O senador César Borges, candidato do PFL a prefeito de Salvador, Bahia (lidera as pesquisas), um dos participantes do jantar que reuniu o presidente, ACM. Roseana Sarney e outros na casa do ministro José Dirceu, já disse que pode exibir um vídeo em seu programa político (horário gratuito), ao lado de Lula. Entender a ação […]
O senador César Borges, candidato do PFL a prefeito de Salvador, Bahia (lidera as pesquisas), um dos participantes do jantar que reuniu o presidente, ACM. Roseana Sarney e outros na casa do ministro José Dirceu, já disse que pode exibir um vídeo em seu programa político (horário gratuito), ao lado de Lula.
Entender a ação política do presidente e do ministro José Dirceu não requer muito esforço. Em primeiro lugar é preciso levar em conta a declaração de Lula, há dias, segundo a qual o cidadão comum não «tem idéia da importância do seu voto ao me eleger, pois minha eleição muda o destino da humanidade».
É um disparate, mas é uma realidade. O presidente acredita piamente nisso.
Em seguida, compreender os horizontes políticos do chefe do Gabinete Civil, José Dirceu. Nasceu em Minas Gerais, mas é paulista de quatro costados, não enxerga a política além do horizonte do seu Estado e no seu caso, da capital. Dentre os políticos petistas é o mais próximo de Marta Favre. O marido da prefeita, inclusive, foi apresentado a ela por ele.
Lula queixou-se no jantar que FHC deixou várias bombas de efeito retardado. Foi até de ingênua sinceridade ao declarar que na transição entre os dois governos tudo funcionou a contento, pois FHC queria e precisava segurar eventuais investigações sobre muitos dos seus atos, do contrário estaria ou preso, ou foragido.
A opção de Lula em buscar construir seu governo, o tal que vai mudar a história da humanidade, se fez equivocada desde o primeiro momento. O presidente resolveu viabilizar seu governo se sustentando nas alianças com pequenos partidos de centro e direita, com um partido que trata política como negócio, o PMDB, logo, nos caciques, coronéis e toda a sorte de políticos que, um dia, chamou de «300 pilantras».
Se há uma coisa que os tucanos não são é idiotas. Pelo contrário. Construíram a mais lucrativa máquina da política brasileira nos oito anos de FHC. Veja agora o caso de José Maluf Serra. O candidato a prefeito de São Paulo sabe que vai ser candidato ao governo do Estado em 2006 e já negocia com o PFL do Sul, o anti carlista, a troca do candidato a vice, para deixar, caso venha a ser eleito, um substituto que não seja problema.
O atual candidato a vice é quadrilheiro, já respondeu e responde por toda a sorte de trapaças na política e se virar prefeito, vai apoiar quem der mais. Serra gosta de pagar menos. Aliás, foi cobrado dia desses, no banheiro de um elegante restaurante de São Paulo, por dívidas na campanha presidencial. Os caras, publicitários, ficaram à porta esperando o tucano.
Lula, num dado momento, percebeu que o adversário real é FHC e que o ex-presidente está viabilizando sua volta ao governo. Aposta num fracasso do atual presidente, em ganhos nas eleições municipais, começa a perceber que as bombas que deixou surtem efeito e, candidamente, o homem que vai mudar a história da humanidade, confessou que apenas dispensou o chef de cuisine de FHC, pois custava muito caro, 13 mil por mês. O resto da turma só saiu quem quis.
Quer dizer, dormiu com o inimigo. Deu ao inimigo a lei do foro privilegiado num STF (Supremo Tribunal Federal), presidido por um ex-ministro da Justiça de FHC e que faz qualquer negócio, falo de Nelson Jobim.
Deixou de lado o movimento social e foi buscar apoio em políticos como Antônio Carlos Magalhães, José Sarney, o PMDB de Michel Temer (uma espécie de anti Ulisses Guimarães), arrasta asas para Paulo Serra Maluf em São Paulo, no afã de ganhar as eleições municipais, nomeia para a Agricultura um fundador da UDR (União Democrática Ruralista, versão atual das antigas Ligas Escravagistas, ou a Ku Klux Klan em versão tropical, enfim, entrou no jogo.
Lula, José Dirceu, José Genoíno, Aluísio Mercadante, Marta Favre, eles não acreditam que possa existir vida inteligente fora de São Paulo. Nessa visão estreita consideram uma eventual derrota de Marta a grande catástrofe e por aí que tentam abrir os olhos e buscam descobrir o resto do Brasil. O jantar na casa de José Dirceu reuniu os principais desafetos de FHC e Serra, ou seus representantes.
É um movimento tanto para desobstruir o caminho nos dois próximos anos, o ministro José Dirceu já disse que o governo tem 100 bilhões em caixa para gastar em obras, como para isolar os movimentos do ex-presidente em sua obsessiva obra política para voltar ao Planalto.
É por isso que o presidente da Câmara, João Paulo, pede a Lula para não se meter nas eleições municipais, pois, para o presidente e seu grupo perder em Recife, por exemplo, a derrota não vai atrapalhar em nada os projetos de reeleição. No máximo vão tentar manter Belo Horizonte e Porto Alegre, são consideradas vitrines do chamado modo petista de governar e partir para o vale tudo na campanha de Marta.
Quando a prefeita fala em crise caso Serra seja eleito, Dirceu fala a mesma coisa. Marta fala em ser amiga de Dirceu, de Palocci, encarece a necessidade de um prefeito afinado com o governo federal na hora de renegociar a dívida da Prefeitura e, no auge de uma entrevista, livra a cara de Erundina e Maluf como co-responsáveis por essa dívida, joga a culpa em Pitta, aquela história de chutar cachorro morto.
É um jogo perigoso. Complicado. Os desdobramentos do jantar virão na proposta que permite a reeleição dos presidentes das duas casas do Congresso. Roseana Sarney estava lá para ouvir e defender a lealdade do pai ao governo. Isso agrada ACM que é unha e carne com o senador.
Lula sinalizou com os tais 100 bilhões de dólares para gastar em obras e deixou claro, através de José Dirceu, que todos ali poderão vir a se beneficiar no caso de uma ampla aliança.
Mostrou, sem necessitar de uma única palavra, nem ele e nem Dirceu, que não confia no PMDB de Temer. O apetite do partido e do grupo por sinecuras é comparável à lealdade do PFL aos banqueiros.
O que se tentou alcançar no tal jantar foi para além de desobstruir a pauta do Congresso, votar as propostas do governo, sobretudo as PPP (Parcerias Público Privadas). O fim principal do ágape, camarão com molho de maracujá, um excelente vinho segundo declarações de ACM, foi a formação de uma frente anti FHC.
E pensar que FHC e seu bando poderiam estar por detrás das grades, ou foragidos. Bastaria que Lula abrisse as pastas dos processos de privatizações.
O que Lula fez e faz é procurar e quem procura acha.
Não estão em jogo nem as chances de reeleição, que são reais e bem mais prováveis que a volta do governo corrupto dos tucanos. Seria preciso uma tragédia para abalar os intentos de Lula.
Mas o preço pago pelas forças populares nos equívocos do presidente que diz que vai mudar a história da humanidade, esses são inestimáveis.
E nem se trata de comparação com o caráter do ex-presidente. Lula é um deslumbrado sem comando e ora empurrado por Palocci, ora por José Dirceu, sabotado pelo Banco Central (principal instrumento do sistema financeiro privado), mais enrolado em suas alianças, idas e vindas que qualquer rolo. Não mete a mão no bolso de ninguém e nem em dinheiro público.
Já FHC… Bom, o caso, em se tratando de tucanos, escapa à análise política, é de Polícia.