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«Só deus sabe»

Fuentes: Rebelión

Lula cancelou um jantar com líderes da base de apoio do governo no Congresso por falta de clima. Aliados, dentre eles setores do PMDB, querem primeiro a liberação das emendas de deputados e senadores (verbas para redutos eleitorais). Só depois disso discutem a pauta, trancada por várias medidas provisórias que impedem a discussão de matérias […]

Lula cancelou um jantar com líderes da base de apoio do governo no Congresso por falta de clima. Aliados, dentre eles setores do PMDB, querem primeiro a liberação das emendas de deputados e senadores (verbas para redutos eleitorais). Só depois disso discutem a pauta, trancada por várias medidas provisórias que impedem a discussão de matérias consideradas importantes para o governo.

São muitos os aspectos que existem aí. O primeiro deles o fato do governo continuar a usar e abusar de medidas provisórias como instrumento de ação política, econômica e social. Prova do veneno que tanto criticou no governo FHC.

Outro, o imbróglio da sucessão nas duas casas do Congresso. Se aposta na emenda que permite a reeleição de Sarney e João Paulo, ou se deixa de lado o assunto e corre riscos. Só no PT existem mais de 10 postulantes à presidência da Câmara.

No âmbito do Palácio do Planalto se diz que Lula ora acha que a emenda é decisiva, ora acha que não. Para alguns, sem Sarney no Senado o governo fica à deriva em se tratando de Poder Legislativo.

E o mais importante dentre todos esses aspectos: Lula quis assim. Quem optou por esse caminho do «é dando que se recebe» foi o próprio presidente, entendido aí, como todo o seu esquema.

Quem resolveu jogar esse jogo foi Lula. Juntou na chamada base governista desde deputados da antiga base de FHC como agregou alguns, além dos noventa e poucos do seu partido e dos partidos naturalmente aliados.

Tem que descascar o abacaxi, ou fazer como naquele jogo de cubos. Você tem que alinhar todas as cores nas várias faces do dito cubo. E deixa estar que alinhar PTB, PMDB, PL, PP, um monte de nanicos, setores do tucanato, do próprio PFL (vai ter que arrumar um jeito de se reconciliar com ACM), é um exercício que até o diabo sentiria dificuldades.

Imagine pensar em espírito público, como gostam de dizer os parlamentares. Os caras estão lá querendo a grana das emendas pessoais apostas ao orçamento em execução esse ano, afinal, dentro de dois anos estarão enfrentando eleições. Cuidam da própria pele.

Lula, imagino, acreditou que pudesse engolir essa gente. Está sendo engolido e não tem a menor idéia do que fazer. A verdade é que, passadas as eleições municipais, o governo está se desmilinguindo e o presidente, tonto com algumas pancadas que andou tomando, sem bem saber que rumo seguir.

A continuidade da política econômica é um fato. O ministro da Indústria, Comércio e Desenvolvimento, oriundo do tucanato, Luís Fernando Furlan, falou a empresários que o risco Brasil, em 2006, vai estar em torno dos 200 pontos o que permitirá o crescimento econômico. Furlan defende o atacado da política econômica. É crítico dos juros, mas não discrepa quanto ao resto. Até porque, exportador em sua atividade empresarial, nada no crescimento das exportações brasileiras.

A política econômica e a política externa são as únicas que funcionam no governo. Quer dizer, que não mudam. No caso da política econômica vem sendo executada impiedosamente. O resto está sem comando.

Como o presidente e sua turma vão ordenar as peças do cubo para alinhar as cores não sei. Há um risco que foi comentado pelo governador de Minas, Aécio Neves, de olho na presidência em 2010: o da antecipação do processo sucessório.

As pesquisas dizem que Lula tem carisma e sua imagem está descolada do seu partido até um determinado ponto. Não é o suficiente. Se em dois anos jogou fora o capital político que amealhou ao longo de sua vida pública, não parece que será fácil recompô-lo na segunda metade do governo.

Reforma ministerial, novo diretor para o filme, Duda Mendonça saiu queimado da última campanha com o episódio da rinha de briga de galo, num primeiro momento parecem ser as primeiras providências. O resto…

Como diria Tancredo Neves se vivo fosse: «meu filho depois de tudo o que já vi, de tudo o que estou vendo, só Deus sabe. E nem tenho tanta certeza assim que Ele sabe».