Imagino que dentro em breve, como parte do governo que vai mudar a história da humanidade, Lula vai reintroduzir o ensino de Moral e Cívica em todos os níveis na educação brasileira. Já até vejo o ministro Tarso Genro, o da reforma universitária, em rede nacional falando de patriotismo. Já privatizar a Amazônia pode. Patriotismo, […]
Imagino que dentro em breve, como parte do governo que vai mudar a história da humanidade, Lula vai reintroduzir o ensino de Moral e Cívica em todos os níveis na educação brasileira. Já até vejo o ministro Tarso Genro, o da reforma universitária, em rede nacional falando de patriotismo.
Já privatizar a Amazônia pode.
Patriotismo, na versão diagnosticada pelo doutor Samuel Johnson, «patriotismo é o último refúgio dos canalhas», parece ser a nova onda neoliberal. Assola o Brasil de Lula, mas vem disseminando fanatismo pelo mundo a partir de Washington.
Um detalhe no documentário «A revolução não será televisionada» pode ser visto numa das manifestações da direita venezuelana. A bandeira dos Estados Unidos.
A «mundialização», como prefere dizer o presidente Hugo Chávez, cumprida a etapa «choque e terror», entra no orgulho e no ufanismo para que nada mude e tudo continue sendo desenhado pelo FMI. Políticas e economia.
Os meios de comunicação fazem a parte que lhes cabe.
O Sete de Setembro, data nacional do Brasil, tem nova direção. O marqueteiro Duda Mendonça foi designado por Lula para um objetivo: resgatar o que o presidente chama de auto estima do brasileiro.
É aquela história antiga de professores: «hei de vencer mesmo sendo professor». Continua sendo um desafio no País.
Lula falou hoje de «planos ousados para 2005». Faz parte do processo. É o ano que precede as eleições presidenciais. A essa altura do campeonato, feito o jogo das eleições municipais, o governo vai se adequando aos resultados esperados, ou delineados nas pesquisas e, desde já, procurando superar eventuais derrotas em cidades consideradas importantes.
Isso, em bom português, significa reforma ministerial no fim do ano, ou no início do outro. O próximo, 2005, tem um ingrediente a mais: eleições em todas as instâncias do PT. A esquerda que ainda resiste no partido sonha vencer a direita presidencial e resgatar Lula.
Vai acordar com um travo amargo na boca esmagada pelas tropas do ministro José Dirceu e com o dilema: ou fica e aceita a farsa de fingir que há disputa no governo, ou sai e vai buscar caminhos outros.
Samuel Johnson foi um pensador e deputado inglês. A frase que o tornou célebre, «o patriotismo é o último refúgio dos canalhas» foi pronunciada num discurso em que questionava decisões do governo de sua majestade. Escorado em mentiras tipo armas químicas e biológicas no Iraque, invocava as guerras coloniais para mostrar o valor dos britânicos e justificar o bom combate em nome da democracia e dos valores do império onde o sol não se punha nunca.
A melhor definição, curta e grossa, para o assunto.
Bush faz a mesma coisa. Olha extasiado para a bandeira de seu país, presta continência, manda jovens à morte em guerras terroristas para sustentar o lucro de empresas de petróleo e fabricantes de armas e ainda consegue passar a imagem de patriota e defensor do povo. É típico.
Trujillo tinha a mesma mania. Enchia o peito de medalhas que ele mesmo se outorgava, títulos de pai da pátria, generalíssimo (sem nunca ter participado de um combate), enquanto distribuía tortura, enchia as prisões, enriquecia com dinheiro público e entregava o país. Chegou a mudar o nome da capital, São Domingos, para Ciudad Trujillo.
Esse patriotismo acendrado ganhou novas formas com o passar dos tempos. Ditadores foram substituídos por presidentes eleitos que não mudam nada, a democracia burguesa assume sua face de farsa, brincadeira das elites para jogar o jogo com mais emoção, mas o patriotismo, nesses moldes, continua cada vez mais canalha.
O grande desafio das forças populares é o da comunicação. Quebrar esse poder fantástico que faz com que a pátria calce chuteiras em jogos da seleção de futebol e encare cada partida como prato de comida, sobrevivência nacional.
Nesse faz de contas que está mudando que é o governo Lula, no estilo que mistura Sarney e FHC, só estava faltando o patriotismo.
A propósito, Sarney tinha umas tiradas semelhantes em ridículo, às bobagens que Lula volta e meia todos os dias sai falando Brasil e mundo afora. De volta de Moscou, eram os tempos da perestroika, da glassnost, disse o seguinte: «É o Gorbachev lá e eu aqui, espalhando democracia».
Putin tratou de arrumar um cenário melodramático para encobrir a boçalidade da ação contra crianças e professores. E com cara de compungido que cumpriu o seu dever de estadista.
Cabem todos, pois são iguais em maior ou menor escala, no mesmo saco.