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Paulo Henrique Amorim e a resposta da Globo

Fuentes: Rebelión

Um diretor da Rede Globo respondeu a um artigo do jornalista Paulo Henrique Amorim, publicado num dos maiores sites do País, o UOL (Universo on Line) e que contou a história do chamado escândalo da Proconsult, empresa montada por setores da extrema-direita com dois objetivos: ganhar dinheiro e evitar a vitória de Leonel Brizola ao […]

Um diretor da Rede Globo respondeu a um artigo do jornalista Paulo Henrique Amorim, publicado num dos maiores sites do País, o UOL (Universo on Line) e que contou a história do chamado escândalo da Proconsult, empresa montada por setores da extrema-direita com dois objetivos: ganhar dinheiro e evitar a vitória de Leonel Brizola ao governo do Rio de Janeiro, em 1982.

Na prática o artigo resposta tenta explicar a participação da Globo no escândalo, ou eximir a empresa de qualquer responsabilidade na tentativa de fraude e investe contra Paulo Henrique Amorim fazendo alusão ao tempo em que trabalhou na empresa.

O fato de trabalhar ou deixar de trabalhar na Globo não transforma ninguém em crápula, santo, o que seja. Significa, em tese, apenas trabalhar na Globo.

Criticar a empresa, revelar mazelas, ou mostrar o verdadeiro caráter daquelas organizações, por outro lado, mostra coragem, destemor, na medida que fecha uma parte do mercado de trabalho, que mesmo com o estado pré-falimentar das empresas do grupo (está sendo sustentado com dinheiro público), é expressiva.

É difícil provar que a Globo esteve envolvida na tentativa de fraude contra Brizola. Pelo menos diretamente. E notem que falo provar.

Não é difícil, no entanto, imaginar ou supor, que essa participação tenha ocorrido.

O histórico da rede permite que essa suposição seja fundada em indícios.

A Globo foi montada com capitais do antigo grupo Time/Life. À época duas figuras nacionais investiram contra a participação do capital estrangeiro, dissimulado mas não tanto, em empresas de comunicação no Brasil. Falo do então deputado Leonel Brizola e do senador João Calmon, à época presidente do condomínio dos Diários Associados, o império de Assis Chateaubriand, já vivendo os momentos iniciais de seu fim.

A Globo, de saída, apostou num tipo de televisão vulgar, de fácil apelo ao público, como forma de ocupar espaços e a partir daí consolidar uma liderança que dura até hoje.

O nascimento da rede coincide com os primeiros passos das elites econômicas no mundo inteiro para criar o que hoje se chama de «liberdade de empresa», nunca liberdade de imprensa. São conceitos deliberadamente confundidos. Os grandes meios de comunicação vendem liberdade de empresa, embalada em liberdade de imprensa. Que não existe para além de veículos alternativos ou comunitários. O golpe militar de 1964 foi o grande achado da rede para crescer e se impor praticamente como porta voz da ditadura militar. Os jornais da Globo lembram os jornais soviéticos transmitindo as verdades oficiais. Não são diferentes hoje os jornais norte-americanos, no mundo totalitarizado que vivemos.

Os episódios em que a rede omitiu acontecimentos, fatos, de relevante expressão jornalística são incontáveis, mas dois deles bem marcantes entre nós.

O primeiro, a campanha pelas diretas em 1984. O País era governado pelo general João Batista Figueiredo, último ditador e, enquanto milhões de brasileiros iam às ruas pedir eleições diretas, a Globo produzia, através de seu principal veículo, o Jornal Nacional, o noticiário cosmético e otimista da ditadura.

O segundo, quando, diretamente, Roberto Marinho inventou Collor de Mello, um político ligado às oligarquias nordestinas, governador de Alagoas, corrupto, transformando-o em paladino da moralidade e do progresso, do bem estar, o caçador de marajás, que acabou presidente e acabou no que se viu: impedido, o primeiro na história, tamanho o desvario de seu governo/global.

Quando a CPI para apurar a bandidagem no Planalto foi instalada, a Globo não só não noticiou o fato, como foi escondendo tudo o que complicava a vida do então presidente Collor, inclusive as milhões de pessoas nas ruas pedindo a saída.

Foram momentos decisivos e que não podem ser apagados da história.

São reveladores incontestáveis do caráter e dos propósitos do grupo Globo.

Paulo Henrique Amorim é um jornalista competente, tem produzido trabalhos notáveis, exerce a profissão com coragem e apenas revelou o que qualquer brasileiro minimamente informado suspeita e com carradas de razões. O ano de 2002 marca mais uma história, no mínimo nebulosa, envolvendo a Globo.

A empresa Globopar, que se destinava à tevê à cabo, do grupo, estava tecnicamente falida. Era preciso injetar dinheiro para que o resto do grupo não se visse contaminado pelo processo ladeira abaixo.

Num primeiro momento a Rede Globo, tevê aberta, tornou-se direta e indiretamente a patrocinadora da candidatura de Roseana Sarney, então governadora do Maranhão, à presidência da República.

Em duas semanas de noticiário direto a governadora virou líder nas pesquisas, atropelou Lula, Serra, Ciro, todos e virou candidata do PFL. Uma graninha inclusive foi para a Rede, mostrando os paradisíacos lençóis maranhenses, numa novela de grande audiência.

Roseana foi aos píncaros.

FHC, o dono da candidatura de José Serra e o próprio candidato, montaram uma operação com a Polícia Federal e um escândalo destruiu a candidatura da governadora. A batida policial que revelou fatos irregulares em esquema de doações para campanha foi noticiada como furo pela Rede. Teve conhecimento prévio e num esquema também no mínimo complicado. Na semana seguinte o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico), sócio minoritário da Globopar, cinco por centro, compareceu a um aumento de capital com 250 milhões de dólares, para manter o mesmo percentual na composição acionária. A Microsoft, outra parceira, com igual parcela de participação, negou-se a entrar alegando que era fria.

Quase que concomitantemente o governo enviou ao Congresso o projeto de emenda constitucional que permitia a participação de capital estrangeiro nos meios de comunicação, fixando o teto máximo em 30% (Cisneros, o mafioso venezuelano já disse que isso dá para contornar e controlar o que for preciso).

A Globopar foi vendida para o grupo Murdoch, no passo seguinte.

Dá para engolir toda a «indignação» do diretor que respondeu a Paulo Henrique Amorim com fatos como esses e outros tantos?

Dá para não imaginar a Globo fora do esquema Proconsult?

Difícil, muito difícil.

A Globo faz parte do mundo idiota dos bíceps e das bundas. Aquele dos 15 minutos de fama, ou da «Sociedade dos Espetáculos», trabalho de Guy Debort, entre nós editado pela Contraponto.

Mostra que a comunicação é o mais poderoso instrumento das elites no processo de imbecilização das pessoas. O mundo do «povo marcado, povo feliz», como diz José Ramalho.

É só acompanhar como é tratado o governo Chávez, na Venezuela.

Quando um golpe derrubou o presidente, por horas, a rede por pouco não promoveu espetáculo de fogos de artifício. Miriam Leitão só não voou por impossibilidade. Continua a mesma de sempre, inclusive em relação ao governo Lula. Qualquer vaia a Lula aparece em outros veículos. Na Globo…

Vem disfarçado, só quando não tem jeito.