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Por quem os sinos tocam?

Fuentes: Rebelión

O momento histórico por que passamos, não é resultado de «desdobramentos estruturais lógicos» ou de interesses coletivos «articulados e planejados racionalmente». A derrota das utopias coletivas e socializantes limpou o terreno para o fulgurar de utopias de natureza oposta. Há 10 anos atrás ultraconservadores, neofascistas e privatistas  não poderiam sequer imaginar que a agenda global […]

O momento histórico por que passamos, não é resultado de «desdobramentos estruturais lógicos» ou de interesses coletivos «articulados e planejados racionalmente». A derrota das utopias coletivas e socializantes limpou o terreno para o fulgurar de utopias de natureza oposta. Há 10 anos atrás ultraconservadores, neofascistas e privatistas  não poderiam sequer imaginar que a agenda global seria hegemonizada pelo tema da segurança da civilização ocidental e  pela busca da estabilidade das regras favoráveis aos  setores oligopolistas. O mundo-shopping e o  mundo-corporação, ameaçados e cercados, reagem na forma de um Império globalizante, com um grau de controle sobre o território do planeta sem paralelo na história. E pensa que o «sonho» deles acabou? Jingle bells, jingle bells…

Na ausência  de qualquer horizontalidade a única forma de apelar para a primeira pessoa do plural é através da ameaça do extermínio. Só a morte pode unir o mundo da mercadoria. O terrorismo veio para institucionalizar a celebração cotidiana da morte. Não a morte-promessa, mas a promessa de mais morte. Capciosas fitas de áudio e vídeo são capazes de mover convulsivamente  o Império. Alertas amarelo, laranja e vermelho regulam a insegurança das pessoas e a segurança dos negócios.  Morder e assoprar. Síndrome do pânico e do consumo em espiral. Os comerciais das administradoras de cartão de crédito fazem a locução extra-oficial da chantagem. Consumam, pois estão protegidos. Consumam, antes que seja tarde! Jingle bells, jingle bells…

O Estado norte-americano valendo-se de seu papel de centro regulador dos fluxos econômicos globais e de superpotência militar exclusiva pretende  emprestar seu «corpo político» ao mundo do capital. No curso deste transbordamento institucional, o mercado de capitais norte-americano, a Casa Branca e suas interfaces , tornaram-se instâncias decisivas de disputa e de reposicionamento na geometria do poder global. O  «unipolarismo» não retrata um poder concentrado e muito menos constituído em um Estado-nação  «hipertrofiado». O aparelho governamental e administrativo norte-americano  despublicizou-se à medida que a república dos colonos livres tornava-se um Império de assalto. Hoje Império-plus porque vocaliza interesses de capitais transplantados ou em trânsito na economia norte-americana.  A coalizão anglo-americana em operação no Oriente Médio reflete sub-repticiamente  uma outra coalizão muito mais poderosa e abrangente. Para ingressar no clube dos lucros celestiais, exige-se conversão aos pressupostos cínicos da Doutrina Bush e respeito à hierarquia estabelecida pelas redes econômicas parceiras das intervenções unilaterais. A vertiginosa capitalização das principais empresas beneficiárias da ocupação do Iraque – Haliburton, Bechtel, Vinny, Shell, Chevron, BP, Lockheed  e City Group dão mostras cabais de como a globalização pode ainda dar certo. Jingle bells! É natal!

A guerra como mercado em si e a radicalização dos fundamentos do mercado através da guerra.  A precariedade das instituições multilaterais abriu caminho para a imposição da força e dos interesses econômicos imediatos. Os valores democráticos e equalizadores passaram a ser ter um valor cosmético, mesmo no marketing institucional da Coalizão. O «sistema multilateral» ao lidar de forma instrumental e ambígua com esses valores preparou o terreno para a construção da hegemonia dos cínicos e violentos.  A globalização com dentes  conclama uma governança que lhe faça jus.  Os acordos de proteção aos investimentos, de liberalização dos serviços e de monopolização da propriedade intelectual são exemplos típicos de acordos privados entre grandes investidores que procuram criar mercados regidos por normas auto-referentes. Então é natal! Jingle all the way!

ps. Como proporcionar escoras críveis a um capital trânsfuga e ensimesmado? Em outros termos, como  universalizar os interesses crescentemente particularísticos  dos conglomerados? Resgatando » valores e o modo de vida ocidentais». Recobrindo de culturalismo o extravasamento do econômico. Artifício derradeiro de um regime globalitário incapaz de reproduzir mediações políticas e sociais de natureza dialógica . As fronteiras do «ocidente», devem ser portanto as indefiníveis, para não dizer ilimitadas, fronteiras da mercadorização do mundo.  O Ocidente» é um capitalismo em crise estrutural, decrépito, senil e que por isso precisa de tal apelo ideológico.

* Luis Fernando Novoa Garzon é sociólogo e militante de movimentos sociais por uma outra globalização. [email protected]