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Sobre incompetência e amoralidade

Fuentes: Rebelión

Fernando Henrique Cardoso só não está preso ou foragido, como Menem, pela incompetência de Lula. O presidente, antes da posse, em dezembro de 2002, caiu no conto da lei do foro privilegiado. «Lulinha paz e amor», como disse o ministro Ciro Gomes num debate, ainda durante a campanha presidencial. Fascinado com os banheiros do Alvorada […]

Fernando Henrique Cardoso só não está preso ou foragido, como Menem, pela incompetência de Lula. O presidente, antes da posse, em dezembro de 2002, caiu no conto da lei do foro privilegiado.

«Lulinha paz e amor», como disse o ministro Ciro Gomes num debate, ainda durante a campanha presidencial. Fascinado com os banheiros do Alvorada ouviu de FHC que a lei seria uma garantia para evitar que «eu fique sob ameaça de prisão de um juiz comum».

Ele e a quadrilha tucana só operam na política brasileira porque Lula quis. Deixou. Bastava que se revelasse o inteiro teor do processo de privatizações para que o ex-presidente e seus ministros não tivessem como sair às ruas. O brasileiro veria como foi logrado e o que foi feito com seu dinheiro em oito anos de governadoria geral do FMI, dos bancos, das grandes corporações, tudo movido a propinas, gratificações, etc, etc.

É essa a diferença entre o brasileiro e o venezuelano Hugo Chávez. Quando assumiu a presidência de seu país, eleito pelo voto popular, Chávez foi claro: «como está não dá. Ou mudamos tudo e isso com uma nova constituição, ou não posso fazer nada, estou de mãos amarradas».

Como tudo em seu governo revolucionário, Chávez arrancou a Constituinte com um referendo. Confirmou a Constituição com outro referendo. Foi eleito segundo os termos da nova Constituição. Sobreviveu a um golpe de estado com o povo nas ruas defendendo o seu mandato. Ganhou um referendo com larga margem de votos e agora elegeu mais de 90% das prefeituras e governos estaduais de seu país.

O que restou à direita? Atentados terroristas como o que matou o fiscal Danilo Anderson e agora ameaça o vice-presidente e o procurador geral.

Lula não. Além de ter assinado em julho de 2002 o compromisso de cumprir todos os acordos fechados com o FMI para que o Brasil não quebrasse (FHC quebrou o País), Lula deu ao ex-presidente a imunidade com a lei do foro privilegiado.

Ou alguém acha que em caso de alguma denúncia contra ele o atual STF (Supremo Tribunal Federal) vai condená-lo? Nem que haja confissão.

Uma das mudanças fundamentais, sempre com aval popular, feitas por Chávez foi na corte suprema.

Não adianta o ministro da Fazenda, continuador da política de FHC, falar em falta de elegância, coisas assim. Tucano não conhece esse negócio. São amorais. Se mãe der lucro fatiam em ações e vendem na Bolsa.

O que fez Lula? O que faz Lula? Vai atrás de Michel Temer falando em maior participação do PMDB no governo. Negocia com setores malufistas, colloridos, a bancada ruralista, os fundamentalistas cristãos e fala em paciência.

Segue à risca a cartilha do FMI, cumpre todos os acordos assinados por FHC, garante o Estado para os bancos e corporações. Mantém um ministro tucano, Luís Fernando Furlan e um de extrema-direita, ligado à Monsanto, Roberto Rodrigues.

Paciência? Como? O PT é um saco de gatos onde o que se faz é disputa em torno de cargos, de privilégios. Quadros de importância e com história no partido são jogados às feras como se bandidos fossem.

FHC fez apenas o que sabe fazer. Ser cínico, amoral. Ganhou o que queria, a imunidade, ou impunidade. Lula se mostra mais uma vez um bocó se imaginou que o ex-presidente fosse proceder com lealdade. Tucano não sabe o que é isso.

Tancredo dizia que «esse Fernando Henrique é um cínico, um doido com sua falsa lucidez». Foi quando um grupo de áulicos do então senador foi atrás do presidente eleito pedir um Ministério para um «intelectual de porte que daria maior credibilidade ao governo». «Quem dá credibilidade ao meu governo sou eu», respondeu Tancredo.

Itamar Franco, o mais errático dos políticos brasileiros, pensa até hoje que foi presidente da República, foi quem ressuscitou o senador. O próprio já havia até admitido que seria candidato a deputado federal. Recebeu o troco quando quis ser candidato em 1998.

O jornalista e memorialista, notável, Fernando Moraes, conta uma história que dá bem a medida do caráter de FHC. Em 1986, candidato ao Senado pelo PMDB, apóia a candidatura de Ermírio Moraes, candidato ao governo do Estado de São Paulo pelo PTB, a despeito do candidato do seu partido ser Orestes Quércia.

Ermírio estava à frente nas pesquisas até uma semana antes das eleições, seguido por Maluf e Quércia em terceiro. Num debate na televisão Ermírio e Maluf se atracam, o debate é tirado do ar e Quércia, na volta, faz um discurso típico do político sabido.

Não quero isso, quero paz.

Sobe nas pesquisas cinco dias antes das eleições, ultrapassa Maluf e Ermírio e na antevéspera do pleito, que era a 15 de novembro, vai, às cinco da manhã, para a porta de uma das montadoras de veículos automotivos no Estado. Lá, num determinado momento, aparece FHC.

Fernando Moraes olha para Quércia e diz: «agora eu tenho certeza que você venceu, olha quem está chegando. Não aposta no escuro».

A incompetência de Lula é por aí. Está jogando fora o mandato que lhe foi conferido para mudar o Brasil. A elegância de FHC, Palocci reclamou da falta da dita cuja, está nos seus interesses. O princípio tucano é simples: o feio é perder. Ou seja: vale tudo. Só Lula não enxergou isso.