos, vão plantar. Na marra. Imagino se algum movimento popular viesse a público com tal propósito. A reação. A fúria dos senhores de escravos.
O presidente está diante de um dilema: ou tenta, minimamente tenta, voltar à sua história, ou não terá valido a pena votar em Lula.
No meu ponto de vista o governo é irrecuperável. Não valeu a pena.
A grande conseqüência disso, do governo equivocado de Lula, são as perdas do movimento popular. O custo do erro.
O Brasil de Lula continua a ser um entreposto do capital estrangeiro. Uma terra de barões e escravocratas.
O presidente já disse que o cidadão comum que nele votou não entendeu que «estava mudando a história da humanidade». Um boquirroto e a afirmação confirma apenas o que está acontecendo: o cidadão, esse ser comum, foi só figurante nessa farsa democrática.
A questão dos transgênicos transcende ao aspecto político pura e simples. O governo perdeu o senso, caiu de quatro.