Recomiendo:
0

Manifesto de indignação e resistência A eclesialidade das CEBs

Quem quer matar padre Afonso?

Fuentes: Comitê Popular de Lutas

Pretende-se repetir o que ocorreu há duas décadas, quando políticos, latifundiários e grileiros, assassinaram o Padre Ezequiel Ramin no município de Cacoal/RO, simplesmente porque defendia, como princípio: Posseiros, Índios e Camponeses pobres. Por pertencerem à classe dominante, os assassinos nunca foram identificados criminalmente. Mais uma vez prevaleceu a lógica da impunidade em Rondônia, sua marca […]

Pretende-se repetir o que ocorreu há duas décadas, quando políticos, latifundiários e grileiros, assassinaram o Padre Ezequiel Ramin no município de Cacoal/RO, simplesmente porque defendia, como princípio: Posseiros, Índios e Camponeses pobres. Por pertencerem à classe dominante, os assassinos nunca foram identificados criminalmente. Mais uma vez prevaleceu a lógica da impunidade em Rondônia, sua marca vem de longe! E assim se sucedeu com tantos outros Seringueiros, Castanheiros, Posseiros, Índios, Trabalhadores Sem Terra, … E o latifúndio foi demarcado e legalizado, e os latifundiários tornaram-se os mandatários do estado: governadores, prefeitos, deputados, senadores, vereadores, juízes, promotores, secretários e ministro. Tudo isto não foi suficiente – nem será – para que o povo pobre deste Estado se rendesse a essas quadrilhas, que atualmente encontram abrigo e conforto na conjuntura da governabilidade.

Padre Afonso, lutador da causa do povo, militante da justiça natural, discípulo dos propósitos de Ezequiel Ramin, doutrinário da opção preferencial pelos pobres, Pároco do município de Presidente Médice/RO, Coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Ji-Paraná/RO, é declarado como 1º de uma lista, marcado para morrer.

O ódio mortal contra o Padre Afonso ganhou impulso decisivo há dois anos, quando uma agente do PACs denunciou ao Comitê 9840 a suspeita de prática de crime eleitoral praticado pela candidatura do hoje deputado estadual Chico Paraíba, em atos de distribuição de cestas básicas. O Comitê 9840 – Escola Fé e Política, Comissão Justiça e Paz, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, SINTERO e Igreja Católica – pediu providencias ao Ministério Público, buscando uma posição sobre sua interpretação dos fatos. A promotoria encaminhou as informações para a Polícia Federal para que investigasse a suspeita de crime eleitoral. Essa denúncia provocou a ira do deputado Chico Paraíba, que processou, por danos morais, as lideranças que subscreveram o documento, pedindo R$ 70.000,00 pela reparação. Em 2003, por ocasião da publicação de denúncia pela revista Isto É sobre o crime organizado no Estado de Rondônia, na qual a revista aponta o deputado Chico Paraíba como um dos envolvidos. Padre Afonso, através de carta, parabenizou a revista pelo trabalho investigativo realizado e informou que o citado deputado Chico Paraíba também fora denunciado por suspeita de prática de crime eleitoral no estado. Este expediente fez com que o deputado Chico Paraíba ajuizasse uma ação contra o Padre pedindo R$ 30.000,00 por reparação de danos morais. A partir deste feito, iniciaram-se as ameaças de morte a Afonso. Foram dezenas de vezes, com voz de homem sem identificação, à noite (exceto em duas ocasiões), com mensagens semelhantes a «cuidado com o que você está fazendo, o seu quintal é grande, você vai ser o primeiro da lista, sua casa está caindo».

Ainda em 2003, como Coordenador da Comissão Justiça e Paz, Padre Afonso foi convidado para compor uma equipe a fim de apurar denúncias de torturas no presídio de Médice, onde foi constatado que havia prática de tortura e abuso de autoridade contra presos na delegacia do município. Por motivos ignorados, nenhum dos processos e denúncias citados tiveram decisões de méritos, porém, as ameaças ao Padre Afonso se intensificaram, obrigando-o a dar conhecimento a várias instituições públicas, parlamentares, e aos movimentos sociais sobre as ameaças.

Nós, organizações populares e lutadores do povo assumimos todo conteúdo imputado ao Padre Afonso e nos dispusemos a defender sua a integridade física e moral. Ainda declaramos que, qualquer agressão ao Padre ou a qualquer outro que defenda a emancipação popular, estará agredindo a todos de nós. Convocamos toda a população a repudiar e combater as práticas infames daqueles que saqueiam o nosso estado e escravizam o povo com a pobreza e miséria. Não dá pra ficar assistindo. É preciso reagir! Vamos construir nossa liberdade e justiça!!

Porto Velho, 10 de junho de 2004