Lula e sua companhia de políticos trapalhões parecem não ter percebido o desenrolar da trama tucano/pefelista para a volta de FHC ao Planalto. Se perceberam não avaliaram corretamente, ou não deram importância e nesse caso, devem ter um trunfo às mãos para o momento decisivo. Imagino que um arcanjo. Decisivo, na cabeça de Lula e […]
Lula e sua companhia de políticos trapalhões parecem não ter percebido o desenrolar da trama tucano/pefelista para a volta de FHC ao Planalto. Se perceberam não avaliaram corretamente, ou não deram importância e nesse caso, devem ter um trunfo às mãos para o momento decisivo. Imagino que um arcanjo.
Decisivo, na cabeça de Lula e sua troupe, vai ser o ano de 2006. Mas que, em termos políticos, começa outubro de 2004, com as eleições municipais.
Eleições municipais não definem, necessariamente, eleições presidenciais. Permitem, no entanto, que os primeiros bastiões da campanha sejam conquistados.
A chamada base de apoio do governo petista está mais para salada de verão guardada fora da geladeira. Acaba provocando uma grande diarréia.
Para se ter uma idéia, Antério Mânica, o mandante do crime que resultou na morte de quatro fiscais do Ministério do Trabalho, é prefeito eleito pelo partido de FHC, contou com apoio explícito e público do vice-presidente José de Alencar e, lógico, do governador de São João Del Rei (por sinal mora no Rio de Janeiro), Aécio Neves, pretendente também ao Planalto.
O PMDB, um dos maiores partidos do País, outra salada mista e indigesta, com direito a todos os seus ingredientes, inclusive o «coroné» Itamar Franco, eleito operário padrão de 2004 pela dedicação com que se emprega ao trabalho na Embaixada do Brasil na Itália, ora apóia os candidatos de Lula, ora se torna desafeto, ora vota a favor, ora vota contra, dá a impressão de uma dessas pontes construídas por bêbados, como aquela do filme «O Incrível Exército Brancaleone», que profeta e discípulos ungidos pelo senhor tentam atravessar e despencam num despenhadeiro digno de um grande filme.
Em São Paulo, o partido ficou neutro no segundo turno. Boa parte de sua cúpula vota em José Serra.
Já em Porto Alegre, pelas mãos do governador Germano Righotto, que é do partido, marcha com a candidatura de José Fogaça, o adversário do petista Raul Pont e que, de repente, assusta. O argumento do ministro Tarso Genro, um dos artistas mais oferecidos da trupe, padrão papagaio de pirata, segundo o qual o PT paga o preço do desgaste de 16 anos de governo é ridículo. Pelas excelências que o partido apregoa e justiça seja feita, existem em Porto Alegre, deveria ser o contrário. Tarso quando foi prefeito é que começou a complicar algumas coisas, discrepou noutras tantas e largou o mandato pelo meio.
Na capital do Ceará, Fortaleza o comando da candidatura de Luiziane Lins, maldita pela direção nacional, avalia se quer ou não José Dirceu e José Genoíno na campanha, dois dos atores principais da companhia e que, no primeiro turno fizeram de tudo para afastar a moça, já que apoiavam o candidato do PC do B. Existe o medo que a dupla atrapalhe a candidata. Procedente, é claro. Justificado, é óbvio.
Nas duas principais capitais onde o PT disputa segundo turno, São Paulo e Porto Alegre, as características da disputa eleitoral são diferenciadas a começar pelos candidatos.
Marta paga preços altos por dois fatos. O primeiro deles sua separação, logo após ter sido eleita prefeita, em 2000, do senador Eduardo Suplicy. É um problema pessoal, não poderia interferir no voto, traz consigo a velha hipocrisia udeno/tucana que caracteriza a sociedade paulista (e outras), mas ficou cravada a imagem de mulher infiel, construída pelos meios de comunicação que, abertamente, sugeriam que o caso, depois casamento com Favre, começou antes da separação.
A Globo, num País que nascimento da filha de Xuxa vira manchete de primeira página com direito a transmissão ao vivo e Xuxa cogita de criar um museu para legar seu «trabalho» à posteridade, foi o principal agente dessa perversidade. Naquele tempo estava do lado de FHC/Serra. Hoje, está do lado de Lula/Marta.
A isso se soma a arrogância da prefeita. É indesmentível. Perua no melhor estilo Hebe Camargo. Hebe é a musa de Maluf.
Esses dois fatos dão a José Maluf Serra, um sujeito repulsivo em todos os sentidos, pela maneira torpe com que conduz sua campanha, pelo que representa, o neoliberalismo e sugerindo nas entrelinhas situações pessoais da candidata, um quê de «igualdade».
Serra consegue passar a imagem de sujeito bem humorado. De alguém sério, com programa e objetivos comuns ao cidadão, no esquema de candidato sabão em pó, vendido como imagem, só como imagem, que lava mais branco e tira manchas. Ele próprio sendo u’a mancha.
Questões administrativas como os contratos com empresas que cuidam do lixo de São Paulo lançaram nódoas não afastadas pela prefeita sobre seu governo.
O desgaste do governo Lula e do PT, derrotado nas principais cidades paulistas. É outro ponto. Como partido que acredita só existir São Paulo no universo político brasileiro, o presidente e o PT se mostram atordoados e não conseguem, ainda assim, enxergar Porto Alegre como a mais importante disputa desse segundo turno.
Pior, Lula continua acreditando em sua política econômica, acelerando o calendário de reformas definido pelo FMI, enfrentando agora turbulências como a primeira vítima de sua inconseqüência ao enviar tropas o Haiti (um soldado brasileiro foi ferido), sem nau e sem rumo, levando a sério a história de homem que vai mudar os destinos da humanidade.
Os altos preços do petróleo podem forçar o governo a aumentar o preço da gasolina antes do segundo turno e com isso sepultar boa parte das pretensões petistas para o dia trinta e um de outubro, principalmente Marta.
Dia desses um jornalista contou a história de um candidato a vereador que, derrotado, foi perguntado pelo filho sobre o que iria fazer. Antes que respondesse a mãe teria dito: «ele agora tem doze meses pagar». Plágio da história real, acontecida em 1966 na copa da Inglaterra, quando o Brasil foi eliminado na primeira fase e um torcedor perguntou ao jornalista Sandro Moreira o que fazer. A resposta foi aquela: «agora, você tem doze meses para pagar».
Lula vai ter os doze meses do ano de 2005 para tentar viabilizar sua reeleição e precisa trocar de astros, do contrário o teatro, onde quer que sejam apresentadas as peças vai ficar às moscas.
No caso de Marta só um milagre. Um desses fatos políticos de última hora. Do contrário Serra vai ser prefeito de São por um ano e meio até sair para disputar o governo do Estado.
Na luta travada por Raul Pont contra as forças mais obscuras e podres do País, representadas na candidatura de José Fogaça, a batalha não está perdida. Olívio Dutra, o oposto do oportunismo de Tarso Genro, afirma que sempre foi assim e que o partido deve ganhar. A fala do ex-governador não elimina os riscos.
A vitória de Luiziane, em Fortaleza, que tem fôlego para enfrentar Moroni Torgan, se acontecer, não será uma vitória do Planalto, pelo contrário. Mas do antigo PT, o que não existe mais, sucumbiu aos comediantes políticos que misturam água e óleo, Maluf e Marta. Que colocam um latifundiário no Ministério da Agricultura. Que seguem a cartilha do FMI. Garantem status de ministro a um banqueiro que preside o Banco Central pego com a boca na botija em ato de corrupção. Um monte de trapalhadas feitas de maneira irresponsável, incapazes de agüentar o vento tucano/udenista.
Noutras capitais onde o PT disputa as chances existem onde o PT tirou do baú sua história. Onde tem características do governo Lula, naufraga.
Lula é o maior equívoco das forças populares no Brasil. Não tem volta, pelo contrário, afunda-se, cada vez mais, nessa estranha mistura de messianismo político com deslumbramento pelo poder. Jogou por terra a oportunidade demudar as estruturas políticas, econômicas e sociais do Brasil quando optou pelo jogo institucional do é dando que se recebe, iniciado no governo Sarney.
Sem grandeza, não compreendeu a importância de sua vitória em 2002.
Frei Beto, assessor espiritual do grande guia, está na China falando sobre os prodígios do Fome Zero. Não sei se fala da derrota na cidade onde o programa foi implantado com banda de música, ministros, etc, etc. Lembra um político mineiro que mandava fazer no norte a propaganda do que não fez no sul e vice-versa. Assim ganhava eleições, ganhou muitas, até que fosse descoberto.
Um burocrata do PT, dentre os milhares de assessores dos artistas da trupe, o secretário nacional de combate ao racismo, detentor de meia dúzia de votos e derrotado em sua cidade na engenharia louca de alianças disparatadas, disse que estava indo para São Paulo ajudar na campanha de Marta.
Soa como cruz fincada no peito do vampiro. E olha que o vampiro é Serra. No espetáculo de trapalhadas do governo e do partido, estão errando o alvo. A impressão que fica é que estão convocando todos os extras para fazer figuração, um grande final, quem sabe dublê para carregar o caixão?
Mas é preciso treinar a turma. Mostrar que perua não é vampiro. Estão fincando a cruz no candidato errado.